Nesse artigo você terá a oportunidade de ler na íntegra um dos melhores livros que conheço a respeito dos bastidores da igreja católica. Trata-se de uma leitura obrigatória para todo cristão sincero.
A
SENHORA
APARECIDA
Dr. Aníbal Pereira dos Reis
(ex-padre)
Edições Cristãs
ÍNDICE
Prefácio
Devoto da Senhora Aparecida
Fui padre devoto da Senhora Aparecida
Nem a ganância, meta primordial dos clérigos
“aparecídicos”, me abriu os olhos
A surpreendente revelação
A verdadeira história da Senhora Aparecida
A razão do novo surto do “aparecidismo”
A Santacap, “Capital Mariana” do país
A rosa de ouro
Os milagres de Aparecida
A imagem em pedaços e o benzimento de João Paulo II
.
oOo.
PREFÁCIO
No dia 24 de junho de 1967 apresentei este livro ao público
brasileiro com as seguintes palavras: “A passagem do 250º aniversário
da ‘Senhora Aparecida’ oferece ao clero romano uma outra oportunidade
para, neste ano de 1967, recrudescer a propaganda de sua seita neste
País infelicitado pelos seus embustes.
Proporciona-me, outrossim, o feliz ensejo de apresentar aos meus
patrícios o relato verdadeiro sobre a ‘aparição da santa’.
Sentir-me-ei recompensado pelo fato de poder contribuir assim com o
esforço do nosso povo no sentido de sua emancipação religiosa”.
Com efeito, cumulou-me Deus com muitas recompensas a autoria
destas páginas.
Reconheço-me compensado pelas inúmeras pessoas que, ao leremnas, se libertaram do embuste. Compensado pelas centenas e centenas
de almas que, libertas da aparecidolatria em resultado de sua leitura, se
renderam a Jesus Cristo e por Ele foram salvas. Compensado pelos
sofrimentos a mim impostos da parte dos interessados em usufruir as
rendas produzidas com a exploração da Senhora Aparecida, como
aconteceu a Paulo Apóstolo quando, em Éfeso, a Verdade do Evangelho
punha em perigo o lucro dos fabricantes de imagens da Senhora Diana
e os promotores da dianolatria.
O meu grande título de glória reside nesses sofrimentos. E a sofrer
mais me disponho conquanto isso resulte na promoção do Nome
Sacrossanto de Jesus Cristo e na salvação das almas.
Este livro, cuja 10ª edição agora sai a lume, todo refundido e
recheado de novos fatos, é de uma atualidade permanente porque o
aparecidismo prossegue em seu nefasto programa de iludir os ingênuos
e estimular a idolatria com a sua sequência de horrores.
O simples relato do episódio da “descoberta” da imagem e a exposição
de alguns dentre os muitos fatos vinculados à Aparecida são chocantes
em sua contundência.
Daí a oportunidade deste livro. Aliás, a Aparecida demonstra de
maneira gritante ser o catolicismo romano o mesmo de sempre. E
refratário a qualquer substancial transformação, apesar dos propalados
intentos renovadores do Concílio Ecumênico Vaticano II.
A Aparecida não se constitui em anomalia num organismo em
renovação. Aparecida, conforme demonstram o interesse da hierarquia
episcopal em seu favor, a construção da sua enorme Basílica e a
munificência pontifícia de Paulo VI ao lhe enviar, através de um cardeal,
seu legado “a latere”, a ROSA DE OURO, nas comemorações do jubileu
de 1967, Aparecida se integra soberana na estrutura do catolicismo
romano, que é sempre o mesmo na sua pertinácia antievangélica e
idólatra.
Atual e oportuno continua este livro. A sua 10ª edição prosseguirá
a tarefa de disseminá-lo Brasil afora. E Deus continuará a abençoá-lo
como instrumento da Sua misericórdia em benefício das almas para
libertá-las do pecado e da iniquidade da idolatria.
Dr. Aníbal Pereira dos Reis
(ex-padre)
Araçatuba, 26 de setembro de 1974
.oOo.
