segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Budistas São Ateus?

 

   


     É muito comum ouvirmos pessoas afirmando que budistas são ateus, e isso acontece porque os budistas não possuem aquela concepção tradicional de um Deus Supremo e Criador. Ao invés de prestarem adoração a um Deus Onipotente (ou a vários deuses), eles focam nos ensinamentos do Buda (que para eles foi um ser humano comum, porém, muito iluminado, um verdadeiro guia e mestre espiritual), práticas de meditação e desenvolvimento pessoal também fazem parte de suas rotinas. A ênfase está na compreensão da natureza da mente, no alívio do sofrimento e na busca pela iluminação.

    O budismo vem de uma tradição onde a figura de Deus não está presente, ou seja, eles não têm a mesma concepção de Deus que nós temos, mas isso não significa que eles estejam negando a existência de Deus. Ateus, por outro lado, negam a existência de Deus, por isso a palavra "ateísmo" começa com a partícula de negação "a", seguida da palavra "Theos" (Deus). E apesar de os budistas não terem a mesma concepção de Deus que nós temos, eles têm sua própria concepção sobre divindades (o que os desqualifica como ateus). 

    No budismo, especialmente no Theravada, os deuses (ou deva) são vistos mais como seres que habitam reinos elevados, mas não são considerados criadores ou onipotentes. Eles têm um papel limitado e, assim como os humanos, estão sujeitos ao ciclo de nascimento e renascimento (samsara). Os budistas acreditam que esses seres podem ajudar ou proteger, mas a verdadeira salvação e iluminação dependem do próprio esforço.

    No budismo Mahayana, há uma ênfase maior em bodhisattvas, que são seres que buscam a iluminação não apenas para si mesmos, mas também para ajudar os outros. Alguns bodhisattvas são adorados e reverenciados, e suas figuras podem ser consideradas divinas em certo sentido.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Prova arqueológica de que homens e dinossauros foram contemporâneos

 


    Em julho de 2000, o arqueólogo amador Alvis Delk de Stephenville, Texas, fez uma descoberta espetacular: uma pegada fóssil. A pegada foi encontrada solta contra a margem do Rio Paluxy, a cerca de uma milha ao norte do Parque Estadual Dinosaur Valley, e agora está em exposição no Museu Creation Evidence, em Glen Rose, TX. Delk, que colecionava fósseis em sua sala há anos, encontrou a pegada enquanto virava a rocha e se deparou com uma trilha de dinossauros impressionante.

    No início de 2008, Delk sofreu um acidente grave ao cair de um telhado, resultando em danos que o obrigaram a passar meses hospitalizado. Mesmo com um perigoso coágulo de sangue no cérebro, ao retornar para casa, decidiu vender a faixa de dinossauros, imaginando que o Dr. Carl Baugh, do Museu Creation Evidence, pagaria apenas algumas centenas de dólares por ela. Durante a limpeza da rocha, fez uma descoberta surpreendente: uma pegada humana fóssil sob a argila seca.

    A pegada humana foi feita antes de um dinossauro pisar na lama, com o dedo médio do dinossauro sobrepondo-se à trilha humana. É possível observar a lama deslocada do dedo do dinossauro dentro da pegada humana, revelando detalhes fascinantes sobre a interação entre humanos e dinossauros no passado.

    Para analisar a pegada sem danificá-la, foram utilizadas TCs em espiral, que geram imagens do interior de um objeto a partir de uma extensa série de imagens de raio-X bidimensionais tiradas ao redor de um único eixo de rotação. Essa tecnologia permite uma análise detalhada das pegadas fósseis, revelando informações valiosas sobre a formação e composição das rochas sob as pegadas.

    A pergunta que não quer calar é: por que esse tipo de prova ainda é ignorada pela comunidade científica? 



sexta-feira, 12 de abril de 2024

Índios Brasileiros Conviveram com os Dinossauros?

 


     Será que os índios pré-históricos brasileiros chegaram a conviver com os dinossauros? Essa pergunta pode parecer estranha, visto que, de acordo com a cronologia apresentada pela ciência moderna, os dinossauros se extinguiram há cerca de 66 milhões de anos. Porém, novas descobertas arqueológicas parecem apontar em outra direção, sugerindo que esses índios tinham consciência sobre os dinossauros.


    Em um sítio arqueológico chamado Serrote do Letreiro, na Paraíba, foram encontradas pegadas de dinossauros ao lado de desenhos feitos em rocha. As pegadas são datadas do Período Cretáceo e pertencem a diferentes tipos de dinossauros.

    Os pesquisadores acreditam que os homens que fizeram os petróglifos habitaram a região entre 9.400 e 2.620 anos atrás. Apesar de não se poder afirmar com certeza que esses homens realmente conviveram com os dinossauros, essa descoberta é, no mínimo, interessante.

    Se quiser saber mais sobre petróglifos e outras evidências de que homens e dinossauros foram contemporâneos, sugiro a leitura do meu e-book "Eles Conviveram Conosco", disponível na Amazon através desse link: https://a.co/d/08J0zfE


segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Jesus veio cumprir ou abolir a Lei?

 



    Jesus realizou o cumprimento da Lei, pois as leis e profecias apontavam para a vinda e ministério do Messias, conhecido como Cristo. O Velho Testamento viu sua completa realização em Jesus, como declarado: "Em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido" (Mateus 5:18).

    A Lei desempenhou o papel de um "aio" (preceptor encarregado da educação), preparando os judeus para a chegada do Messias, como destacado em Gálatas 3:24. Contudo, uma vez que o propósito dela foi integralmente alcançado, tornou-se obsoleta, conforme exposto em Gálatas 3:25. Em resumo, Jesus não veio diretamente para abolir a Lei, mas sim para cumprir as profecias contidas nela e nos escritos dos profetas. Porém, ao alcançar esse propósito, efetivamente trouxe um fim à vigência da Lei, uma vez que seu objetivo tinha sido cumprido. 

domingo, 31 de dezembro de 2023

 

    


    Esta obra é dedicada a você, que nutre curiosidade em descobrir a verdade sobre a Igreja Católica. Não a "verdade" que os católicos proclamam sobre sua própria religião, mas a verdade que a história secular nos revela. Aqui, buscarei responder a perguntas como:

- Quando a Igreja Católica realmente teve origem?
- Pedro foi de fato o primeiro papa?
- Quando as esculturas passaram a integrar a liturgia católica?
- Maria permaneceu virgem após o nascimento de Jesus?
- Maria nasceu sem pecado?
- Maria foi arrebatada?
- Como foi a Inquisição?
- A Igreja realmente vendia indulgências?
- Quem é a Babilônia mencionada no livro de Apocalipse?
Este livro se torna leitura indispensável para todos aqueles que desejam compreender a verdadeira natureza da Igreja Católica.


Versão ebook: https://a.co/d/cJUdEQY

Versão impressa: https://loja.uiclap.com/titulo/ua45962/


quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Morre PC Siqueira

 



    O vlogger PC Siqueira tornou-se conhecido por sua postura enfática contra a religião, em particular o cristianismo. Um dos momentos mais absurdos de sua militância antirreligiosa ocorreu durante sua participação no programa "PC na TV" da MTV. Na ocasião, Siqueira exibiu imagens de uma igreja que havia sido alvo de pichações por ativistas anticristãos. Ao comentar sobre as imagens, ele encorajou seus espectadores a se envolverem em atos similares, incentivando o envio de fotos para exibição em seu programa de TV, destacando aquelas consideradas mais criativas. Ele ainda sugeriu um nome para o quadro: "Igreja pichada do dia"! 

"Eu honestamente achei fantástica essa manifestação. Todas as vezes que uma igreja for pichada com palavras de controvérsia, o PC na TV vai dar a notícia. Não que eu esteja incentivando, imagina, mas se vocês picharem uma igreja, mande a foto pra gente passar no programa". PC Siqueira durante o programa PC na TV.

    Em 2020, PC Siqueira foi acusado de pedofilia, e depois disso suas aparições na internet diminuíram drasticamente. Deprimido e viciado em drogas, viu seus amigos se afastarem depois dessa acusação. Uma conversa no Instagram mostrava o vlogger fazendo comentários de cunho sexual a respeito de uma criança de apenas 6 anos de idade. 

    O vlogger ateísta foi encontrado morto em seu apartamento nessa quarta-feira (27) vítima de suicídio. 

    O triste fim do ateu militante PC Siqueira nos alerta sobre as consequências de uma vida sem Deus, onde a moral passa a ser relativa e o vazio interior aumenta cada vez mais, numa vida sem propósito e sem sentido.  

    De acordo com uma pesquisa publicada no “The American Journal of Psychiatry”, pessoas religiosas cometem menos suicídios que pessoas céticas. A conclusão do estudo é que a afiliação religiosa está associada a um menor comportamento suicida em pacientes deprimidos internados. Após considerar outros fatores, observou-se que maiores objeções morais ao suicídio e níveis mais baixos de agressão em indivíduos religiosamente afiliados podem funcionar como fatores de proteção contra tentativas de suicídio. O estudo sugere que investigar mais a influência da afiliação religiosa no comportamento agressivo e como objeções morais podem reduzir a probabilidade de agir sobre pensamentos suicidas pode oferecer novas estratégias terapêuticas na prevenção do suicídio. Em resumo, a pesquisa aponta para a relevância de considerar a dimensão religiosa e moral no desenvolvimento de abordagens preventivas mais eficazes.

Link para o estudo: https://ajp.psychiatryonline.org/doi/pdf/10.1176/appi.ajp.161.12.2303



sábado, 2 de dezembro de 2023

A SENHORA APARECIDA Dr. Aníbal Pereira dos Reis (ebook completo)

 Nesse artigo você terá a oportunidade de ler na íntegra um dos melhores livros que conheço a respeito dos bastidores da igreja católica. Trata-se de uma leitura obrigatória para todo cristão sincero. 



A
SENHORA
APARECIDA

Dr. Aníbal Pereira dos Reis

(ex-padre)


Edições Cristãs

ÍNDICE

Prefácio

Devoto da Senhora Aparecida

Fui padre devoto da Senhora Aparecida

Nem a ganância, meta primordial dos clérigos

 “aparecídicos”, me abriu os olhos

A surpreendente revelação

A verdadeira história da Senhora Aparecida

A razão do novo surto do “aparecidismo”

A Santacap, “Capital Mariana” do país

A rosa de ouro

Os milagres de Aparecida

A imagem em pedaços e o benzimento de João Paulo II

.

oOo.


PREFÁCIO

No dia 24 de junho de 1967 apresentei este livro ao público

brasileiro com as seguintes palavras: “A passagem do 250º aniversário

da ‘Senhora Aparecida’ oferece ao clero romano uma outra oportunidade

para, neste ano de 1967, recrudescer a propaganda de sua seita neste

País infelicitado pelos seus embustes.

Proporciona-me, outrossim, o feliz ensejo de apresentar aos meus

patrícios o relato verdadeiro sobre a ‘aparição da santa’.

Sentir-me-ei recompensado pelo fato de poder contribuir assim com o

esforço do nosso povo no sentido de sua emancipação religiosa”.

Com efeito, cumulou-me Deus com muitas recompensas a autoria

destas páginas.

Reconheço-me compensado pelas inúmeras pessoas que, ao leremnas, se libertaram do embuste. Compensado pelas centenas e centenas

de almas que, libertas da aparecidolatria em resultado de sua leitura, se

renderam a Jesus Cristo e por Ele foram salvas. Compensado pelos

sofrimentos a mim impostos da parte dos interessados em usufruir as

rendas produzidas com a exploração da Senhora Aparecida, como

aconteceu a Paulo Apóstolo quando, em Éfeso, a Verdade do Evangelho

punha em perigo o lucro dos fabricantes de imagens da Senhora Diana

e os promotores da dianolatria.

O meu grande título de glória reside nesses sofrimentos. E a sofrer

mais me disponho conquanto isso resulte na promoção do Nome

Sacrossanto de Jesus Cristo e na salvação das almas.

Este livro, cuja 10ª edição agora sai a lume, todo refundido e

recheado de novos fatos, é de uma atualidade permanente porque o

aparecidismo prossegue em seu nefasto programa de iludir os ingênuos

e estimular a idolatria com a sua sequência de horrores.

O simples relato do episódio da “descoberta” da imagem e a exposição

de alguns dentre os muitos fatos vinculados à Aparecida são chocantes

em sua contundência.

Daí a oportunidade deste livro. Aliás, a Aparecida demonstra de

maneira gritante ser o catolicismo romano o mesmo de sempre. E

refratário a qualquer substancial transformação, apesar dos propalados

intentos renovadores do Concílio Ecumênico Vaticano II.

A Aparecida não se constitui em anomalia num organismo em

renovação. Aparecida, conforme demonstram o interesse da hierarquia

episcopal em seu favor, a construção da sua enorme Basílica e a

munificência pontifícia de Paulo VI ao lhe enviar, através de um cardeal,

seu legado “a latere”, a ROSA DE OURO, nas comemorações do jubileu

de 1967, Aparecida se integra soberana na estrutura do catolicismo

romano, que é sempre o mesmo na sua pertinácia antievangélica e

idólatra.

Atual e oportuno continua este livro. A sua 10ª edição prosseguirá

a tarefa de disseminá-lo Brasil afora. E Deus continuará a abençoá-lo

como instrumento da Sua misericórdia em benefício das almas para

libertá-las do pecado e da iniquidade da idolatria.

Dr. Aníbal Pereira dos Reis

(ex-padre)

Araçatuba, 26 de setembro de 1974


.oOo.

DEVOTO DA

SENHORA APARECIDA

No clima profundamente religioso da minha família, aprendi, desde

muito criança, a ser ardente devoto da Senhora Aparecida, padroeira do

Brasil, segundo pretende o clero.

Como bons católicos, enviaram-me meus pais, aos seis anos de

idade, ao catecismo paroquial na igreja matriz de São Joaquim da Barra

(Estado de São Paulo), minha terra natal. Lembro-me perfeitamente. Foi

no último domingo do mês de maio de 1931. Nossa aula de catecismo

terminara mais cedo, antes das 3 horas, por causa da procissão do

encerramento de maio, o “Mês de Nossa Senhora”...

Sob a celeuma da enorme azáfama ressoavam as naves do templo.

As “Filhas de Maria” davam os retoques finais nos andores. O de “São”

Benedito, todo de amarelo, deveria sair: “Onde já se viu procissão sem a

sua presença?”. O de “São” Sebastião, que só saía em sua festa, em

janeiro, neste ano desfilaria no encalço dos outros em cumprimento de

uma promessa de um dos Junqueira, família abastada da região. O da

“Imaculada Conceição” estava sendo ornamentado na casa de Dona

Sara, a presidente da Pia União das Filhas de Maria. Iríamos vê-lo na

procissão. Reinava irrequieta curiosidade na expectativa de uma grande

e agradável surpresa. A imagem precisava ser mesmo um

deslumbramento porque seria coroada ao final da procissão, sob a

chuva intensa de multicoloridos fogos de artifício.

Raríssimamente nosso vigário, o padre Eugênio, aparecia no

catecismo. Aos domingos à tarde, o seu grande compromisso se resumia

em, cervejando, jogar baralho no bar do Paulo Trombini, ao lado do

cinema local.

Naquele dia ele foi. Insofrido, depois de haver explicado que cada país,

cada estado, cada cidade tem um santo protetor, contou-nos que o papa

declarara “Nossa Senhora Aparecida” padroeira do Brasil. Elucidou,

ainda, que Maria “Santíssima” é uma só e que as diversas e muitas

denominações a ela atribuídas não supõem diversas “nossas senhoras”.

É uma só! Tendo, porém, se manifestado em Lourdes, é chamada

“Nossa Senhora de Lourdes”; tendo aparecido em Fátima, é dita “Nossa

Senhora de Fátima”, etc. Relatou-nos também como apareceu “Nossa

Senhora Aparecida” no Rio Paraíba. Explicou que o Rio Paraíba não

ficava no Estado desse nome, porém no Estado de São Paulo. Informounos ainda na sua pressa que no dia 31 daquele mesmo mês de maio, no

Rio de Janeiro, a então Capital da República, haveria uma grande festa,

com a presença de todos os bispos do País, para coroar rainha do Brasil

a “Senhora Aparecida”.

Lembro-me, outrossim, do meu encantamento quando na

procissão vi o andor dessa senhora, o mais lindo de todos. Todo

iluminado, ornamentado de lantejoulas e ladeado de duas bandeiras

brasileiras e rodeado de pajens trajados de veludo azul. E a imagem

sobre o globo terrestre onde apareciam os contornos do mapa de nossa

pátria.

No sermão o padre convidou os fiéis para assistirem à missa no dia

31 em regozijo pelas solenidades a se darem no Rio de Janeiro,

oportunidade em que, a propósito, contaria os fatos relacionados com a

aparição da “miraculosa santa”.

* * *

Com efeito, nesse dia, relatou:

“Certa ocasião, o Governador da Capitania de São Paulo, Conde de

Assumar, em viagem para Minas Gerais, pernoitou em Guaratinguetá,

no norte de nosso Estado. Então a Câmara local decidiu oferecer-lhe

um banquete com uma grande variedade de pratos à base de peixe. À

ordem dada pela Câmara, os três pescadores, Domingos Martins

Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, foram ao Rio Paraíba, em cuja

margem direita se localiza a cidade de Guaratinguetá. Principiaram as

suas tentativas de pesca no Porto de José Corrêa Leite, descendo até ao

Porto de Itaguassú, onde João Alves, ao lançar sua rede, colheu, entre

alguns peixes, o corpo de uma imagem, sem cabeça. E, ao repetir a

operação mais abaixo, estupefato, verificou, envolta nos fios da tarrafa,

a cabeça da estátua.

Os esforços, antes improfícuos, tornaram-se compensados com o

êxito da abundante pescaria. A cabeça ajustou-se exatamente ao corpo

da imagem e, maravilhados, os pescadores viram ambas as partes

colarem-se fixamente, apenas encostadas. Foram os dois primeiros

milagres da ‘Senhora Aparecida’ no Rio Paraíba, aos 13 de outubro de

1717”.

E prosseguiu o vigário no seu conto:

“Felipe Pedroso, piedosamente, levou o achado para a sua casa,

onde o conservou pelo espaço de seis anos. Muita gente da redondeza

ia, especialmente aos sábados, rezar diante do oratório. Muitos

‘milagres’ aconteciam e a devoção se divulgou.

Em 1743, construiu-se uma capela. Em 1846, iniciaram-se as

obras de construção de um templo mais vasto, concluídas em dezembro

de 1888 e permanecem na atual basílica”.

Findo o seu conto, o nosso vigário conclamou todos os fiéis

presentes a se prosternarem ajoelhados para, em uníssono, repetirem

uma reza à Senhora Aparecida coroada, naquela hora, lá no Rio de

Janeiro, padroeira e rainha do Brasil:

“Escolhendo por essencial padroeira e advogada da nossa Pátria,

nós queremos que ela seja inteiramente Vossa. Vossa sua natureza sem

par, Vossas as suas riquezas, Vossos os campos e as montanhas, os

vales e os rios. Vossa a sociedade, Vossos os lares e seus habitantes,

com seus corações e tudo o que eles têm e possuem; Vosso, enfim, é todo

o Brasil... Por Vossa intercessão, temos recebido todos os bens das mãos

de Deus e todos os bens esperamos ainda e sempre, por Vossa

intercessão...”

Demonstra essa fórmula, ainda outra vez, a abismal distância

entre o Evangelho e o catolicismo...

Durante os anos do meu curso primário, sempre assisti e participei

de comemorações de nossas datas nacionais, em cujos programas

sempre se acentuou a Aparecida. Para mim, ser devoto da Senhora

Aparecida era condição indispensável para ser bom brasileiro.

Concluído o curso ginasial, fui para Campinas (Estado de São

Paulo) estudar no Seminário Diocesano “Nossa Senhora Aparecida”,

onde não se ouvia um sermão sem que ela fosse mencionada. A

jaculatória: “Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós”, repetia-se ao final

de cada dezena do rosário desfiado na enfadonha repetição da “AveMaria” defronte do altar-mor da capela encimado com a sua imagem.

Aconteceu em setembro de 1942 o IV Congresso Eucarístico

Nacional, em São Paulo. A Senhora Aparecida foi intitulada “peregrina

do Congresso”. Programou-se o comparecimento da VERDADEIRA

IMAGEM. Então, certa noite, o diretor do Seminário foi à capela pedir

rezas para que ela ficasse em São Paulo também durante os dias do

Congresso.

E, depois de haver eu ouvido pela centésima vez o relato de sua

aparição, o padre, naquela oportunidade, com intuito de elucidar os

seus receios, destacou este pormenor:

“Depois de aparecida, os pescadores levaram a imagem para a casa

de um deles, Felipe Pedroso, onde ficou alguns anos. Numa manhã, a

família espantada deu pela falta da ‘santa’. Ansiosos, todos foram

procurá-la. Encontraram-na, depois de tanta angústia, no alto da

colina. Levaram-na, de novo, para o seu altarzinho antigo, na casa do

pescador. Poucas noites seguintes, repetiu-se o incidente. Desconfiaram

os devotos que a Senhora queria ficar numa igreja construída no alto do

morro.

Vieram as contribuições, a capelinha foi edificada e a imagem

entronizada em seu altar, donde saíra uma única vez, em maio de 1931,

quando fora levada ao Rio de Janeiro para ser coroada rainha e

padroeira do Brasil”.

A estória de imagens fujonas, por carência de imaginação da parte

do clero, se repete, como no caso da Penha, no Estado do Espírito Santo

e no Rio de Janeiro, e na do Rocio, no Paraná.

Pobreza idêntica ocorre na aparição de tantas “Senhoras” a

envolver, num fastidioso plágio, crianças subnutridas e anormais, como

em Lourdes, Salete e Fátima.

Receava-se agora, esclarecia o padre, que “Nossa Senhora”,

durante a noite voasse de São Paulo para a sua basílica em Aparecida

do Norte.

Pedia-nos rezas e mortificações para que a “santa peregrina” se

dignasse permanecer na Capital Paulista durante os dias do Congresso

Eucarístico. Fervoroso devoto, rezei muitos rosários e fiz muitos

“sacrifícios” nessa intenção.

A recepção da imagem aparecida constituiu-se numa das mais

pomposas festividades daquele Congresso, cuja imponência se constata

pelo milhão de pessoas a acompanhar a procissão do seu encerramento,

quando a população de São Paulo ainda se encontrava aquém daquela

quantidade de gente.

Conduzia-se processionalmente a estátua da “peregrina” todas as

noites, da catedral da Praça da Sé, onde fora entronizada, para o Vale

do Anhangabaú, com o fim de presidir as sessões solenes. Essas

procissões, sem terem sido incorporadas no programa oficial das

comemorações eucarísticas, se transformaram em alvoroçadas

apoteoses.

Retornava a imagem, em seguida, para receber as homenagens das

multidões a se revezarem dia e noite. O povo devoto permanecia ali aos

pés da “santa peregrina” no desígnio de venerá-la condignamente

porque – supunha-se – satisfeita, permaneceria em São Paulo até o fim

das solenidades.

A imagem ficou. Foi exaltada em extremo. O Congresso,

programado para ser eucarístico, acabou sendo “aparecídico”. Dom José

Gaspar de Afonseca e Silva, cognominado o arcebispo de “Nossa

Senhora Aparecida”, a confirmar o mérito desta alcunha, erigiu, na

Várzea do Ipiranga, uma nova paróquia dedicada a essa senhora.

Mas, qual não foi o nosso desapontamento ao sabermos do engodo.

A verdadeira imagem não viera a São Paulo! Recebêramos apenas um

fac-símile! Encerradas as festividades do Congresso, fora entregue à

recém-instalada paróquia! Alguns seminaristas se revoltaram e se

julgaram vítimas de um ludíbrio.

“Rezamos tanto diante daquela imagem, supondo-a

VERDADEIRA...”

Conformei-me por estar convicto de que o povo não merecia sua

“augusta” presença... E porque “as autoridades eclesiásticas agiram

com prudência”...

Afinal, todas essas circunstâncias suscitaram em minha alma um

afeto entranhado à padroeira do Brasil...


.oOo.

FUI UM PADRE DEVOTO

DA SENHORA APARECIDA

Ao ordenar-me padre, em 1949, senti-me no dever de ir à sua

basílica cantar uma missa, por sinal a segunda, porque cantara a

primeira em minha terra natal. Nesse desejo, adquiri uma sua imagem,

fac-símile, benta pelo padre superior do Convento, destinada por mim a

me servir de companhia e penhor constante das bênçãos celestiais em

favor do meu sacerdócio.

Entranhadamente devoto da Senhora Aparecida, oferecia, como

presente, uma sua imagem fac-símile, a todas as noivas por mim

abençoadas no casamento.

Completados dez anos de sacerdócio, recebi, como uma verdadeira

promoção, minha transferência para Guaratinguetá, a cidade mais

próxima de Aparecida. Localizada à margem direita do Rio Paraíba, no

Estado de São Paulo, Guaratinguetá dista, pela Via Dutra,

aproximadamente 220 quilômetros do Rio de Janeiro, 185 de São Paulo

e 8 de Aparecida.

Fui nomeado pároco da novel paróquia de “Nossa Senhora da

Glória”, no bairro do Pedregulho. Sua igreja que, de tão pequena, o povo

cognominara de “igrejinha”, não oferecia condições para, realmente, ser

uma matriz paroquial. Decidi, por isso, construir um vasto templo.

Constituía-se-me imensa prerrogativa edificar essa obra consagrada à

Virgem Maria, e sonhava com um templo majestoso erguido naquele

outeiro do Pedregulho a olhar a “Basílica Nacional da Padroeira”,

plantada na colina de Aparecida. Lá do alto da torre da minha matriz,

fiquei muitas vezes a contemplar a “Basílica da Rainha do Brasil”...

Eu odiava os evangélicos, aos quais chamava de hereges por

combaterem “Nossa Senhora”.

Nesse tempo, apareceu lá em Guaratinguetá, um pastor. No seu

desejo de esclarecer o povo, contratou, numa das emissoras

radiofônicas locais, um horário para um programa evangélico.

Muitos católicos se descontentaram com as suas explicações. Um meu

colega, o clérigo Oswaldo Bindão, no seu programa de rádio, decidiu

responder ao pastor.

Estabelecida a polêmica, a cidade inteira se transformou em

estádio para assistir a contenda. O coitado do padre pediu água em

menos de uma semana.

Evidentemente, qualquer jovem das nossas Escolas Bíblicas

Dominicais, com a Bíblia na mão, põe qualquer padre a correr.

Nós, os padres em Guaratinguetá, estávamos acuados, arrasados,

com o fracasso do colega! E na certeza absoluta de que, se qualquer um

de nós fosse responder ao pastor, cairia no mesmo ridículo. O pastor

João de Deus Soares prosseguia dando os seus esclarecimentos. Nessas

alturas, o assunto girava em torno de Maria, de cuja face o pregador

retirava toda a caiação ignóbil que à Mãe de Jesus impôs o catolicismo

ao logo dos tempos.

Naquela oportunidade, encerrara eu, com uma retumbante

procissão, as festividades da padroeira da minha paróquia. O pastor

evangélico botou água na fervura do meu entusiasmo, criticando o meu

desfile mariano e citando Isaías 45.20: “Congregai-vos e vinde;

chegai-vos todos juntos, vós que escapastes das nações; nada

sabem os que carregam o lenho das suas imagens de escultura e

fazem súplicas a um deus que não pode salvar”. Transtornei-me de

cólera!

Noutro dia, o pastor resolveu apresentar aos seus radio ouvintes os

pontos coincidentes entre a Diana dos efésios e a Aparecida dos

brasileiros, à luz do relato de Atos dos Apóstolos 19.23-41.

Nós não tínhamos a força de argumento. E o jeito foi apelar para o

argumento da força! E, se demorássemos, perderíamos muitos dos

nossos melhores fiéis...

A mentira, a calúnia, o achincalhe são os melhores argumentos

para os covardes sem argumento.

Incumbiram-me de resolver o problema. Apelei para a violência,

comandando um batalhão de fanáticos. E, em menos de uma hora,

num domingo à noite, foi destruído inteiramente o templo do pastor

João de Deus Soares, lotado de pessoas participantes do culto. A

Senhora Aparecida deve-me também este favor!

No dia imediato, no programa “Marreta na Bigorna”, da Rádio

Aparecida, o clérigo Galvão, desatou uma gargalhada satânica e

parabenizou os católicos de Guaratinguetá pela façanha...

O arcebispo de São Paulo congratulou-se vivamente comigo e,

horas após o nosso encontro, declarou, por um grande jornal de São

Paulo, que lamentava os fatos ocorridos em Guaratinguetá.

O clero católico é a hierarquia dos homens de duas caras!!! Dos

refolhados!!!

Estreitíssimas mais ainda se tornaram minhas relações com os

padres responsáveis pela Basílica de Aparecida, em cujo convento se

fabricava, exclusivamente para o consumo interno, cerveja mui

apreciada entre os reverendos.

No trato com os clérigos seculares, constatei a falta de amor

fraterno entre eles. Supunha, todavia, que houvesse entre os regulares

ou conventuais, como os franciscanos, jesuítas, dominicanos,

salesianos, redentoristas. Engano!

Entre estes últimos, que são os responsáveis pela Basílica e de

quem mais me aproximei, acontece a mesma carência, senão pior.

Lá dentro do seu convento, ao lado da “rainha” do Brasil, os padres

se estracinham com ódio extremado. Os apelidos são os mais

humilhantes. Havia lá o “padre Tortinho”, o “padre Marreta”, o “padre

Aventura”, o “padre Zoraide”, o “Madame Fifi”... E de cada um havia um

motivo especial indicado pelo próprio vocábulo...

.

oOo.

NEM A GANÂNCIA,

META PRIMORDIAL

DOS CLÉRIGOS

“APARECÍDICOS”,

ME ABRIU OS OLHOS...

Sentia, outrossim, a frieza espiritual naquele ambiente de clérigos,

profissionais da religião. Sempre os vi tratando das coisas de sua seita

com ganância sórdida. Só lhes interessava o que dá lucro.

A respeito de qualquer assunto, a pergunta é sempre a mesma:

“Quanto rende?” E vem acompanhada do sinal característico de se

friccionarem as pontas dos dedos polegar e indicador.

E fazem praça disso até na sua emissora. Certa feita, chegou uma

carta, perguntando sobre as riquezas da Senhora Aparecida.

Respondeu-a Victor Coelho de Almeida, no seu programa radiofônico:

“Sim, ‘Nossa Senhora’ é muito rica. Rica mesmo! Ela tem hotéis,

restaurantes, bares, casas de aluguel (muitas casas de aluguel!), kombi,

peruas, automóveis. Ela tem muito dinheiro... Dinheiro que os seus fiéis

mandam e trazem... Ela tem muitas joias, anéis, braceletes, colares. Ela

tem muito ouro e pedras preciosas. Até a princesa Isabel lhe deu

preciosas joias. Quem tem ouro e pedras preciosas, mande para ‘Nossa

Senhora’...”

A cupidez é tamanha que as suas lojas não respeitam sequer o

domingo. Se se cerrarem as suas portas, deixarão de ganhar no dia de

maior afluência de peregrinos aos padres e, a propósito, estão situadas

ao lado da Basílica e anexas à porta de entrada da emissora. Ao entrar

no templo, porém, depara-se com a proibição terminante de acender

velas. Apresenta-se-lhe, outrossim, a solução: deixar o brandão numa

caixa adrede colocada ao lado do altar da “padroeira”. O “pagador de

promessa” sai na doce ilusão de que o padre vai, em sala adequada,

queimar a sua vela em honra à santa. Engana-se, porque um dos

sacristães recolhe todas as velas ali depositadas, levando-as novamente

para a loja. E a vela do devoto caiu no círculo rendoso dos clérigos. Sai

da loja. Vai para a caixa da Basílica. Volta à loja. De novo, na Basílica...

E o dinheiro cresce na “caixa registradora”...

Tudo lá é comercializado! E os redentoristas não admitem

concorrência, nem por parte dos seus colegas de outras igrejas. Num

fim de ano, um sacerdote do Rio de Janeiro, com o objetivo de angariar

fundos para a construção de um templo, instalou, num terreno

alugado, um presépio mecanizado e movido a eletricidade, cobrando dos

interessados o ingresso ao local. Pois os padres da Basílica protestaram

e obrigaram ao coitado a arrumar “a trouxa e dar o fora”. Todo o mundo

só pode ver o presépio deles para lhes deixar o dinheiro. Em Aparecida,

arrecadação de esmolas é direito reservado... De todas as partes afluem

contribuições para seus cofres. Mas ninguém pode ir lá colher uma

migalha... A ganância atinge os paroxismos da usura!