DEVOTO DA
SENHORA APARECIDA
No clima profundamente religioso da minha família, aprendi, desde
muito criança, a ser ardente devoto da Senhora Aparecida, padroeira do
Brasil, segundo pretende o clero.
Como bons católicos, enviaram-me meus pais, aos seis anos de
idade, ao catecismo paroquial na igreja matriz de São Joaquim da Barra
(Estado de São Paulo), minha terra natal. Lembro-me perfeitamente. Foi
no último domingo do mês de maio de 1931. Nossa aula de catecismo
terminara mais cedo, antes das 3 horas, por causa da procissão do
encerramento de maio, o “Mês de Nossa Senhora”...
Sob a celeuma da enorme azáfama ressoavam as naves do templo.
As “Filhas de Maria” davam os retoques finais nos andores. O de “São”
Benedito, todo de amarelo, deveria sair: “Onde já se viu procissão sem a
sua presença?”. O de “São” Sebastião, que só saía em sua festa, em
janeiro, neste ano desfilaria no encalço dos outros em cumprimento de
uma promessa de um dos Junqueira, família abastada da região. O da
“Imaculada Conceição” estava sendo ornamentado na casa de Dona
Sara, a presidente da Pia União das Filhas de Maria. Iríamos vê-lo na
procissão. Reinava irrequieta curiosidade na expectativa de uma grande
e agradável surpresa. A imagem precisava ser mesmo um
deslumbramento porque seria coroada ao final da procissão, sob a
chuva intensa de multicoloridos fogos de artifício.
Raríssimamente nosso vigário, o padre Eugênio, aparecia no
catecismo. Aos domingos à tarde, o seu grande compromisso se resumia
em, cervejando, jogar baralho no bar do Paulo Trombini, ao lado do
cinema local.
Naquele dia ele foi. Insofrido, depois de haver explicado que cada país,
cada estado, cada cidade tem um santo protetor, contou-nos que o papa
declarara “Nossa Senhora Aparecida” padroeira do Brasil. Elucidou,
ainda, que Maria “Santíssima” é uma só e que as diversas e muitas
denominações a ela atribuídas não supõem diversas “nossas senhoras”.
É uma só! Tendo, porém, se manifestado em Lourdes, é chamada
“Nossa Senhora de Lourdes”; tendo aparecido em Fátima, é dita “Nossa
Senhora de Fátima”, etc. Relatou-nos também como apareceu “Nossa
Senhora Aparecida” no Rio Paraíba. Explicou que o Rio Paraíba não
ficava no Estado desse nome, porém no Estado de São Paulo. Informounos ainda na sua pressa que no dia 31 daquele mesmo mês de maio, no
Rio de Janeiro, a então Capital da República, haveria uma grande festa,
com a presença de todos os bispos do País, para coroar rainha do Brasil
a “Senhora Aparecida”.
Lembro-me, outrossim, do meu encantamento quando na
procissão vi o andor dessa senhora, o mais lindo de todos. Todo
iluminado, ornamentado de lantejoulas e ladeado de duas bandeiras
brasileiras e rodeado de pajens trajados de veludo azul. E a imagem
sobre o globo terrestre onde apareciam os contornos do mapa de nossa
pátria.
No sermão o padre convidou os fiéis para assistirem à missa no dia
31 em regozijo pelas solenidades a se darem no Rio de Janeiro,
oportunidade em que, a propósito, contaria os fatos relacionados com a
aparição da “miraculosa santa”.
* * *
Com efeito, nesse dia, relatou:
“Certa ocasião, o Governador da Capitania de São Paulo, Conde de
Assumar, em viagem para Minas Gerais, pernoitou em Guaratinguetá,
no norte de nosso Estado. Então a Câmara local decidiu oferecer-lhe
um banquete com uma grande variedade de pratos à base de peixe. À
ordem dada pela Câmara, os três pescadores, Domingos Martins
Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, foram ao Rio Paraíba, em cuja
margem direita se localiza a cidade de Guaratinguetá. Principiaram as
suas tentativas de pesca no Porto de José Corrêa Leite, descendo até ao
Porto de Itaguassú, onde João Alves, ao lançar sua rede, colheu, entre
alguns peixes, o corpo de uma imagem, sem cabeça. E, ao repetir a
operação mais abaixo, estupefato, verificou, envolta nos fios da tarrafa,
a cabeça da estátua.