Fui convidado para celebrar um casamento de pessoas amigas e

muito ricas. Por ser sábado à tarde, havia muitos outros. Os noivos,

meus amigos, pagaram todas as elevadas propinas estabelecidas pela

direção do santuário aparecidano. Na conformidade em que os noivos

adentravam no templo, ao som da “marcha nupcial”, um servente da

Basílica enrolava o grosso tapete de veludo grená. É que, logo atrás,

entrava um par de nubentes pobres. Não lhes permitiram as posses

pagar a taxa referente ao tapete e tiveram de passar, “sob os olhares

maternais da incomparável protetora dos brasileiros”, por essa

humilhação. O pior ainda aconteceu depois! Chegados junto dos

degraus do altar da Senhora Padroeira, foram embargados seus passos

pelo referido servente, que os encaminhou a um altar lateral. A noiva,

desconsolada, explicou ao sacerdote celebrante de suas núpcias que

viera do Paraná precisamente para casar-se no altar da “rainha” em

cumprimento de uma promessa. Inúteis seus rogos e vãs as suas

lágrimas... O padre, irritado, alegou que essa promessa não tinha valor

algum e “mastigou”, em cinco minutos, a fórmula ritual.

Tudo isso me indignava. Mas tudo isso consolidava ainda mais a

minha devoção à Senhora Aparecida. Compadecia-me dela por vê-la

cercada desse deboche e explorada por essa chusma de crápulas.

Um bispo do interior paulista tem carradas de razão ao afirmar que

a Aparecida é a vergonha do catolicismo no Brasil!

O Concílio Ecumênico Vaticano II, falido desse seu início, foi

incapaz de modificar essa situação sempre interessante para o clero

cúpido, em cujo peito, ao invés de coração, encontra-se instalado um

cofre.

O Ministro Mário Andreazza, dos Transportes, a convite, visitou

Aparecida, em 13 de julho de 1969. Cercaram-no de salamaleques os

clérigos chefiados pelo arcebispo aparecidólatra, o cardeal Carlos

Carmelo de Vasconcelos Motta, com a sua ladainha de reivindicações

em favor da construção da nova Basílica e de outras obras católicas.

Surpreendendo o cardeal e os seus sabujos, incontido e sem

subterfúgios, o Ministro demonstrou a sua desaprovação à

permanência, ao redor da Basílica, das “caixinhas” (pequenas bancas

onde são vendidos santinhos, imagens e outros apetrechos

aparecídicos).

Quase todos os dias frequentava eu a Basílica, onde permanecia

muito tempo rezando, de joelhos, o rosário diante da imagem.

Desde tenra infância, ansiei por certeza de minha salvação eterna.

Procurei-a em inúmeras devoções a mim sugeridas ou aconselhadas.

Busquei-a no exercício do ministério sacerdotal católico. Macerei-me,

chicoteei-me, jejuei... Vali-me da prática da caridade, criando e

dirigindo obras sociais. Tudo em vão... Em meu livro: “ESTE PADRE

ESCAPOU DAS GARRAS DO PAPA”, minha biografia, relato os

dolorosos lances do meu longo e dilacerante drama interior.

Tomei-me de esperanças quando cheguei a Guaratinguetá. Imensa

era minha expectativa de encontrar na Senhora Aparecida a bênção da

certeza da vida eterna.

Por isso, ia amiúde à igreja rezar longos rosários defronte da sua

imagem, no aguardo de uma resposta celestial...


.oOo.

A SURPREENDENTE

REVELAÇÃO

Numa tarde de quarta-feira, no começo do ano de 1961, em

seguida às funções rituais da “novena perpétua”, a que eu assistira, um

sacerdote (com um psiu!), tirou-me do meu recolhimento devoto.

Aproximei-me dele.

Perguntou-me à queima-roupa:

“O que você vem fazer aqui quase todos os dias?”

“Rezar à ‘Nossa Senhora Aparecida’”, respondi-lhe. E, ante o

sorriso gracejador do padre, esclareci: “Sou muito devoto de ‘Nossa

Rainha’ e espero dela todas as graças necessárias para a minha

salvação eterna...”

Não pude falar mais porque o padre me interceptou com

vivacidade:

“Você parece um beato vulgar. Que lhe poderá dar esta estátua de

barro? Ela não tem valor algum. Nós gostamos dela porque nos traz

muito dinheiro”.

E, levando as duas mãos aos bolsos, fez o gesto significativo de

quem carreia vultosas somas.

Pávido, arrisquei a pergunta:

“Mas... E os padres não crêem em ‘Nossa Senhora Aparecida’”?

Um retumbante NÃO abafou as últimas sílabas da minha

interrogação.

“Ela não vale nada, Tanto assim que, se cair do altar, ela se

quebra. É de barro!!!”

Saí da Basílica atordoado. Passei a noite seguinte em claro,

rememorando os fatos e tirando conclusões. Aterrorizado, sentia

esboroarem-se as restantes ilusões da minha vida religiosa.

Encorajado pelo propósito de servir a Deus desvencilhado de todos

os embustes, decidi levar até as consequências extremas a minha

investigação sobre o assunto.

Não me foi muito difícil. Aproveitei a franqueza daquele sacerdote e,

noutro dia, abordei-o novamente. Relatou-me ele os verdadeiros fatos

relacionados com a imagem da Senhora Aparecida. Relato este

confirmado ulteriormente por outros sacerdotes, seus confrades

conventuais.

Compadeço-me do brasileiro... Povo de excepcionais qualidades.

Inteligente e dotado de sentimentos primorosos. Capaz de heroísmos e

tão paciente... Haverá, porventura, povo mais paciente que o brasileiro?

Quanta esperança ele vem revelando em tanto sofrimento... Em tanta

exploração a que é submetido.

Muitas vezes ludibriado em sua boa fé. Porém sempre confiante. É

um crime de lesa-humanidade explorar-se esse povo. Por isso estou

revelando estas informações. Desejo ardentemente cooperar com esse

povo excepcional em sua libertação dos embusteiros. Eu sei

perfeitamente que recrudescerão as perseguições movidas pelo clero

contra mim. Mas vale a pena sofrer pela emancipação espiritual do

Brasil.

Ao preparar a nova edição deste livro, recordo-me das muitas

almas, anteriormente devotas sinceras da “padroeira do Brasil”, pela

instrumentalidade destas páginas, libertas da aparecidolatria e

convertidas a Jesus Cristo. Lembro-me, por exemplo, de Dona Glorinha,

residente no interior capixaba. Devotíssima da “incomparável Senhora”,

em romaria, visitava-lhe a imagem pelo menos uma vez cada ano.

Pessoa amiga oferecera-lhe um exemplar deste livro. A curiosidade

sobrepujara o seu propósito de recusar a sua leitura, pois temia ofender

a sua Senhora Aparecida. Guardá-lo-ia por alguns dias e o devolveria ao

proprietário, um crente fiel e ansioso por esclarecer os iludidos. Sua

curiosidade, porém, superou a força do seu propósito.

Lendo-o, revoltou-se contra o escritor, atirando-lhe, apesar de

distante, insultos pesadíssimos. Quis buscar alívio para os seus

remorsos por ter feito semelhante leitura. E foi a Aparecida confessar o

seu grande pecado (???).

O sacerdote confessor recriminou-a asperamente por haver lido o

livro do “padre excomungado”. E impôs-lhe, como penitência, a reza de

longas devoções diante do altar da “santa”.

Concluída a penitência imposta, saiu à compra de “lembranças”

destinadas a parentes, comadres e companheiras da Irmandade do

Sagrado Coração. Separara já medalhas, xícaras, copos, canecos,

pratos, quadros... Tudo com dísticos ou decalques da “senhora”.

Chegava ao fim a sua tarefa de selecionar as “lembranças”, quando

os seus olhos se esbugalharam numa coisa horrorosa. Esbugalharamse num pinico a exibir, colada no seu fundo, a estampa da

“incomparável Aparecida”.

Indignada, deixou todas as bugigangas sobre o balcão e o

comerciante falando sozinho.

Regressou à casa. Releu o livro. Procurou o seu proprietário.

Ouviu-lhe as explicações pormenorizadas sobre o plano de salvação do

pecador.

Rendeu-se. Renunciou à idolatria. Arrependeu-se. Converteu-se.

Aceitou pela fé Jesus Cristo como o seu ÚNICO e TODO-SUFICIENTE

SALVADOR. Crente consagrada, hoje conta a sua experiência de

conversão no intuito de levar a Verdade do Evangelho a tantos pobres

escravos da aparecidolatria.

* * *

Brasileiros, a Senhora Aparecida é uma falcatrua! É um conto do

vigário!

Você, que se supõe seu devoto, está sendo enganado! Você, que

tem em sua casa a sua imagem e lhe acende velas, está sendo

ludibriado! Você, que lhe manda esmolas, está sendo esbulhado! Você,

que vai em romarias à sua Basílica, está sendo ridicularizado!

Sim, senhores! Eu vi os padres zombarem e pilheriarem dos

romeiros... Vi-os praguejar os devotos romeiros que colocam no

“sagrado cofre” notas velhas e rotas a lhes exigirem consumo de

adesivos...

A um deles, um devoto perguntou:

“Seu vigário, por que a Senhora Aparecida é morena?” Eis a

resposta: “Porque ela é de barro!!!”

Pobre povo que confia numa protetora feita de barro...


.oOo.

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA

SENHORA APARECIDA

Vou relatar os fatos verídicos referentes à imagem dessa Senhora.

Localiza-se o início de sua estória no período da Civilização Brasileira.

Corriam muitas lendas sobre descobertas de jazidas riquíssimas de

ouro e outras preciosidades. O contágio do entusiasmo atingia as

vascas do fascínio. O povo paulista, sobretudo, ardia numa febre

desvairada provocada pelas lendas das esmeraldas, as valiosíssimas

pedras verdes, cujas montanhas se encravavam quais seios úberes em

plena selva.

Este sonho acutilante é que produziu as maiores epopeias das

nossas Bandeiras, uma das mais empolgantes páginas da HistóriaPátria. Se não descobriram as montanhas verdes das esmeraldas, os

bandeirantes plantaram cidades e dilataram o território nacional

apertado até então na faixa estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas,

imposto pelo papa Alexandre VI aos descobridores espanhóis e

portugueses.

Sim! Essas Entradas é que desbravaram o sertão, devassando e

conquistando, com sua audácia, o imenso território do Rio Grande do

Sul, de Santa Catarina, de Mato Grosso, do Paraná, de Goiás e de

grande parte de Minas Gerais porque a “bota de sete léguas” dos

bandeirantes chutou os limites de Tordesilhas...

A miragem das montanhas de pedras verdes ardeu, por décadas,

na mente de muitos brasileiros do Planalto de Piratininga. Fulgurou,

sobre tudo, no espírito do indômito Fernão Dias Paes Leme, o

bandeirante por antonomásia, cuja morte, em plena selva, transferiu

para Sebastião Raposo Tavares o fascínio de desvendar o segredo

daquela descoberta alucinante.

O fim desastrado da jornada de Raposo Tavares, em 1713,

entretanto, assinalou o último sonho das esmeraldas, que deixou, em

São Paulo, qual cicatriz, um profundo sentimento de frustração.

É de se notar que, à exceção de uma ou outra, todas as Bandeiras,

iniciaram sua jornada saindo do Planalto Piratiningano pelo Rio

Paraíba, em cujo vale deixavam, como rastro, uma enorme expectativa

na alma do povo.

Se as esmeraldas, porém, foram uma quimera não

transubstanciada em realidade, diferente resultado ocorreu com o ouro,

explorado em Minas Gerais, o causador do incêndio de irresistível

cobiça, origem de muitos crimes e inomináveis traições.

Naquela época em que o Brasil era Império de Portugal, não se

dividia ele em Províncias ou Estados como hoje. Repartia-se em

Capitanias, dirigida cada qual por um governador nomeado por El Rei

português e vindo diretamente de Além-Mar.

O Governador Dom Braz Baltazar da Silveira não mais conseguiu

pôr cobro às desordens reinantes na Capitania de São Paulo e Minas

Gerais, de sua jurisdição, nem reprimir o contrabando do ouro e, muito

menos, coletar os impostos estabelecidos pela Coroa Real.

El Rei Dom João V houve por bem, nessa conjuntura, chamar o

inábil Governador e substituí-lo. E, em junho de 1717, o Capitão Geral,

Dom Pedro de Almeida, Conde de Assumar, aportou no Rio de Janeiro,

donde, via Santos, se encaminhou, incontinenti, para São Paulo, aos 4

de setembro de 1717.

Num ambiente tranquilo e, ainda, oprimido pelas frustrações da

Bandeira de Raposo Tavares, o novo Governador, aos 4 de setembro de

1717, foi empossado no seu cargo.

Ao contrário de Piratininga, nas Minas Gerais, o clima era de

exaltação incendiada pela ganância de ouro, cuja mineração provocava

os mais pacatos.

Competia ao Governador recém empossado restabelecer a justiça,

recolher os impostos e exigir o retorno da ordem.

* * *

O Conde de Assumar toparia com uma barreira formidável a lhe

embargar a consumação dos seus propósitos.

É que os frades eram “dos elementos mais perniciosos entre os que

tinham entrado e continuavam a entrar com as avalanches, que

enchiam aqueles distritos, e não só porque se entregavam

desenfreadamente ao ganho como todo aquele mundo, mas ainda

porque, valendo-se do seu ascendente sobre o espírito da massa, eram

quase sempre os promotores de todas as desordens”.

Desgraçadamente os compêndios de História do Brasil adotados

por nossas escolas aureolam os padres e os frades do tempo da nossa

Civilização com as glórias de heróis. Os seus autores sabem que, se

disserem a verdade, os seus livros não terão guarida nos ginásios, em

grande parte, dirigidos, maquiavelicamente, por padres e freiras, ou que

deles recebem “orientação”.

Aquelas nossas informações, acima aspadas, são de Rocha Pombo,

registradas em sua História do Brasil (Rio de Janeiro – 1905, volume 6,

página 245), cuja PRIMEIRA EDIÇÃO deveria ser lida por todo

intelectual patrício.

Destaco em caixa alta a PRIMEIRA EDIÇÃO porque as

subsequentes foram criminosamente resumidas e mutiladas. Destas

podaram-se todos os informes sobre latrocínios, extorsões, atrocidades

e crimes cometidos pelos clérigos missionários.

A maioria dos brasileiros supõe que, naqueles tempos, Portugal

açambarcava todo o ouro bateado pelos lavangeiros ou garimpado nos

veios das rochas. Supõe, também, que, em tempos posteriores, a

Inglaterra usurpou-o das bruacas lusitanas. Verdade é que o Reino

estabelecia impostos, arrecadados pela quintagem, com o fim de

beneficiar o seu erário.

Os frades, contudo, não vieram para o Brasil com missão de

catequizar. O historiador Rocha Pombo, no passo já referido, informanos que o Conde de Assumar, dentre as questões a enfrentar, tinha de

se haver com a da “expulsão de todos os religiosos regulares que não

tivessem naquela Província do seu domínio uma função certa, própria

do seu apostolado”.

Tinham esses “religiosos” (frades cognominados pela legislação

romanista de “religiosos regulares”) outra incumbência bem diversa da

apregoada e que causou graves prejuízos ao Brasil. Vieram carrear o

ouro para o papa e para os seus conventos na Europa!

O ouro do Brasil, em grande parte, encontra-se ainda hoje em

poder do Vaticano, que o faz ocupar o segundo lugar no mercado desse

valor precioso, cujas reservas o papa deposita no Federal Reserve Bank,

em Washington. O papado não ocupa o primeiro lugar no mundo nesse

mercado porque preferiu trocar uma parte do seu ouro com outros

valores, como dólares, que atingem a cifra astronômica de 90 bilhões, e

em títulos de sociedades italianas avaliados em 9 trilhões de liras e de

sociedades de outros países cotados em 8 bilhões de libras esterlinas. E

essa riqueza fabulosa e atual do Vaticano o faz o maior acionário de

todo o mundo!

No livro “SERÁ QUE PODEMOS CONFIAR NOS PADRES?”, de

minha autoria, demonstro a incompetência intelectual e moral do clero

romano quando se põe a ditar normas no sentido das reformas das

nossas estruturas sócio-econômicas. Em seu último capítulo, intitulado

“O SUPER CAPITALISMO ECLESIÁSTICO É AMEAÇADO PELA

INSTABILIDADE POLÍTICO-SOCIAL DA ITÁLIA”, patenteio o horror dos

seus métodos de vampiro pantagruelicamente ganancioso e relaciono

algumas das suas fabulosas e atuais fontes de riqueza.

Enquanto os brasileiros lutam, desesperados, para escaparem

dessa situação de subdesenvolvimento estrangulante de nossas

riquezas, o Ali-Babá do Vaticano se enriquece cada vez mais à custa dos

investimentos do ouro e de outras riquezas levadas do Brasil pelos seus

clérigos.

Convencido da gravidade da situação em Minas Gerais e da sua

responsabilidade em recobrar a ordem, o Conde de Assumar decidiu

interferir pessoalmente.

Deixando como seu substituto em São Paulo o oficial de grande

patente Manuel Bueno da Fonseca, partiu, em fins do mesmo mês de

sua posse (setembro de 1717) com destino a Ribeirão do Carmo (hoje

Mariana), em Minas Gerais.

Naqueles tempos remotos, essa viagem só podia ser feita via Vale

do Paraíba (norte do Estado de São Paulo).

Guaratinguetá é uma das cidades desse Vale. Foi fundada à

margem direita do Rio Paraíba, em 1641, pelo Capitão-Mor Dionísio da

Costa, lugar-tenente donatário, e, por isso, gozava de grande prestígio

até os fins do regime das Capitanias.

O Conde de Assumar chegou, com sua comitiva, nessa cidade, aos

12 de outubro. Prontamente, as autoridades locais, solícitas em

aguardá-lo, promoveram-lhe toda sorte de homenagens e respeitos.

Por ser o catolicismo a religião oficial do Reino, o vigário destacavase nas cidades como a autoridade mais importante. O “batizado” pelo

padre equivalia ao registro civil. O casamento era só no religioso. Quem

não era católico, como um criminoso lesa-pátria, não podia casar-se e

nem registrar os filhos.

Esta posição do catolicismo outorgava aos vigários o ensejo de

serem ótimos arrecadadores de riquezas para o pontífice de Roma.

Em Guaratinguetá, encontrava-se, como vigário, o jovem padre José

Alves Vilela. Como todo clérigo, conhecia perfeitamente a arte de

bajular.

Pelo próprio fato de ser o catolicismo romano a religião oficial do

Reino de Portugal, a nomeação dos bispos dependia inteiramente da

indicação feita pelo Rei.

O padre Vilela sofria de “bispite” aguda. Do desejo desenfreado de

ser bispo! Percebeu na passagem do Conde de Assumar por sua

paróquia uma extraordinária oportunidade de, sabujando, credenciar-se

às boas graças do Governador, que o apontaria a El Rei como candidato

à mitra.

E mãos à obra! A par das demonstrações cívicas de respeito ao

Governador promovidas pela Câmara, o padre Alves Vilela, como

autoridade mais importante do lugar, programou festas religiosas de

grande aparato para impressionar o homenageado.

Desde sempre o clero gostou de se valer de seu ritualismo litúrgico

para engodar as autoridades civis com o objetivo de sugar-lhes

subvenções ou propiciar clima para se manter prestigiado. Num dos

nossos Estados, os bispos condenaram a candidatura de certo cidadão

à governança. Feridas as eleições e vitorioso o candidato anatematizado,

os “amantíssimos ordinários” promoveram-lhe demonstrações de “afeto

e deferência, culminando a sabujice, no dia de sua investidura, com

uma missa de “ação de graças” mui solene.

Note-se, a título de informação, que o termo canônico designativo

de bispo diocesano é “ordinário”.

Para se colocar bem diante do Conde Governador, preocupado e

zangado com os clérigos baderneiros de Minas Gerais, “promotores de

todas as desordens” (Rocha Pombo – loc. cit.), o padre Vilela tomou

atitude oposta à dos seus colegas. Reconheceu na sua subserviência ao

chefe da Capitania uma oportuníssima manobra para conquistar-lhe a

simpatia.

Entre o clero há traidores dos padres traidores! Enquanto os frades

de Minas traíam sua posição de aparentes catequistas, causando

baderna, o padre Vilela manifestava-se servil.

Nas águas turvas da situação de descrédito em que imergiam os

frades, o padre Vilela quis pescar um peixe gordo. O peixe de uma

posição perante o Governador favorabilíssima às suas pretensões

“bispais”. E, como o peixe se pega pela boca, alvitrou oferecer ao Conde

um opíparo banquete.

Mas um desses banquetes de assinalar marco na história da

culinária!

Notabilizara-se o Rio Paraíba pelas suas águas piscosas. Por isso, os

pratos em peixe distinguiam a cozinha valeparaibana. O banquete

oferecido pela comunidade guaratinguetaense ao ilustre viajante, na

programação estabelecida pelo incensador clérigo Vilela revelar-se-ia

por grande fartura de peixes nas mais diversas modalidades de

tempero.

O jovem e pretensioso vigário divisou no ambiente uma

circunstância especialíssima para ser aproveitada naquele

acontecimento. E decidiu capitalizar a seu favor a frustração do povo do

Vale pelos insucessos das últimas Bandeiras, cujas miragens de

esmeraldas se esboraram.

Decepcionado, todavia, não se descoroçoara o povo. Esperava

encontrar alguma coisa de notável.

Desde o princípio de seu paroquiato, travara Vilela conhecimento

com os pescadores de sua freguesia e da região. Deles, e somente deles,

é que esperava a mais decidida colaboração nas suas festividades

religiosas porque a pesca, naqueles tempos, acima mesmo da

agricultura incipiente, se estabelecia como a mais importante fonte de

riquezas do Norte da Capitania.

E, dentre os pescadores seus conhecidos, três se distinguiam pela

espontaneidade em auxiliar, pela singeleza de sua fé e, sobretudo, pelo

seu acatamento às solicitações do vigário. Domingos Martins Garcia,

João Alves e Felipe Pedroso, os seus nomes!

Procurou-os, então, o clérigo Vilela, incumbindo-lhes da pesca

para o banquete-homenagem.

Nem estranharam a dedicação e o interesse do seu vigário por

aquela pesca. Supunham-no desejoso realmente de exaltar, à vista do

Governador, as qualidades da cozinha da Vila, de lhe demonstrar

respeito e, certamente, creditar a região a favores futuros.

Admirados, contudo, receberam no dia do banquete (13 de outubro

de 1717), manhã cedo, as ordens do vigário no sentido de que

lançassem suas redes no Porto de Itaguassú, próximo do Morro dos

Coqueiros. Como ativos pescadores, sabiam que os peixes permanecem

mais nas partes calmas do rio e não é possível pesca alguma junto de

um porto, onde há tanta movimentação.

Toda aquela zona dispunha do Rio Paraíba como principal via de

comunicações e transporte. E, dentre os portos, o de Itaguassú se

notabilizara por servir vasta extensão.

Em vista de sua própria profissão, entenderam os pescadores a

ineficácia da ordem extravagante do vigário. Mas, ingênuos e

submissos, obedeceram.

Não lhes convinha desacatar o sacerdote ameaçador e capaz de

praguejá-los e amaldiçoá-los.

Lançaram a rede na convicção de nada apanhar. Surpresos,

porém, retiraram das águas uma imagenzinha de 0,40 metros de altura,

talhada, em terra cota escura, nos moldes da Madona de Murilo, que o

clero utiliza como símbolo da “IMACULADA CONCEIÇÃO” de Maria.

Decidiram guardar a imagem aparecida nas águas dentro do

embornal e prosseguir além sua tarefa.

Obtida a quantidade de pescado exigida pelo clérigo anfitrião,

foram à sua residência fazer-lhe a entrega.

E, jubilosos, na sua crença ingênua, mostraram ao padre,

misturado na comitiva do Governador, a imagem aparecida.

Enternecido o vigário pelo sucesso do seu empreendimento, pois

ninguém soubera e nem desconfiara da sua ida durante a madrugada

ao Porto de Itaguassú para deixar nas águas aquela imagem, despejava

suas expressões religiosas e deslambidas acentuando o “fator milagre”

daquela descoberta.

Todo o povo daquela região presente em Guaratinguetá para

receber o Governador Conde de Assumar, ludibriado em sua

credulidade, exultou o “milagre” sucedido, vinculando-o à santidade do

seu vigário e divulgou a notícia à distância.

“Arre! Se falharam as aventuras em busca de esmeraldas, o

‘milagre’ interveio para dar ao povo desiludido uma preciosidade muito

maior!!!”, parafusava o padre que, de propósito, havia colocado a

imagem nas águas do Porto de Itaguassú.

Na intenção de valorizar o enredo do seu estratagema religioso,

achou melhor entregar a estátua a um dos pescadores, Felipe Pedroso,

residente no sopé do Morro dos Coqueiros.

Retirando-se o Conde de Assumar no seguimento de sua viagem,

os fiéis, em procissão, acompanharam o felizardo pescador que,

piedosamente, colocou, sob a emoção das circunstâncias, a imagem

colorida entre os “santos” do seu tosco oratório.

Inglórios os esforços do vigário Vilela junto ao Governador! Tão

assoberbado de problemas em sua curta estada no Brasil à testa da

Capitania de São Paulo, não teve sequer a lembrança de sugerir a El Rei

o nome do pároco de Guaratinguetá como candidato a bispo de alguma

diocese do Reino.

Não se desesperançou o padre. Decidiu incentivar a devoção da

senhora aparecida, promovendo atos religiosos na casa de Felipe

Pedroso. Quem sabe se o seu nome assim ligado à estatua aparecida

“milagrosamente” se encheria de fama e repercutiria nos ouvidos do

superstiocíssimo El Rei Dom João V, que ouvia missas sobre missas,

distribuía dinheiro a rodo a quantos santos figuravam no calendário,

enchia de ouro os conventos e, enlevado por violenta paixão à sua

amante, a freira Paula, do Convento de Odivelas, alcançou do papa o

título de Rei Fidelíssimo.

As esmolas lançadas, em grande cópia, no oratório da “santa”

permitiram ao vigário sonhador da mitra episcopal repartir com o

devoto Felipe Pedroso, que pôde obter numerário para comprar uma

pequena fazenda e construir casa nova em Ponte Alta, também nas

proximidades do Porto de Itaguassú, onde entronizou, em oratório novo,

a imagem de terra cota aparecida.

A devoção mais importante e mais concorrida nesse local acontecia

aos sábados à noite.

Sucedeu Felipe Pedroso, após a morte, na incumbência religiosa, o

seu filho Atanásio. Um pouco arredio a essas beatices, este herdeiro

achou melhor construir fora de casa uma capelinha para se ver livre

das importunações dos devotos e transferiu a Silvana da Rocha o mister

de puxar as rezas e os cânticos.

Primava a rezadeira-mor Silvana em dirigir o rosário dos sábados,

incrementando a afluência dos humildes com animados bailes regados

a pinga após a reza, na intenção de alegrar os devotos caboclos

desprovidos de outros divertimentos.

Os anos se passaram e o nome do padre Alves Vilela, sem ser

sugerido nas eleições dos bispos!

Em 1742, Dom João V foi acometido de uma paralisia que o

imobilizou para sempre, apesar de suas treze jornadas às Caldas da

Rainha (nas proximidades de Leiria, que atrai ainda muitas pessoas por

ser uma das mais importantes estações termais de Portugal), escoltado

por um exército de freiras e padres interesseiros.

O vigário de Guaratinguetá, agora já encanecido, porém

esperançoso, mantinha-se ao par de todas as notícias vindas de Além

Atlântico.

Conhecedor da carolice de El Rei e de sua magnanimidade em

proveito dos clérigos, urdiu outra investida com objetivo de atrair as

atenções “majestáticas” sobre si.

Certo sábado, em 1743, quando os devotos chegaram à capela,

surpresos, deram pela falta da santa aparecida. Atônitos ficaram

quando Silvana da Rocha desconhecia também o seu paradeiro, mesmo

depois de se informar com Atanásio. Desesperados, correram falar com

o vigário, que se fingiu surpreendido. Aconselhou-os, porém, a que

dessem uma batida nas redondezas e que não se esquecessem de ir até

o alto do Morro dos Coqueiros. Dóceis à orientação do padre,

vasculharam todos os recantos e, por fim, subiram os rapazes ao Morro,

onde, para alívio geral, encontraram a imagem encostada em uma

pedra.

Nessa noite, o rosário foi rezado com mais fervor, os hinos mais

vibrantes e o baile mais animado com cachaça abundantemente

distribuída na algazarra do reencontro da Senhora Aparecida.

Noutros sábados, o fato misterioso se repetiu sem que os pobres

devotos percebessem a mão do vigário atrás de tudo.

O padre Vilela, ao sentir-se seguro do êxito de seu plano, num

sábado, foi até Ponte Alta puxar ele a reza. Desta feita, ainda outra vez,

a busca da imagem fugidiça precedeu o ato religioso, porque o padre

ainda outra vez retirara-a às ocultas e levara-a ao Morro. Então, na

qualidade de vigário e ministro de Deus, aconselhou o povo devoto que

se construísse no alto do Morro dos Coqueiros um templo para a

“santa”.

“Nossa Senhora”, afirmava ele, “quer que se construa uma capela

lá no alto do Morro”.

De imediato, foram abundantes os donativos. Todos queriam

concorrer a fim de contentar os desejos da “santa” aparecida, no sentido

de que lhe erigissem um templo no cume do Morro dos Coqueiros,

conforme havia interpretado o vigário aquelas fugas constantes.

Em cumprimento de exigências eclesiásticas, o padre José Alves

Vilela valeu-se do Bispado do Rio de Janeiro, a cuja jurisdição canônica

se submetia para requerer a devida licença a fim de edificar o templo.

Recorde-se que o Bispado de São Paulo, a cuja jurisdição eclesiástica,

posteriormente, pertenceram Aparecida e Guaratinguetá, somente foi

criado em 1745.

Na esperança de divulgar nas altas rodas clericais o valor

sobrenatural da “santa” aparecida, o que lhe poderia render prestígio

junto a El Rei, salientou em seu requerimento: “... que pelos muitos

milagres que tem feito a dita Senhora, a todos aqueles moradores,

desejam erigir uma capela com o título da mesma Senhora da Conceição

Aparecida, no distrito da dita freguesia em lugar decente e público por

concorrerem muitos romeiros a visitar a dita Senhora que se acha até

agora em lugar pouco decente...”

A provisão de licença foi passada na chancelaria do Bispado do Rio

de Janeiro, em 5 de maio de 1743. E tudo se tornou mais fácil,

porquanto, Dona Margarida Nunes Rangel, proprietária do Morro dos

Coqueiros, houve por magnanimidade fazer a doação de toda a colina.

Afluíram donativos abundantes e, a 26 de julho de 1745, o padre

Vilela benzeu o templo e rezou nele a primeira missa, suspirando para

que El Rei, o beato sonso Dom João V, se lembrasse dele nas escolhas

dos bispos.

Já alquebrado pela idade avançada, morreu, como simples vigário

de Guaratinguetá, o padre ambicioso e a Aparecida caiu na vala comum

das pequenas capelas do interior brasileiro.


.oOo.

A RAZÃO DO NOVO SURTO

DO “APARECIDISMO”

Em fins do século passado, Aparecida foi tirada da sua

insignificância, onde permanecera por mais de cem anos após a morte

de seu criador, o vigário José Alves Vilela.

Em 8 de dezembro de 1888, o bispo de São Paulo, Dom Lino

Deodato de Carvalho, benzeu um novo templo construído em

substituição ao anterior erigido pelo sacerdote inventor da “santa”, e

resolveu entregá-lo à administração de alguma ordem ou congregação

religiosa.

A congregação dos padres redentoristas gozava, na época, de

grande nomeada nos círculos romanistas, pois o seu fundador, o

italiano Afonso de Liguori, além de ser canonizado santo, em 1839,

havia sido, em 1871, proclamado pelo papa Pio IX “doutor da Igreja”.

Dentre as suas diversas obras literárias, destacam-se a “Teologia Moral”

e as “Instruções e Método para os Confessores”, pelo seu conteúdo

referto de normas utilizáveis com grande resultado no confessionário, o

instrumento infernal da escravização das consciências.

Por causa da “importância” de Liguori, cresceu a influência de sua

ordem religiosa e também, em razão de sua finalidade, que consiste em

se disporem os padres, seus membros, a pregar missões populares.

Distinguem-se estas por uma série de pregações retumbantes e

fantasmagóricas como arremates de procissões imbecilizadoras.

Liguori estabeleceu a sua congregação para a Itália Meridional do

seu tempo, com uma população rural ignorante e de sangue quente.

Referindo-se a estes italianos, o clérigo redentorista Hitz observa:

“Gostam das manifestações fortes... São superficiais, levianos,

desmazelados, supersticiosos e apegam-se, sobretudo, às práticas

exteriores da religião” (Hitz – “A pregação missionária do Evangelho”,

Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1962, página 181). Foi para

conservar esse povo agrilhoado às superstições romanistas, assim

considerado pelos seus líderes religiosos, que Liguori determinou, com

minúcias, os temas e os esquemas dos sermões das “santas missões” a

serem pregadas por seus padres. No plano do fundador dos padres

redentoristas, os fiéis devem, ao final desse trabalho, ser encaminhados

ao confessionário para que se consume o seu cativeiro espiritual.

As “santas missões” dos redentoristas fundam-se num moralismo

antropocêntrico, infinitamente distante do Evangelho. Aliás, servem

bem ao romanismo, cujo ritual coloca o endeusamento da criatura

acima de tudo.

O bispo de São Paulo, Dom Lino Deodato de Carvalho, julgou os

brasileiros semelhantes aos depreciados italianos meridionais por

estarem também os nossos patrícios, seus contemporâneos,

encharcados das superstições católicas. E entregou o templo da

Senhora Aparecida à direção dos padres redentoristas em fins de 1894.