Os esforços, antes improfícuos, tornaram-se compensados com o
êxito da abundante pescaria. A cabeça ajustou-se exatamente ao corpo
da imagem e, maravilhados, os pescadores viram ambas as partes
colarem-se fixamente, apenas encostadas. Foram os dois primeiros
milagres da ‘Senhora Aparecida’ no Rio Paraíba, aos 13 de outubro de
1717”.
E prosseguiu o vigário no seu conto:
“Felipe Pedroso, piedosamente, levou o achado para a sua casa,
onde o conservou pelo espaço de seis anos. Muita gente da redondeza
ia, especialmente aos sábados, rezar diante do oratório. Muitos
‘milagres’ aconteciam e a devoção se divulgou.
Em 1743, construiu-se uma capela. Em 1846, iniciaram-se as
obras de construção de um templo mais vasto, concluídas em dezembro
de 1888 e permanecem na atual basílica”.
Findo o seu conto, o nosso vigário conclamou todos os fiéis
presentes a se prosternarem ajoelhados para, em uníssono, repetirem
uma reza à Senhora Aparecida coroada, naquela hora, lá no Rio de
Janeiro, padroeira e rainha do Brasil:
“Escolhendo por essencial padroeira e advogada da nossa Pátria,
nós queremos que ela seja inteiramente Vossa. Vossa sua natureza sem
par, Vossas as suas riquezas, Vossos os campos e as montanhas, os
vales e os rios. Vossa a sociedade, Vossos os lares e seus habitantes,
com seus corações e tudo o que eles têm e possuem; Vosso, enfim, é todo
o Brasil... Por Vossa intercessão, temos recebido todos os bens das mãos
de Deus e todos os bens esperamos ainda e sempre, por Vossa
intercessão...”
Demonstra essa fórmula, ainda outra vez, a abismal distância
entre o Evangelho e o catolicismo...
Durante os anos do meu curso primário, sempre assisti e participei
de comemorações de nossas datas nacionais, em cujos programas
sempre se acentuou a Aparecida. Para mim, ser devoto da Senhora
Aparecida era condição indispensável para ser bom brasileiro.
Concluído o curso ginasial, fui para Campinas (Estado de São
Paulo) estudar no Seminário Diocesano “Nossa Senhora Aparecida”,
onde não se ouvia um sermão sem que ela fosse mencionada. A
jaculatória: “Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós”, repetia-se ao final
de cada dezena do rosário desfiado na enfadonha repetição da “AveMaria” defronte do altar-mor da capela encimado com a sua imagem.
Aconteceu em setembro de 1942 o IV Congresso Eucarístico
Nacional, em São Paulo. A Senhora Aparecida foi intitulada “peregrina
do Congresso”. Programou-se o comparecimento da VERDADEIRA
IMAGEM. Então, certa noite, o diretor do Seminário foi à capela pedir
rezas para que ela ficasse em São Paulo também durante os dias do
Congresso.
E, depois de haver eu ouvido pela centésima vez o relato de sua
aparição, o padre, naquela oportunidade, com intuito de elucidar os
seus receios, destacou este pormenor:
“Depois de aparecida, os pescadores levaram a imagem para a casa
de um deles, Felipe Pedroso, onde ficou alguns anos. Numa manhã, a
família espantada deu pela falta da ‘santa’. Ansiosos, todos foram
procurá-la. Encontraram-na, depois de tanta angústia, no alto da
colina. Levaram-na, de novo, para o seu altarzinho antigo, na casa do
pescador. Poucas noites seguintes, repetiu-se o incidente. Desconfiaram
os devotos que a Senhora queria ficar numa igreja construída no alto do
morro.
Vieram as contribuições, a capelinha foi edificada e a imagem
entronizada em seu altar, donde saíra uma única vez, em maio de 1931,
quando fora levada ao Rio de Janeiro para ser coroada rainha e
padroeira do Brasil”.