Esses padres, incontinenti, começaram suas incursões

fanatizadoras pelo interior dos Estados de São Paulo, Minas Gerais,

Paraná e Rio de Janeiro, por meio das missões populares, quando

divulgaram profusamente as lendas referentes à Senhora Aparecida. O

nosso povo, humilde e distante das fontes puras da Bíblia, aceitou,

ingenuamente e sem qualquer exame, essa fábula que também eu em

criança ouvi.

Pelo confessionário, os redentoristas impunham aos fiéis,

narcotizados com as suas mentiras e modelados aos seus caprichos,

penitências de rezar fórmulas especiais à Aparecida e de ir ao seu

santuário em romarias.

O povo, desprovido de recursos essenciais a uma subsistência

condigna e imerso nas trevas do analfabetismo, é sempre presa fácil dos

embusteiros, máxime quando se apresentam revestidos de roupagens

exóticas e com a voz repassada de acentos ameaçadores.

Os pregoeiros do “aparecidismo” espalharam entre o nosso pobre e

abandonado povo, no intuito de fanatizá-lo e escravizá-lo mais, aquela

deslambida “Oração a Nossa Senhora Aparecida para pedir sua

proteção”, que assim começa: “Oh! Incomparável Senhora da Conceição,

Mãe de Deus, rainha dos anjos, advogada dos pecadores,...” Em seguida

a esta relação de tantas heresias, o povo brasileiro suplica-lhe que o

livre da “peste, fome, guerra, trovões, raios, tempestades e outros

perigos e males que nos possam flagelar”.

Aconselhado pelo missionário, o simplório cola o papel dessa reza

atrás das portas da sua casa e se supõe imunizado, protegido e livre de

todas as suas desgraças.

Quando eu era pároco em Guaratinguetá, num domingo, fui rezar

missa numa capela da zona rural. Desabara durante a noite precedente

um horrendo temporal. E a notícia lúgubre enchia de tristeza todos os

moradores da região! Um raio penetrara numa choça e fulminara todos

os seus moradores. Encaminhei-me para lá. Entrei no casebre. Olhos

esgazeados de pavor, encontrei três corpos esturricados no chão. E

atrás das portas toscas a protetora reza da “incomparável”...

As primeiras “santas missões” populares produziram os frutos

esperados. Já em 1900 começaram as romarias. O novo bispo de São

Paulo, Dom Antonio Cândido de Alvarenga, continuou o interesse do

seu antecessor, Dom Lino, pela Aparecida, pois previa os resultados

financeiros com o comércio da credulidade das massas. Em

consequência, não só incentivou os vigários das paróquias a

promoverem romarias, mas ele pessoalmente organizou uma.

A comercialização e a traficância da devoção à Senhora Aparecida

tornaram-se rendosas, além de todas as estimativas, e o bispo de São

Paulo não admitiu se tornasse ela paróquia da Diocese de Taubaté.

Com efeito, em julho de 1908, o papa Pio X desmembrou da

Diocese de São Paulo, que abrangia todo o território do Estado, as

dioceses de Botucatu, Campinas, São Carlos, Ribeirão Preto e Taubaté.

Esta incluía todo o Norte do Estado de São Paulo, desde o município de

Jacareí, inclusive, até o limite do Estado Fluminense, à exceção de

Aparecida que, apesar de encravada bem no centro do bispado de

Taubaté, continuava pertencendo à jurisdição eclesiástica do arcebispo

de São Paulo.

Ocorreu esta anomalia escandalosa como resultado da ganância do

arcebispo, ávido de se locupletar com as fortunas continuamente

depositadas nos cofres da Senhora Aparecida.

Em 1931, conforme já referimos, vieram sua proclamação e

coroação como padroeira e rainha do Brasil, em execução de uma

astúcia política.

Antes, o padroeiro do Brasil era “São” Pedro de Alcântara que, por

haver sido membro de ilustre e principesca família espanhola durante o

domínio da Espanha sobre o Reino de Portugal, obtivera de Roma esse

“padroado”.

Os tempos eram outros e o povo brasileiro não se tornara fã do

frade espanhol. Então, os “ordinários” brasileiros decidiram aposentá-lo

e arranjar do papa um outro padroeiro.

Afora o prestígio popular, o candidato, por certo, precisaria

satisfazer injunções políticas e ter a sua meca localizada onde houvesse

maior concentração demográfica.

A paraense Senhora de Nazaré, a capixaba Senhora da Penha e o

baiano Senhor do Bonfim, se bem que prestigiados popularmente em

suas regiões, careciam satisfazer as outras condições. Cumprindo-as

todas, a Senhora Aparecida foi a eleita.

Mais recentemente, em junho de 1958, o papa Pio XII criou a

Arquidiocese de Aparecida, com o território da paróquia do mesmo

nome desmembrado da Arquidiocese de São Paulo, e de outras

paróquias retiradas da Diocese de Taubaté.

Não obstante, porém, todas as promoções em torno da divulgação

dos “fatos” relacionados com a Aparecida, das demonstrações de fé na

mesma, da romarias, de suas imensas riquezas... Não obstante os

padres afirmarem (da boca pra for!) que creem na aparição prodigiosa

da Senhora Aparecida... Apesar da oferta da Rosa de Ouro pelo pontífice

Paulo VI e sua aparatosa entrega em agosto de 1967... Apesar de tudo

isto, até hoje, o Vaticano se conservou silencioso a respeito.

Desafio a qualquer padre de Aparecida a que me apresente um

documento do pontífice romano pelo qual se haja pronunciado sobre a

autenticidade dos “acontecimentos religiosos” pelo clero divulgados

entre o povo.

Eles não aceitam o desafio porque nem o papa crê nesse “prodígio”.

Bem ao contrário! Ele sabe que tudo é falcatrua. E falcatrua tão mal

engendrada que nem é capaz de forjar documentos, tática tão de sua

índole.

A fim de dar aos padres reptados uma dose de calmante,

apresento-lhes o parecer do monge beneditino Estevão Bettencourt: “AS

AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS NÃO SE EMPENHAM POR DEFINIR A

AUTENTICIDADE DE TAIS PORTENTOS, NEM MESMO A DOS

EPISÓDIOS CONCERNENTES À APARIÇÃO DA SENHORA IMACULADA

NO PORTO DE ITAGUASSÚ, EM 1717... A SANTA IGREJA, DE MODO

NENHUM, ENTENDE FAZER DE TAIS RELATOS MATÉRIA DE FÉ...” (in

“PERGUNTE E RESPONDEREMOS”, 71/1963, qu. 5).

Católico! Não continue enganado! Use a cabeça para raciocinar e

não vá mais no conto do vigário! O próprio monge beneditino Estevão

Bettencourt declara que aquilo tudo não é “matéria de fé”. Ele não crê!

Nem o papa e nem os padres prestam fé aos seus relatos sobre a

Senhora Aparecida!


.oOo.

A SANTA CAP,

“CAPITAL MARIANA” DO PAÍS

Elevada, em 1958, à categoria de Arquidiocese, só em 1964

recebeu o seu arcebispo na pessoa do Cardeal Carlos Carmelo de

Vasconcelos Motta, até então ocupante do sólio paulopolitano.

Motta sempre se revelara interessado em promover Aparecida e,

com habilidade política peculiar ao seu temperamento, conseguiu da

Santa Sé contemporizasse a nomeação do seu titular, pois desejava ser

ele o investido no munus de arcebispo da “capital brasileira da fé”.

Se envidara esforços para a sua instalação como Arquidiocese,

parecer-lhe-ia de justiça instalar-se ele próprio em seu trono

arquiepiscopal, embora 6 anos devessem decorrer como sede vacante.

Idealizara e empenhara-se em transformar Aparecida num dos

centros católicos mais importantes do mundo.

Seria nesse intento insuficiente a devoção popular à Senhora

Aparecida. Aliás, aquela efervescência de fé incrementada pelo IV

Congresso Eucarístico de São Paulo, celebrado em 1942, fora

passageiro.

Como arcebispo de São Paulo, a cuja arquidiocese pertencia a

simples paróquia de Aparecida, Motta notara na segunda metade da

década de 40 o decréscimo do número de peregrinos em proporção com

o aumento populacional do País e com a imensa propaganda

intensificada através da distribuição, sobretudo às paróquias, de

imagens fac-símiles.

Insuficiente a devoção como fundamento para concretizar o seu

sonho de criar a SANTACAP, à imitação dos grandes e antigos centros

idólatras do mundo, como Éfeso com a sua Senhora Diana, em cuja

honra se construíra uma das sete maravilhas do orbe, o Cardeal

Vasconcelos Motta optou pela construção de um grande e soberbo

templo. Uma Basílica gigantesca e de ricas proporções arquitetônicas a

se credenciar ao orgulho do catolicismo brasileiro.

“O maior templo religioso do mundo, depois da Basílica de São

Pedro, em Roma!!!”

A Basílica de São Pedro tem 200 metros de comprimento,

incluindo-se o pórtico. A de Aparecida tem 170.

E, depois dela, vem a de São Paulo, em Londres, com 158 metros.

Esta é seguida do templo de Liverpool, também na Inglaterra, que mede

154 metros de comprimento. Seguem-se-lhe o Duomo, em Florença, na

Itália, com 150; o de Colônia, na Alemanha, com 145; o da Imaculada,

em Washington, EUA, com 137; o Duomo, em Milão, com 135; o templo

de Notre Dame, Chartres, na França, com 133; o de Sevilha, na

Espanha, com 129; o de São João de Latrão, em Roma, com 124; o de

São Paulo, no Brasil, com 100; o de S. Patrik, em Nova Iorque, EUA,

com 99; o de Santa Maria Maior, em Roma, com 98; o de Beauprais, no

Canadá, com 80 metros.

A nova Basílica de Aparecida, quando inteiramente concluída, terá

170 metros de comprimento por 150 metros de largura, cobrindo um

espaço de 25.500 metros quadrados.

Por sonhar alto, o arcebispo aparecidólatra inclui no plano

completo da obra outros departamentos, inclusive o prédio para a

emissora radiofônica e de televisão. Em consequência, salta à vista a

impossibilidade de se construir no cume do antigo Morro dos Coqueiros,

onde se encontra a atual Basílica, apodada de velha.

Recorde-se o fato de haver sido esta erigida no alto daquele Morro

em atenção às exigências da própria Senhora Aparecida, inconformada

de ficar embaixo e, por isso, “fugia” da capelinha, indo postar-se lá em

cima. As suas repetidas “fugas” revelaram (?) aos devotos a sua vontade

de lhe ser dedicada uma capela no cocuruto do outeiro, inaugurada,

aliás, em 1745, sob o hissopo do vigário José Alves Vilela, ao tempo,

pároco em Guaratinguetá.

Esta pequena capela, quando, em fins do século passado, se

incrementara a devoção aparecídica, se tornara exígua, foi pelo bispo de

São Paulo, Dom Lino Deodato de Carvalho, substituída por um templo

no cume do antigo Morro dos Coqueiros.

Afigurava-se impossível desagradar a “santa” e contrariar-lhe a

mariana vontade de ser instalada lá em cima da colina, cujos coqueiros

cederam lugar ao casario que se comprime em suas rampas.

“Constrói-se o templo noutro lugar... E se depois a imagem

aparecida não quiser ficar nele?”, decerto refletia o bispo que, aos 8 de

dezembro de 1888, benzeu a então nova Basílica, hoje reputada velha,

por ser anacrônica, obsoleta e superada.

Ao Cardeal Motta, embora se confesse devoto aparecidano, falecem

aqueles escrúpulos.

“Como se conseguir tamanha construção lá em cima do Morro dos

Coqueiros? Se são necessários 400 mil metros quadrados de área?

Como derrubar todas as casas empoleiradas colina acima? Seria acabar

com a cidade...”

A crer-se nos informes clericais, a imagem “milagrosa” saiu do

lugar, por ela própria escolhido apenas duas únicas e rápidas vezes:

quando de sua coroação no Rio de Janeiro, em maio de 1931, e, em 14

de julho de 1945, quando, em São Paulo, esteve numa manifestação

político-católica.

“Tirar-se a imagem de lá, de sua querida Basílica, é arriscar-se ao

desagrado da Senhora”.

Era isso que se proclamava em anos passados.

Se o arcebispo aparecidopolitano e empreendedor da nova Basílica

acreditasse no “milagre” de haver ela própria escolhido o lugar do seu

trono no topo da colina, esta construção seria lá em cima mesmo. Como

incorreria em desobediência à Senhora? Jamais! Nem que fosse para

gastar todos os milhões de cruzados depositados pelos fiéis devotos nos

cofres aos seus pés instalados, com o fim de cobrir as desapropriações

da cidade inteira.

Mas a AURI SACRA FAMES – a sagrada fome de ouro – fala mais,

muito mais alto do que todos os seus escrúpulos...

E, como resultado, a edificação nova e descomunal da Basílica em

outro local, iniciada em 1952, já se encontra acabada.

O mais interessante, porém, é que a Senhora mudou de opinião.

Assanhou-lhe a vaidade a grandeza do seu novo templo. Para ela

transportada, decidiu submeter-se à vontade cardinalícia e se

acomodou em seu novo altar erigido num elevado octogonal, a 1,5

metros de altura, com 9 degraus e 10 metros de diâmetro. Ela gosta

mais do bem-bom das novíssimas instalações...

Hoje, para evitar qualquer comentário da oposição ou o raciocínio

de algum devoto mais inteligente, os padres deixaram de mencionar em

seus relatos aparecídicos a antiga “vontade” (?) da Senhora fujona.

Nos planos clericais, a nova Basílica, pelas suas proporções

arquitetônicas e pela sua suntuosidade, deve se constituir no grande

motivo de atração de romeiros a elevar Aparecida à categoria de

principal centro de peregrinação do mundo, dignificando este País, o

mais católico de todos.

Este estilo românico-moderno cobre uma área construída de

25.500 metros quadrados, tendo à sua frente a Praça das

Comemorações de 69 mil metros quadrados, com capacidade para cerca

de 300 mil pessoas.

No interior do templo se estendem três naves de 22 x 40 metros

cada, além das naves deambulatórias ou de circulação de 7 metros de

largura cada uma num desenvolvimento de 340 metros. As capelas

sacramentais, onde administram os chamados sacramentos do batismo,

da confissão, da confirmação, da eucaristia e do matrimônio, são de 22

x 38 metros cada.

A torre imponente, levantada na superfície de 20 x 20 metros,

atinge 100 metros de altura, abrangendo 16 andares, com 336 janelas

de vidro com caixilhos e venezianas de alumínio e consumiu um milhão

e meio de tijolos. Dois elevadores com capacidade para 60 pessoas

transportam os visitantes. Erguida fora do templo, a ele se liga por uma

galeria de 36 metros de comprimento, 8 metros de largura e 11 metros

de altura. Como seria impossível deixar de ser, no interior da torre os

padres instalaram um bar-restaurante e lojas.

Construída a Basílica em forma de cruz grega, a sua cúpula, como

uma meia esfera, erguida bem no centro de toda a construção com o

diâmetro interno de 34 metros e a altura de 60, cobre 2.327 metros

quadrados e é revestida de alumínio anodizado a lhe fornecer uma cor

dourada. Esta cúpula sustenta, num pequeno mirante, uma cruz grega

de 3 metros de altura, sob cujo centro geométrico se eleva sobre 9

degraus o altar-mor da Basílica, de 10 metros de diâmetro, a ostentar,

em nicho de ouro, a imagem da Senhora Aparecida, a Padroeira do

Brasil, recoberta de joias e pedrarias preciosas, onde imensa população

padece de fome e sofre a carência dos recursos básicos para uma vida

digna.

Ao redor deste soberbo altar-mor, em torno da plataforma, se

enumeram 12 pequenos altares a permitir a celebração simultânea de

13 missas, o supremo culto idólatra do catolicismo, em homenagem à

aparecidolatria.

* * *

Por considerarem antiquado o método, os padres redentoristas

responsáveis pela administração da Basílica e pela promoção do

aparecidismo, hoje em dia, deixaram de utilizar tanto as chamadas

“santas missões” inculcadas pelo seu fundador, Afonso de Liguori, nos

estatutos da ordem. Prevalecem-se de meios mecânicos de divulgação,

como jornal e rádio.

A Rádio Aparecida, pela sua potencialidade, se emparelha com a

grandeza material da nova Basílica e se capacita a atender os planos de

incrementar sempre mais a aparecidolatria.

Reservaram-se 12 mil metros quadrados dentro da área dos 400

mil para erguer um prédio dividido em 3 pavimentos.

O térreo se reserva para um auditório com a capacidade de alojar

1.500 pessoas, que terão o seu cinema. No 1º pavimento, ficam os

escritórios, uma capela e o salão nobre destinado às reuniões do Clube

dos Sócios com cerca de 400 mil arrolados. O 2º andar se destina à

instalação de todo o equipamento da Rádio Aparecida, que deverá ser a

mais potente emissora da América Latina, e da futura TV, com 6

estúdios, um de gravação de peças teatrais e outro de gravação de

discos e fitas, além da técnica central de comando dos estúdios e da

discoteca, do departamento técnico e do almoxarifado.

É a técnica da comunicação superlativamente refinada a serviço da

massificação do aparecidismo porque, dentro dos prognósticos clericais,

o brasileiro deve continuar agrilhoado aos seus embustes.

A SANTACAP, com a sua descomunal Basílica, pretende reviver a

idade áurea da Senhora Diana, cujo templo se contava entre as sete

maravilhas do mundo.

Aliás, em Éfeso, aos 11 de outubro de 431, se deu o início oficial da

mariolatria com a proclamação do dogma de Maria Mãe de Deus.

Nesta era intitulada de pós-conciliar, quando muitos ainda supõem

haver o catolicismo romano se transformado e aberto mão de certas

doutrinas contrárias à Bíblia, inclusive as relativas a Maria, a religião

do papa recrudesce e reaviva o culto mariolátrico acrescentando-lhe

novos dogmas, como o de Maria Mãe da Igreja, que inclui os de Maria

Co-Redentora, Advogada, Medianeira e Adjutrix, proclamado aos 21 de

novembro de 1964.

Recrudesce e cresce o culto mariolátrico entre o povo pobre

subjugado às suas feitiçarias, prestigiando os santuários marianos,

centros de romarias e peregrinações.

O próprio papa Paulo VI, em 13 de maio de 1967, viajou até

Fátima, em Portugal, com o propósito de oficiar as comemorações

cinquentenárias daquela Senhora.

À Aparecida ofertou o romano pontífice uma Rosa de Ouro, trazida

por um Cardeal “a latere”, a assinalar a passagem dos seus 250 anos.

Dom Humberto Mozzoni, o núncio papal no Brasil, no dia 5 de julho de

1969, ano de sua chegada, viajou à SANTACAP no intento de prestar o

seu culto pessoal à Senhora Aparecida. “Vim à cidade de Aparecida”,

disse ele, “como todo o povo brasileiro, venerar Nossa Senhora

Aparecida. E colocar sob sua proteção a minha missão no Brasil” (O

Estado de S. Paulo, 6 de julho de 1969).

O Concílio Ecumênico Vaticano II deixou intactas as estruturas

romanistas sobre as quais simplesmente passou uma caiação a fim de

lhe dar novos ares. E só!

Deixou, outrossim, intocáveis os cediços métodos de envolvimento

político tão do gosto multissecular do clero. Quando, em 1972, o Brasil

celebrou o sesquicentenário de sua Independência, quis ele vincular-se

oficialmente à sua programação. E, para se promover, nada melhor do

que promover a aparecidolatria. Alegou, então, contra todas as

evidências, haver Pedro I estado em Aparecida com o fim de rezar diante

da imagem, na oportunidade em que pernoitou em Guaratinguetá,

quando de sua viagem do Rio de Janeiro a São Paulo, onde proclamara

dias seguintes a Independência de nossa Pátria.

Desprovido de qualquer pejo, reivindicou o clero a passagem por

Aparecida do coração de Dom Pedro I quando, em 1972, foi de Portugal

trazido em definitivo para o Brasil.

Desprovido de qualquer pejo e sem o receio de ser desmascarado,

porque o povo evita o trabalho de raciocinar, pois em 1822 nada existia

em Aparecida além da pequenina e tosca capela no alto do Morro dos

Coqueiros, construída pelo ganancioso padre Vilela. Aparecida

continuava ainda incógnita do beatério. Aparecida era ainda o Morro

dos Coqueiros. E só Morro dos Coqueiros.


.oOo.

A ROSA DE OURO

No dia 15 de agosto de 1967, ano comemorativo do 250º

aniversário do encontro da imagem de terra cota no porto de Itaguassú,

a Basílica de Aparecida recebeu das mãos do Cardeal Amleto Giovanni

Cicognani, legado “a latere” de Paulo VI, uma ROSA DE OURO,

munificência do sumo pontífice. Esta ocorrência serviu para assanhar a

aparecidolatria. Mobilizaram-se todos os recursos a fim de assinalar o

evento com estrepitosas solenidades.

Esculpida pelo prof. Mário de Marchis, constituiu-se numa jóia.

Dois grandes ramos com folhas de ouro se entrelaçam até ao vértice

onde se desabrocha a rosa, também de ouro. No lugar do pistilo da rosa

engasta-se um opérculo, uma cápsula, que contém bálsamo do Peru e

pó de almíscar, significando a fragrância da rainha das flores. Entre os

dois ramos encontra-se esculpido o emblema de Paulo VI, pois ambas, a

mariolatria e a papolatria, andam de parelha. E na base lê-se a seguinte

inscrição: “Paulus VI PM – Apparitiopolitanae aedi sacrae B.M.Virgini

Imm. – DD. III Non. Mar. A + MCMLXVII”.

A outros santuários marianos, como Guadalupe, Fátima e Lourdes,

o pontífice Montini tem, outrossim, contemplado com o semelhante

presente régio.

Nós, os brasileiros conscientes da espoliação sofrida pela nossa

Pátria quando, ao tempo da sua Civilização, os clérigos carregaram o

nosso ouro e transformaram Portugal num mero entreposto na

execução dos seus planos de extorsão e chantagem, carreando essa

nossa riqueza para os depósitos do romano pontífice; nós, os brasileiros

conscientes, sentimo-nos indignados com este gesto do papa, pois

desejamos que, em nome da Justiça, ele repare os crimes praticados

contra o Brasil, devolvendo todo o nosso “metal precioso” guardado nos

seus cofres vaticanos.

Dispensaríamos de bom grado o envio da ROSA DE OURO feita

com as nossas próprias riquezas há séculos de nós roubadas.

Se esse presente se constitui num sarcasmo à Nação Brasileira

espoliada em seus bens naturais pelo clero romanista, a ROSA DE

OURO expressa sobremodo o contexto católico-romano de todas as

eras.

Com efeito, expressa o catolicismo pós-conciliar, ainda mais

alvorotado na mariolatria, porque, ao benzer na Capela Sixtina, aquela

joia, em 5 de março de 1967, quando a liturgia romana assinalava o IV

Domingo da Quaresma, chamado Dominica Laetare ou Domingo das

Rosas, o pontífice declarou na presença de uma representação

brasileira: “No Santuário de Nossa Senhora Aparecida, ela [a rosa] dará

testemunho de nossa constante oração à Virgem Santíssima para que

interceda junto de seu Filho pelo progresso espiritual e material do

Brasil... Vamos a Maria para chegar a Jesus. Amando desse modo Nossa

Senhora, poderemos compreendê-la em sua real grandeza e, através

dela, chegaremos ao Cristo, filho de Deus”.

Dispensam-se profundos conhecimentos bíblicos para se constatar

à luz do Evangelho os absurdos desse pronunciamento do papa.

* * *

Se as palavras pontifícias proferidas na oportunidade da bênção da

ROSA DE OURO demonstram a relutância, a procrastinação, do

catolicismo na idolatria, apesar da farta propaganda de suas reformas

levadas a efeito pelo Concílio Ecumênico Vaticano II; se o envio dessa

jóia é um insulto do clero romano ao Brasil, vilipendiado e espoliado por

ele desde os primórdios de sua Civilização, quando aqui aportaram os

primeiros missionários do embuste, a ROSA DE OURO comprova outra

vez ser o catolicismo, embora rotulado com terminologia bíblica, a

continuação e a sustentação do paganismo antigo.

Catolicismo e paganismo se equivalem porque são idênticos. Ou

melhor, o catolicismo é o nome atual do paganismo encarregado de

enxovalhar os vocábulos mais sagrados, inclusive o Nome Sacrossanto

de Jesus Cristo.

Onde terá ido buscar o catolicismo a prática de se oferecerem

Rosas de Ouro senão no paganismo antigo?

Efetivamente, na longínqua antiguidade, o paganismo celebrava a

chegada da primavera e a uberdade da terra com típicas festas

populares e cerimônias religiosas aos seus deuses, destacando-se as

procissões, quando o povo levava braçadas de flores e as depositava nos

altares dos seus templos.

O catolicismo, ao encampar quase todas as práticas do seu

antecessor pagão, adotou também essas comemorações. Na Idade

Média, quando o romantismo usufruiu o seu apogeu, recebia-se a

primavera como a vitória sobre o inverno com procissões presididas por

sacerdotes e bispos, em que os fiéis desfilavam portando flores colhidas

nos campos e jardins, cristalizando-se assim o costume pagão.

No século X, a festa passou a ser celebrada no IV Domingo da

Quaresma, Dominica Laetare, que sempre cai no princípio da primavera

na Europa. Este domingo se apresenta como um parêntese de alegria

no tempo penitencial da Quaresma, o período precedente à semana

chamada santa.

Neste dia, o papa em Roma presidiu a procissão das rosas – daí o

domingo se cognominar também o Domingo das Rosas – levando uma

ROSA DE OURO com a determinação de oferecê-la a altos dignatários,

igrejas ou instituições religiosas.

Encontra-se uma referência documental do ano de 1049 do fato de

haver o papa Leão IX lembrado “a obrigação determinada ao mosteiro

das religiosas de Santa Cruz de Tulle (Alsácia), em recompensa de terem

sido isentas da jurisdição do bispo local e sujeitas diretamente ao sumo

pontífice, do envio anual de uma Rosa de Ouro ou de doze onças do

precioso metal” – que o papa destinaria, posteriormente, a eventuais

ofertas.

A prática de se oferecer a Rosa de Ouro a santuários, catedrais,

igrejas, dignatários eclesiásticos, príncipes, reis, imperadores, firmou-se

como tradição e multiplicou-se enormemente durante o período de

permanência dos papas em Avinhão (1305-1378). Dessa época até o

século XV, quando se compôs a fórmula de sua bênção especial,

expressando os seus simbolismos, até o século XV, a dádiva consistia

apenas em uma rosa que, frequentemente, tinha também uma pedra

preciosa incrustada.

A partir desse século, especialmente depois do papa Sixto V (1471-

1484), acrescentaram-se-lhe ramos, folhas e botões, mantendo-se, com

frequência, as incrustações de pedras de rara beleza e alto valor.

Têm sido oferecidas rosas valiosíssimas. Sabe-se lá quanto ouro

brasileiro, transubstanciado nessas flores, já anda espalhado mundo

afora, enquanto nosso País se submeteu a ingentes sacrifícios na ânsia

e na busca de melhores condições, que o libertem do

subdesenvolvimento.

Em 1886, Leão XIII, num impulso escandaloso de munificência

perdulária, ofereceu à Rainha Cristina, regente da Espanha, uma Rosa

de Ouro composta de 9 flores, 12 botões e 100 folhas – tudo em ouro –

sobre um vaso artisticamente trabalhado.

E sendo a Aparecida um capítulo integrante da estrutura idólatra

do catolicismo, fica-lhe bem uma Rosa de Ouro, reminiscência de

antigas práticas pagãs...

Com a rósea e áurea honorificência, “o papa deseja honrar a

riqueza espiritual do Brasil”. Ofereceu-a ao santuário de Aparecida por

se concentrar no culto a Maria toda essa riqueza. Sua entrega, a fazer

jus ao seu valor intrínseco, ao seu simbolismo e à sua finalidade,

deveria revestir-se de grande pompa.

Começaram estas com a especial distinção de ser o portador da

preciosa jóia o Cardeal Amleto Giovanni Cicognani, designado por Paulo

VI o seu legado “a latere” para vir de Roma ao Brasil investido no

munus de, em seu nome, depositá-la no altar da Senhora de terra cota.

O clero mobilizou todo o seu arsenal de recursos no sentido de

recepcionar, à altura de sua dignidade, o Cardeal legado. Em sendo,

outrossim, o papa chefe de um Estado, o Vaticano, cabia ao Governo

Brasileiro a tarefa de distinguir o “nobre” representante com as

honrarias atribuídas aos chefes de Estado.

A sagacidade do clero é inexcedível... Juntaram-se dois

acontecimentos: o religioso e o político. Entrelaçaram-nos os padres

porque, na conformidade dos seus propósitos, o acontecimento religioso

do 250º aniversário de Aparecida deveria provocar um acontecimento

político a envolver as mais destacadas autoridades da Nação.

Governadores estaduais, chefes militares, ministros e o próprio

Presidente da Repúlica, o Marechal Costa e Silva, lá compareceram no

dia 15 de agosto de 1967.

O pontífice, o soberano do clero, ao enviar a ROSA DE OURO como

símbolo religioso, aproveitou a oportunidade para, como chefe de

Estado do Vaticano, estreitar relações políticas com os políticos

brasileiros. Nesse intento, pois, ofereceu ao Presidente Costa e Silva um

crucifixo de ouro trabalhado, do século XIX, que pertencera a um

célebre poeta francês. Esta peça riquíssima fica assentada num

pedestal de oliveira.

Ao Governador Abreu Sodré, de São Paulo, enviou uma medalha

também de ouro.

Quanto ouro! E se propala a notícia sobre a pobreza dos padres...

O presidente da República compareceu. Fizera-se acompanhar de sua

esposa. Blindara-o rígida segurança sob a responsabilidade de 1.800

policiais.

Por acaso faltaria à Senhora Aparecida poder para protegê-lo? De

fato, alguns incidentes provocaram desapontamentos.

O Presidente chegou de avião ao aeroporto da Escola de

Especialistas da Aeronáutica de Guaratinguetá. Muitos jornalistas o

aguardavam. À última hora, porém, cancelou-se o valor das credenciais

fornecidas pelo Comando da Escola e os rapazes da imprensa ficaram

impedidos de se aproximarem do Supremo Mandatário da Nação.

Na Via Dutra, porque o legado do papa fora de automóvel de São

Paulo a Aparecida, 7 quilômetros antes de S. José dos Campos, três dos

carros da comitiva do Cardeal se chocaram causando vítimas.

A grande massa popular postada fora da Basílica no aguardo do

pontífice “a latere”, sofreu a inclemência da chuva intermitente e

imprevista. E o acidente automobilístico provocou o atraso da chegada

do cortejo cardinalício, obrigando os devotos à penitência mais

prolongada das intempéries meteorológicas.

Estas ainda motivaram, à última hora, alterações em todo o

programa.

Os aborrecimentos, todavia, foram um pouco compensados com

alguns incidentes jocosos.

A Folha de São Paulo (16 de agosto de 1967) relata: “Enquanto o

cardeal-legado não chega, o padre Antonio Siqueira, vigário da Basílica,

fica no microfone. É quem provoca alguns sorrisos do Marechal e

muitos da assistência. Seu apelido é “Dom Camilo”, por sua semelhança

física e modos “acaipirados” de se dirigir ao público. Durante uma hora

fez o povo dar vinte vivas a Nossa Senhora Aparecida, ao Presidente, ao

cardeal-legado, às autoridades, a todo mundo. Depois da cerimônia,

voltaria a puxar vivas e alertar, pelo microfone, os romeiros sobre o

perigo de ladrões por lá”.

É! Ao Exército sobravam razões quando montou um dispositivo

policial tão rígido em torno da pessoa do Presidente.

Se, junto da Senhora Aparecida, há tantos ladrões que em uma

solenidade importantíssima o vigário da Basílica se vê na contingência

de prevenir os fiéis contra os “lanceiros”, por que confiar na “santa”? Se

ela não protege os seus devotos dos ladrões, acaso protegeria o

Presidente de algum terrorista?

Ainda em seu exemplar de 16 de agosto de 1967, a Folha de São

Paulo conta: “Durante a cerimônia religiosa, Costa e Silva saiu do seu

ar sério e compenetrado. Um padre, junto com Dom Antonio Macedo,

lhe trouxe, em pergaminho, a ata da solenidade da entrega da Rosa de

Ouro”. Queria seu autógrafo mo pergaminho, depois pediria o de todas

as autoridades civis ali presentes...

O Presidente não conseguiu escrever com a pequenina caneta,

especial para tinta nanquim. E borrou a sua assinatura depois de

várias tentativas. Rindo, disse ao padre que “quando virem isso, vão

pensar que o Presidente era analfabeto”.

A “sagrada fome de riquezas” rói o coração do clero. Dinheiro é a

sua máxima preocupação. Enquanto fotógrafos e cinegrafistas, durante

as solenidades, procuravam fixar o legado papal nos mais diversos

ângulos, o então núncio apostólico, Dom Sebastião Baggio, comentou

em italiano: “Se cada foto valesse um dólar, V. Excia. seria milionário”.

Exposta na Basílica de Aparecida, junto com a suntuosidade do

templo e junto com a imagem, o móvel central de tudo, a Rosa de Ouro,

“símbolo de Maria, a Rosa Mística, invocada na Ladainha Lauretana”, se

tornou também objeto de culto.

Diante dela, os pobres devotos se ajoelham e através dela almejam

obter bênçãos da padroeira.

Com os intestinos roncando de fome se prostram diante do ouro...

Jesus multiplicou pães para saciar os famintos e o papa multiplica

rosas de ouro para, insultando a pobreza, agrilhoar as almas na

escravidão da idolatria.

Esquece-se o papa do precioso sangue de Cristo, o Cordeiro

Imaculado e Incontaminado... E exibe ouro como se o ouro pudesse

resgatar o pecador de sua vã maneira de viver. “Não foi mediante

cousas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do

vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo

precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o

sangue de Cristo” (1ª Pedro 1.18-19).

Ao mencionar a “vã maneira de viver” ou “fútil procedimento”,

o apóstolo Pedro se referia ao culto de imagens taxado pela Bíblia com

as expressões mais contundentes como mentira, idolatria, falsidade,

engano, adultério, prostituição e vaidade.


.oOo.

OS MILAGRES

DE APARECIDA

O melhor processo criado pelo inferno para enganar os

inadvertidos, anestesiar a consciência do pecador e confundir a pureza

límpida do Evangelho foi o dos “prodígios miraculosos”.

O milagre autêntico só pode ser realizado pelo poder de Deus, pois

se trata de um fenômeno que se dá além ou acima das leis da natureza,

mudando o seu curso normal num caso particular.

Jesus, ao praticar muitos milagres, tinha em mira patentear a Sua

Divindade. Nicodemos mesmo reconheceu-a por isso. “Ninguém pode

fazer estes sinais que Tu fazes, se Deus não estiver com ele” (João

3.2).

O cristão aceita o milagre, porém, dentro das normas da Bíblia, a

sua Única e Exclusiva Regra de Fé e Prática Religiosa.

Portanto, todo o prodígio contrário às normas e aos ensinamentos

da Revelação Divina contida na Bíblia, não procede de Deus. Com

efeito, Deus ameaça com terríveis castigos aqueles que acrescentarem

ou retirarem dela qualquer coisa. “A todo aquele que ouve as palavras

da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer

acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e,

se alguém tirar qualquer cousa das palavras do livro desta profecia,

Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das

cousas que se acham escritas neste livro” (Apocalipse 22.18-19).

Ninguém tem o direito de acrescentar nada à Palavra de Deus;

quem o fizer é mentiroso. “Nada acrescentes às Suas palavras, para

que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Provérbios 30.6).

Em matéria religiosa, tudo o que estiver fora da Bíblia é um acervo

de mentiras.

Satanás tem muito interesse em perverter as almas, apresentando-lhes

doutrinas espúrias, contrárias à Revelação de Deus. Os seus sequazes

andam soltos, fazendo prodígios até em Nome de Deus!

Relativamente a estes é que Jesus advertiu: “Muitos Me dirão

naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu Nome, e

em Teu Nome não expulsamos demônios e em Teu Nome não

fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca

vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade”

(Mateus 7.22-23).

Esses prodígios são iniquidade!!! Mesmo feitos em Nome de Deus,

mas contra a Sua Santíssima Vontade revelada na Bíblia!

É uma iniquidade o que o clero pratica no Brasil, ludibriando o

povo!

A Bíblia é categórica em proclamar: “Há um só Deus e um só

Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1ª

Timóteo 2.5).

A Bíblia é peremptória ao anunciar: “Jesus se tem tornado fiador

de superior aliança... por isso, também pode salvar totalmente os

que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por

eles” (Hebreus 7.22, 25).

A Bíblia, repito, é explícita ao anunciar: “Se alguém pecar, temos

um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. E Ele é a

propiciação pelos nossos pecados” (1ª João 2.1-2).

Todo o Novo Testamento revela a Total Suficiência de Jesus Cristo,

como Salvador, Mediador e Advogado.

Enganaram-se muitos evangélicos ao supor que o romanismo com

o seu Concílio Ecumênico Vaticano II estaria disposto a reformar suas

doutrinas nefastas, aproximando-se da Palavra de Deus e aceitando a

Jesus Cristo como Único e Todo-Suficiente Salvador, Mediador,

Intercessor e Advogado.

O romanismo, porém, conformou os seus velhos dogmas,

contrários à Bíblia e engendrou outros...

Negando ao nosso bendito Salvador a exclusividade restrita e

consequente de todos aqueles atributos, em discrepância absurda da

Bíblia, exalta Maria como advogada, auxiliadora, protetora, medianeira,

aberrando dos ensinamentos claros de Deus.

Engajada nesse mesmo torvelinho de heresias está a Senhora

Aparecida sobre quem o Cardeal Vasconcelos Motta, arcebispo de sua

Arquidiocese, escreveu, em 1º de janeiro de 1967, para comemorar o

250º aniversário de falcatrua, uma carta pastoral, classificada pelo

chaleirismo do órgão católico “O São Paulo” (22 de janeiro de 1967)

como “um tesouro de magistério”.

Nesse “tesouro de magistério” – magistério do inferno porque

absolutamente contrário à Revelação Divina e ignominiosamente

depreciador de Jesus Cristo! – nesse “tesouro de magistério”, repito,

falando da Senhora Aparecida, como medianeira, advogada e

intercessora, saiu-se o cardeal aparecidopolitano com esta heresia

blasfema: “Ora, intercedendo por nós, embora pecadores, a maior

santidade, o maior nome e a maior dignidade, como poderá resistir a

Justiça Divina ou negar a Sua Misericórdia a uma tão forte, suave e

poderosa intercessão? Intercessão é o meio entre dois extremos; para ser

poderosa e eficaz, há de tocar ambos: Deus, a quem intercede, e os

pecadores, por quem intercede. E a Senhora posta entre Deus e os

pecadores, quão chegada é a um e a outro extremo? É tão chegada a

Deus que só lhe falta ser Deus: é tão chegada aos pecadores que só lhe

falta o pecado”.

Confrontem-se estas expressões pós-conciliares com a doutrina de

Deus demonstrada nos versículos bíblicos acima citados. São

incompatíveis!

Torna-se evidente que os “milagres” da Aparecida não procedem do

poder de Deus porque não são consentâneos com a Sua vontade

expressa em Sua Revelação, a Bíblia Sagrada.

Procedem, sim, do inferno para perverter as almas! Constituem-se

na marca da apostasia!!!

Os seus pregoeiros e divulgadores se aliam com os falsos profetas

referidos por Jesus Cristo: “Surgirão falsos cristos e falsos profetas

operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os

próprios eleitos” (Mateus 24.24).

A religião dos crendeiros aparecidanos consiste em fazer

promessas e esperar milagres.

Anestesiados pelas mentiras ridículas com que os padres os

ludibriam, por qualquer pretexto, fazem seus votos à “santa” pescada

em Itaguassú.

A excêntrica “sala de milagres” revela como são entorpecidos na

prática de uma religião de fábulas e embustes.

O devoto faz a sua promessinha de mandar uma fotografia para ser

exposta na “sala dos milagres”, mas, ao mesmo tempo, coloca na pereba

a pomada que o “doutor” receitou. Quando sara, foi milagre de

Aparecida. Se não melhora, o médico é que não presta!

A moça se apavora com a possibilidade de ficar solteira e embarca,

para se livrar dessa conjuntura, no primeiro bonde que aparece; e

manda as tranças dos seus cabelos, como ex-votos, para serem

dependuradas na “sala dos milagres”. Quem lucra são os padres porque

vendem caríssimo aos fabricantes de perucas...

Um time de futebol sagra-se campeão de qualquer torneio, os seus

jogadores vão, em romaria, levar à “incomparável” as esmolas das

promessas.

No Concurso de Miss Brasil de 1956, ouvi pelo rádio o General

Porfírio da Paz, devotíssimo aparecídico, invocar as bênçãos da Senhora

Aparecida em favor das beldades semi-nuas.

* * *

Durante três anos frequentei assiduamente a Basílica e jamais vi

um milagre...

Milagre, milagre mesmo, isto é, ressuscitar um morto, como Lázaro

(João 11.1-45), dar vista a um cego de nascimento (João 9.1-7), fazer

aparecer um braço no lugar do amputado, colocar um pulmão novo no

lugar do extraído... ela nunca fez!

A Senhora Aparecida é tão incapaz em matéria de milagre que é

uma coitada! Garanto que, se cair do nicho, espatifar-se-á no chão!!!

A sua cidade está cheia de aleijados, estropiados e cegos a

mendigar pela ruas. Se os padres abastados de ouro e dinheiro não os

socorrem porque são avarentos, a Senhora Aparecida, de sua parte,

nem lhes dá atenção aos gemidos.

Ela é tão coitada que não tem poder nem de curar as lombrigas às

crianças dos seus devotos. Por isso, a emissora faz propaganda de

vermífugos.

Frustra-se o diabético que se socorre de sua valia... os padres da

Basílica, então, reconhecem-na tão fraquinha que, por meio do seu

jornal, lhe recomenda o “copo medicinal”.

Reconhecem-na tão ineficiente que, aos devotos alcoólatras,

aconselham produtos farmacêuticos.

O “Santuário de Aparecida”, órgão “oficial da Basílica Nacional de

Nossa Senhora Aparecida”, desapontou-se tanto com a impotência da

“incomparável” milagrenta que, a par da propaganda e desengonçadas

páginas, abriu um “Consultório de Medicina Caseira”, sob a

responsabilidade do Frei Esculápio.

Ainda mais desapontados devem estar os seus devotos com a

retumbante demonstração de impotência da “incomparável senhora”

verificada na oportunidade da fuga da ursa “Negrito” de sua jaula.

Os supersticiosos cismam com o dia 13 e pior ainda quando cai

numa sexta-feira. Para aumento do medo deles, o fato ocorreu no dia 13

de setembro, sexta-feira, de 1968.

Um cidadão aparecidólatra, residente em Avaré, Estado de São

Paulo, leu este fato numa das edições antigas deste livro. Revoltado,

quis uma entrevista comigo. Interrogado sobre a fonte de informação a

respeito, retruquei-lhe com a pergunta sobre o jornal que considerava

mais sério e absolutamente idôneo em suas notícias.

Respondeu-me ser “O Estado de S. Paulo”, “um dos jornais mais

importantes do mundo”.

Eis o relato desse órgão da imprensa paulista em seu exemplar de

14 de setembro de 1968: “A ursa ‘Negrito’ escapou ontem de manhã de

sua jaula no Zoológico de Aparecida do Norte, impôs à cidade três horas

de pânico e medo, e acabou sendo capturada graças à habilidade do

‘capitão Álvaro’, domador do Circo Berlim, ora se exibindo na cidade.

Uma guarnição do Corpo de Bombeiros e tropas da Força Pública e da

Escola de Aeronáutica foram enviadas com urgência ao local”.

Depois de pormenorizar a fuga, prossegue o órgão: “A notícia

espalhou-se, rápida, pela cidade, causando pânico. O socorro veio

rápido também: Corpo de Bombeiros, soldados da Força Pública e da

Escola de Aeronáutica da FAB, e todos os que supunham ter condições

de ajudar. Evitou-se atirar em ‘Negrito’, mas o trabalho para recapturála foi exaustivo e cheio de perigos. Por volta de meio-dia e meia, todos já

estavam ficando exaustos e desalentados, quando o domador ‘Capitão

Álvaro’, usando o laço com habilidade, conseguiu imobilizar a fera.

Sangrando um pouco no focinho, ‘Negrito’ voltou à jaula, vigiada, agora,

com atenção redobrada”.

Porque a mobilização de tantas forças? Por que tamanho aparato

bélico?

Lá não estaria a “santa” Aparecida para proteger os habitantes da

cidade onde se instalou o seu trono? Não é ela a “incomparável”

protetora?

Acaso assustara-se a Cidoca com os 2 metros de altura e os 480

quilos de peso da fera, que come, por dia, 40 quilos de polenta, 20 de

maçãs, 5 de verduras e um litro de mel?

A “incomparável” protetora nem se apiedou do pobre veadinho

campeiro estraçalhado pela ursa que, na hora da fuga, o arrancou da

jaula.

Porque nenhum aparecidense confia realmente na “santa”, o alívio

só aconteceu quando todos se certificaram do reenjaulamento do

animal feroz.

A Senhora Aparecida, no entanto, foi desmoralizada na sua

impotência com a manchete de alguns jornais: “Ursa causa três horas

de pânico” (O Estado de S. Paulo, de 24 de setembro de 1968); “Diabo

esteve à solta 3 horas em Aparecida do Norte” (Diário da Noite, de igual

data).

Em Aparecida se concentram, por ser excelente mercado,

numerosos vendedores de bilhetes de loteria federal. Preferem os

devotos-romeiros fazer a sua fezinha na SANTACAP porque, quem sabe,

o palpite será abençoado pela “incomparável” Senhora com sorte

grande. No dia da fuga de ‘Negrito’, todos os gasparinos foram vendidos

e os bilheteiros ficaram impossibilitados de atender o enorme volume da

procura. O resultado da loteria, porém, desapontou os apostadores: não

“deu urso”!

A SANTACAP é o reduto da idolatria com todas as suas trágicas

consequências.

Como IDOLATRIACAP é ROUBOCAP. EXPLORAÇÃOCAP.

MISÉRIACAP. PROSTITUIÇÃOCAP. DESGRAÇACAP.

Os ladrões e marginais agem dentro e fora da Basílica. Lá estão os

lanceiros batendo carteiras. E que autoridade têm os padres

redentoristas se querem coibir semelhantes crimes? Se eles exploram a

credulidade pública!

A exploração desbragada campeia no comércio. Nas lojas, inclusive

dos clérigos, o que controla o preço é a aparência do freguês, que nem

sempre consegue nota fiscal da mercadoria comprada.

Faz milagres a Senhora Aparecida? Por que, então, não purifica o

ar da sua cidade, empestado pelo mau cheiro exalado do Rio Paraíba,

onde se despeja o esgoto da cidade?

Porque ela não cura os miseráveis que se arrastam, mendigando,

pelas ruas, como opróbrio da humanidade? Será que tão dolorido

espetáculo não a comove?

Por que ela não faz o milagre de converter os padres em seres mais

humanos?

Por que ela não sensibiliza os seus devotos romeiros excitados

pelas raparigas, em número elevadíssimo, impedindo-os de entrar nos

bordéis, onde se corrompem os corpos com a sífilis e doenças venéreas?

Porque ela não regenera essas desgraçadas mulheres traficantes de

suas próprias carnes? Essas mulheres que se instalam em Aparecida

exatamente por ocorrer lá maior procura do que a oferta?

Sim! A responsabilidade de tantas misérias materiais e morais

recai sobre a idolatria, ensinada, divulgada, incrementada e explorada

pelo clero...

* * *

A Senhora Aparecida é uma “incomparável” ingrata! Permite que

recaiam sobre a sua cidade e o Vale do Paraíba as piores desgraças

justamente quando lhe são oferecidas as mais solenes homenagens.

Não se construiu a sua grande Basílica, um dos templos mais

soberbos do mundo?

O povo não tem aumentado as romarias em sua honra, quando em

multidões se prostra adorante aos seus pés?

Não lhe foi oferecida uma ROSA DE OURO, símbolo do seu título

de Rosa Mística e munificência do papa, o cognominado vigário de

Cristo na terra?

Para o seu culto o povo pobre não tira da miséria dos seus filhos?

Ingrata!!! Sim, ingrata, mil vezes ingrata que ela é!!!

No Vale do Paraíba nunca se ouviu falar em esquistossomose. Mas,

em 1953 – no ano seguinte ao início das obras da nova Basílica –

aconteceu o primeiro caso. E hoje a esquistossomose infesta todo o Vale

do Paraíba. A praga está ali debaixo dos olhos da “miraculosa” Senhora,

minando a saúde de milhares e milhares de pessoas.

Já em 1967, no ano da entrega da ROSA DE OURO, o Instituto

Adolfo Lutz, de Taubaté, informou haver na região da Senhora

Aparecida 2.161 casos comprovados de doentes de esquistossomose,

distribuídos da seguinte forma, cidade por cidade: Taubaté, 474;

Tremembé, 107; Pindamonhangaba, 500; Aparecida, 118; Roseira, 359;

Guaratinguetá, 40; Lorena, 7; Caçapava, 152; Jambeiro, 30; São José

dos Campos, 243; Santa Branca, 14; Jacareí, 4; Monteiro Lobato, 2;

Cachoeira Paulista, 2; Quiririm, 1; e Redenção da Serra, 5.

Note-se: A incidência do mal se acentua nas cidades mais

próximas de Aparecida. Roseira, a mais próxima, por exemplo, dentre

todas, se não é menor, é uma das menores. E, em 1967, apresentou

359 casos diagnosticados!

A ingrata recompensou a sua região, em 1968, logo depois de haver

recebido a rósea e áurea honorificência pontifícia, com uma longa seca.

Pelo seu poder de “incomparável Senhora”, se vinga dos devotos

valendo-se até da meteorologia. Em dezembro de 1967, a leitura mínima

do nível do Rio Paraíba foi de 2,66 metros. Em 1968, no segundo

domingo de dezembro, o rio tinha seu nível fixado em 1,50 metros,

caindo no dia 16 para 1,48 metros pela manhã e 1,40 metros à tarde.

A Barragem de Santa Branca, pertencente ao grupo Light (a grande

empresa de energia elétrica dos principais centros industriais e

populacionais do País: São Paulo e Rio de Janeiro) é uma das obras

reguladoras do Rio Paraíba. Seu objetivo é gerar energia nas usinas que

integram o aproveitamento do Ribeirão das Lajes, abastecendo várias

indústrias, como a Usina Siderúrgica Nacional, sediada em Volta

Redonda. Sua capacidade é de 424 milhões de metros cúbicos por

segundo e sua vazão média, no local da barragem, é de 78 metros

cúbicos por segundo. Em 1968, porque os índices pluviométricos foram

muito abaixo do normal, faltou água para cobrir aquela capacidade,

provocando enormes prejuízos às populações trabalhadoras da região e

ao próprio País.

Se a ingratidão da “santa” se revelou nessa longa estiagem,

manifestou-se também com o forte temporal desabado durante meia

hora depois, em 26 de dezembro de 1968, inundando toda a parte baixa

de Aparecida e derrubando, em consequência, muitas casas. Casas dos

pobres. Daqueles que conservam afixada na porta ou na parede da sala

de oração: “Oh, incomparável Senhora...”

Retribuiu a Senhora o início das obras de sua majestosa e

arquibilionária Basílica, em 1953, com o início da esquistossomose no

Vale do Paraíba, a proliferar assustadoramente. Que se cuidem as

autoridades sanitárias porque, da Senhora Aparecida, os seus devotos

só podem esperar ingratidão. Que se cuidem estas autoridades porque

de Aparecida as multidões de romeiros ávidos das “graças”, voltarão

para suas cidades levando, como desgraçado presente o vírus da

esquistossomose...

Retribuiu a Senhora a ROSA DE OURO com aquela longa estiagem

e com a tromba d’água.

Terá a ingrata retribuído também a criação de sua Arquidiocese?

É claro! Em 1958, o ano da instalação da Arquidiocese de

Aparecida, aconteceu no Vale um estado de calamidade pública com a

proliferação da raiva demosdina (semelhante à raiva canina, conhecida

também como “hidrofobia”). É uma doença infecto-contagiosa e se inclui

entre as zoonoses, isto é, transmite-se dos animais ao homem,

tornando-se letal. Primariamente, é transmitida por morcegos

hematófagos (que se alimentam de sangue). Pode, ainda, ser

transmitida por outras espécies de morcegos, como os insetívoros

(devoradores de insetos) e frugívoros (que se alimentam de frutos).

Uma das características do vírus é o seu tropismo especial pelo

sistema nervoso (aloja-se de preferência nos centros nervosos da vítima)

e, aí, em seu reduto preferido, não pode ser combatido e o enfermo

(animal ou pessoa) morre.

O único combate à enfermidade é o preventivo por meio de séria

profilaxia porque, uma vez manifestada, é impossível a sua cura.

Rebanhos de gado, em todo o Vale do Paraíba, ali nos redutos da

“milagrosa”, foram dizimados. Muitas famílias se cobriram de luto com

a morte de seus membros, embora, desesperadas, clamassem valimento

da ingrata “incomparável protetora”...

Em 1968, além da estiagem e da tempestade, os focos de

morcegos, portadores do vírus da demosdina, cooperaram com a

ingrata, cuja Basílica havia sido enriquecida com a ROSA DE OURO,

espalhando outra vez o terror nas regiões aparecídicas.

A Senhora Aparecida faz-nos lembrar o mandamento do Senhor:

“Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do

que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas

debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque

Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos

pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que Me

aborrecem, e faço misericórdia em milhares aos que Me amam e

guardam os Meus mandamentos” (Êxodo 20.4-6).

Deus não tem o culpado por inocente. “Não inocenta o culpado”

(Êxodo 34.7). E a Sua Glória não a dá a outrem. “A Minha glória não a

dou a outrem” (Isaías 48.11). Nem à Senhora Aparecida! E muito

menos à Senhora Aparecida!!!

A “santa” aparecida no Porto de Itaguassú, em 13 de outubro de

1717, foi um estratagema do falsário clérigo José Alves Vilela. A sua

trapaça, porém, foi tão mal feita que o clero, nesse legado de abusões,

não encontrou ainda elementos para transformar a fraude em matéria

de fé. Até mesmo para esconder a estátua disforme, cobre-a, de alto a

baixo, com um manto azul, preso com a coroa de ouro, o que lhe dá o

formato de triângulo.

Apesar de tudo, porém, vão os padres enganando o povo crendeiro.

A atitude favorável a essa devoção, por parte do clero, visa

exclusivamente a exploração comercial dos supersticiosos.

O monge beneditino Estevão Bettencourt, sócio desta empresa de

especulação da credulidade pública, afirma que “a bem da verdade,

deve-se notar que tal atitude favorável é independente de qualquer

pronunciamento da autoridade eclesiástica sobre a genuinidade dos

prodígios que se narram em torno da Virgem e do santuário de

Aparecida” (in PERGUNTE E RESPONDEREMOS – 71/1963, qu. 5).

“A bem da verdade...” Leiam-se de novo as declarações do monge

Bettencourt!

Que coisa!!! Os reverendos proclamam tanto a eficácia da devoção

à Aparecida de terra cota, divulgam os seus “milagres” e expõem, em

sala adequada, tantos ex-votos e não podem sair desta: nem esses

“milagres” merecem qualquer pronunciamento oficial sobre a sua

genuinidade...

Pestes, tempestades, doenças, secas, a “ingrata” não pode

impedir... E permite – o que é pior de tudo – sejam assim ludibriados

os seus devotos! É mesmo uma trapaça essa Senhora de terra cota!

Desde menino, ouvi muitas vezes da libertação de um escravo na

hora de ser preso ao tronco, retalhado com chicote em castigo de sua

fuga. Foi mentira! Isso não aconteceu.

Se quem nega a verdade desse episódio fosse um evangélico, logo

sofreria insultos dos carolas fanáticos. Mas quem diz ser isso uma

mentira, uma lenda fantasiosa, é o devoto Fred Jorge, em seu livro:

“APARIÇÃO E MILAGRES DE NOSSA SENHORA APARECIDA” (Editora

Prelúdio Ltda., S. Paulo, 1954). Este livro foi sacram entado com o

Imprimatur que, por delegação do cardeal e sob a chancela da Cúria

Metropolitana, lhe apôs o cônego J. Lafayette, posteriormente bispo

auxiliar da Capital de São Paulo e, em seguida, bispo diocesano

(“ordinário”) em Bragança Paulista.

Esse mesmo livro, sacramentado, indulgenciado e “aguabentado”

por um solene Imprimatur do ordinário paulista, diz que, “para

enumerar todas as graças concedidas seriam precisos muitos volumes

de milhares de páginas...” (página 20). Propõe-se Fred Jorge colher

alguns dentre aquela quantidade enorme, a fim de apresentá-los aos

leitores. Contudo, por falta de autenticidade e seriedade nesses tantos,

apresenta uns poucos apenas, esclarecendo a sua necessidade de usar

de fantasia (página 22).

É! Depois de tanta fanfarronada, confessa-se fantasmagórico!

Teve razão aquele padre da Basílica que, em princípios do ano de

1961, me disse, referindo-se à Aparecida: “Ela não tem valor algum. Nós

gostamos dela porque nos traz muito dinheiro”.


.oOo.

A IMAGEM EM PEDAÇOS E O

BENZIMENTO DE JOÃO PAULO II

Fred Jorge anunciou a necessidade de “muitos volumes de

milhares de páginas” para registrar a imensa quantidade de prodígios

efetuados pela santa aparecida.

A lenda relata o princípio deles quando da vinda portentosa da

“imagem verdadeira”. Diz a mistificação que, em outubro de 1717, num

inexcedível milagre, a imagem caiu dos altos céus à terra, nas águas

barrentas do Rio Paraíba. E não se quebrou, apesar de haver caído

dessa distância infinita, imensurável.

Ora, em maio de 1978 (veja bem, em 1978), duzentos e sessenta e

um anos após aquele portento, a referida imagem caiu do seu altar, de

uma altura de, no máximo, três metros. E se espatifou em 175 pedaços.

Segundo o noticiário dos jornais obtido dos próprios sacerdotes da

Basílica, foram CENTO E SETENTA E CINCO PEDAÇOS. Ela tem

apenas uns 40 centímetros de altura e se esfarelou em CENTO E

SETENTA E CINCO ESTILHAÇOS. Fragmentos de barro seco, de terra

cota... Essa a padroeira do Brasil! Incapaz de se preservar...

Bem que aquele sacerdote, tendo gracejado da minha crença na

Aparecida, foi claro: “Ela não vale nada. Tanto assim que, se cair do

altar, se quebra. É de barro!!!”

Com efeito, semelhante desastre desmascarou de vez o embuste.

Somente um fanático, um cego espiritual consegue prosseguir na

devoção à santa aparecida e esfarelada. Esses aparecidólatras fazem-me

recordar do Salmo 115.5-8: “Têm boca e não falam; têm olhos e não

vêem; têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas

mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da

garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos

neles confiam”.

Tornados inermes, são impossibilitados de abrir os olhos para

enxergar o absurdo de tamanha crendice.

Alarmaram-se os donos da Basílica. Às pressas, recolheram do

chão os cacos da santa espatifada. Impunha-se pelo menos salvar as

aparências. Dizem! Enviaram os reduzidos pedaços ao Museu de Arte

Moderna de S. Paulo, incumbindo-o de reconstituir a santa.

Remendada, colada, recomposta, retornou ao seu altar. Essa obra de

restauração é considerada outro prodígio. Não posso, contudo, acreditar

nessa reconstituição. Impossível juntar tantos e tão diminutos

fragmentos colocando-os todos nos primitivos lugares devidos. Trata-se

de outra mistificação consentânea com os hábitos multisseculares da

padralhada.

Afinal, recomposta, a santa em triunfo foi reentronizada no seu

lugar na Basílica.

Precisa ela prosseguir em sua ignóbil atividade de estupidificar

considerável parcela da população brasileira.

A “capital da fé brasileira”, a “estância religiosa” é igualmente um

centro turístico com muitas opções de lazer e divertimento, e inúmeras

oportunidades para os ladrões, assaltantes e punguistas, bem como

traficantes de toda sorte de jogos de azar. Com efeito, em todos os

grandes centros de romarias católicas do mundo inteiro se concentram

os larápios e as prostitutas.

Lá em Aparecida os sacerdotes tudo exploram, sem qualquer pejo

de extorquir os devotos. Desde um teleférico ao preço de 50 cruzados

por pessoa (em outubro de 1987) até a subida de elevador ao alto da

torre da Basílica, torre essa com 18 andares, ao preço de 10 cruzados

por cabeça. É o elevador mais caro do planeta. Donos de incontáveis

lanchonetes, restaurantes, instalações sanitárias, botequins, hotéis e

lojas de “lembranças”, os clérigos de Aparecida exploram

comercialmente muitos divertimentos para todos os gostos, a exemplo

do parque de diversões do porte do Playcenter da Capital de São Paulo e

um enorme circo montados dentro da área da Basílica Nacional.

Por haver gorado o projeto “Empreendimentos Nossa Senhora

Aparecida” (ENSA), lançado em 1967 pelo Cardeal Rossi, então

arcebispo de São Paulo abençoado, a Prefeitura de Aparecida quer agora

edificar um plano de menores proporções.

Esquecem-se o alcaide e os vereadores locais dos gravíssimos

problemas de estrutura, cuja superação exige urgência urgentíssima, e

se distraem com um plano de lazer. Na realidade, como se encontra a

cidade de Aparecida é um escândalo de miséria. Miséria de sanitários

integrados numa miserável e obsoleta rede de esgotos que despeja o

volume de detritos no Rio Paraíba, emporcalhando as águas onde fora

descoberta a imagem e que servem para dessedentar e envenenar a

população. Miséria de água porque, além de poluída, peleja por chegar

às torneiras através de um precário serviço hidráulico montado há 50

anos. Miséria de planejamento, a causa de subir colina acima o casario,

saturando desordenadamente a topografia.

Tendo desapropriado uma área de cinco alqueires, às margens do

Rio Paraíba, com um projeto, em sociedade com o FUMESTE e a

EMBRATUR, a Prefeitura projeta urbanizar e montar um variadíssimo

parque de diversões. Os sacerdotes da Basílica recusam qualquer

participação no investimento e o condenam, porque ele desvia

considerável parte dos romeiros fregueses de sua firmas comerciais.

Como não restaurar (?) a imagem da santa espatifada, objeto e

pretexto de tanta exploração religiosa e comercial? Ela há quase

trezentos anos está ardilosamente instalada numa posição geográfica de

fácil acesso para os habitantes dos maiores Estados da Federação: São

Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.

Vindo ao Brasil, onde passou duas semanas, em 1980, o romano

pontífice João Paulo II, aos 4 de julho, lá esteve, celebrou missa,

proferiu seu discurso e, erguendo em suas mãos papalinas a imagem

“milagrosa” reconstituída, traçando com ela o sinal da cruz, benzeu o

Brasil. Em seu exemplar daquela semana, a revista MANCHETE

estampou a fotografia do ato benzetório.

Pobre Brasil! Sobre ele a completar suas bênçãos malditas, João

Paulo II, a encarnação do anticristo, abençoa-o com ídolo aparecídico.

Aparecidado, poderia este País desfrutar de melhor sorte? País este que,

sob a imposição de uma lei desonesta e arbitrária, a partir desse ano de

1980, como marco inicial de uma série imensurável de desgraças,

guarda em homenagem culto à Senhora Aparecida o dia 12 de outubro

como feriado nacional.

Enquanto perdurar em nossa Pátria a aparecidolatria, nunca será

vitorioso o Brasil. Todas as desgraças sobre ele se abaterão. Todas as

derrotas. A miséria material e espiritual. A indolência. A jogatina. A

corrupção em acentuadíssima escala e em todos os escalões da

Sociedade. Os cambalachos na política e nas transações comerciais. A

roubalheira desbragada. O alcoolismo em impressionante ascensão. O

meretrício com volume incontível de mães solteiras, culpadas pelos

milhões de menores abandonados. A irresponsabilidade. A impunidade.

A irreprimível violência. A politicalha sórdida. As clamorosas injustiças.

As leis imoralíssimas. As autoridades corruptas. Tudo em espantosa

decadência...

“Não há rei que se salve com o poder dos seus exércitos; nem

por sua força se livra o valente” (Salmo 33.16). Nada deste mundo,

absolutamente nada, resgatará o Brasil desse báratro em

impressionante e irreprimível crescimento. Nem por meio dos “seus

exércitos”. Nem pela “muita força” de qualquer Presidente da República.

A santa Aparecida, espatifada e restaurada (?) é a sua Senhora. Em

franca e acintosa desobediência a Deus, o Brasil prefere uma Senhora.

Prefere contrariar a magnífica e divina Promessa: “Feliz a nação cujo

Deus é o Senhor” (Salmo 33.12). Recusando o Senhorio de Deus, que

os brasileiros arquem com o jugo da sua rebeldia!

* * *

É este capítulo, à guisa de posfácio, acrescentado nesta vigésima

edição deste livro. Vinte e um anos depois do lançamento de sua

primeira edição (aos 24 de junho de 1967) e quatorze anos do

lançamento da sua décima edição (aos 26 de setembro de 1974),

também ao ensejo de sua vigésima edição posta a lume em 12 de

outubro de 1988, exibindo recentes fatos e novas reflexões, louvo ao

Senhor Deus pelas centenas e centenas de almas, em resultado de sua

leitura, libertas da aparecidolatria e tornadas crentes genuínas em

Jesus Cristo que por Ele têm sido salvas.

O lançamento da presente edição, na data de 12 de outubro, o

feriado nacional em culto da Senhora Aparecida, outrossim é um gesto

de repúdio à lei arbitrária e imoral. Significa ainda a presença de

brasileiros que estremecem de verdade a Pátria e anelam vê-la

submissa a Jesus Cristo.