A estória de imagens fujonas, por carência de imaginação da parte
do clero, se repete, como no caso da Penha, no Estado do Espírito Santo
e no Rio de Janeiro, e na do Rocio, no Paraná.
Pobreza idêntica ocorre na aparição de tantas “Senhoras” a
envolver, num fastidioso plágio, crianças subnutridas e anormais, como
em Lourdes, Salete e Fátima.
Receava-se agora, esclarecia o padre, que “Nossa Senhora”,
durante a noite voasse de São Paulo para a sua basílica em Aparecida
do Norte.
Pedia-nos rezas e mortificações para que a “santa peregrina” se
dignasse permanecer na Capital Paulista durante os dias do Congresso
Eucarístico. Fervoroso devoto, rezei muitos rosários e fiz muitos
“sacrifícios” nessa intenção.
A recepção da imagem aparecida constituiu-se numa das mais
pomposas festividades daquele Congresso, cuja imponência se constata
pelo milhão de pessoas a acompanhar a procissão do seu encerramento,
quando a população de São Paulo ainda se encontrava aquém daquela
quantidade de gente.
Conduzia-se processionalmente a estátua da “peregrina” todas as
noites, da catedral da Praça da Sé, onde fora entronizada, para o Vale
do Anhangabaú, com o fim de presidir as sessões solenes. Essas
procissões, sem terem sido incorporadas no programa oficial das
comemorações eucarísticas, se transformaram em alvoroçadas
apoteoses.
Retornava a imagem, em seguida, para receber as homenagens das
multidões a se revezarem dia e noite. O povo devoto permanecia ali aos
pés da “santa peregrina” no desígnio de venerá-la condignamente
porque – supunha-se – satisfeita, permaneceria em São Paulo até o fim
das solenidades.
A imagem ficou. Foi exaltada em extremo. O Congresso,
programado para ser eucarístico, acabou sendo “aparecídico”. Dom José
Gaspar de Afonseca e Silva, cognominado o arcebispo de “Nossa
Senhora Aparecida”, a confirmar o mérito desta alcunha, erigiu, na
Várzea do Ipiranga, uma nova paróquia dedicada a essa senhora.
Mas, qual não foi o nosso desapontamento ao sabermos do engodo.
A verdadeira imagem não viera a São Paulo! Recebêramos apenas um
fac-símile! Encerradas as festividades do Congresso, fora entregue à
recém-instalada paróquia! Alguns seminaristas se revoltaram e se
julgaram vítimas de um ludíbrio.
“Rezamos tanto diante daquela imagem, supondo-a
VERDADEIRA...”
Conformei-me por estar convicto de que o povo não merecia sua
“augusta” presença... E porque “as autoridades eclesiásticas agiram
com prudência”...
Afinal, todas essas circunstâncias suscitaram em minha alma um
afeto entranhado à padroeira do Brasil...
.oOo.
FUI UM PADRE DEVOTO
DA SENHORA APARECIDA
Ao ordenar-me padre, em 1949, senti-me no dever de ir à sua
basílica cantar uma missa, por sinal a segunda, porque cantara a
primeira em minha terra natal. Nesse desejo, adquiri uma sua imagem,
fac-símile, benta pelo padre superior do Convento, destinada por mim a
me servir de companhia e penhor constante das bênçãos celestiais em
favor do meu sacerdócio.
Entranhadamente devoto da Senhora Aparecida, oferecia, como
presente, uma sua imagem fac-símile, a todas as noivas por mim
abençoadas no casamento.
Completados dez anos de sacerdócio, recebi, como uma verdadeira
promoção, minha transferência para Guaratinguetá, a cidade mais
próxima de Aparecida. Localizada à margem direita do Rio Paraíba, no
Estado de São Paulo, Guaratinguetá dista, pela Via Dutra,
aproximadamente 220 quilômetros do Rio de Janeiro, 185 de São Paulo
e 8 de Aparecida.
Fui nomeado pároco da novel paróquia de “Nossa Senhora da
Glória”, no bairro do Pedregulho. Sua igreja que, de tão pequena, o povo
cognominara de “igrejinha”, não oferecia condições para, realmente, ser
uma matriz paroquial. Decidi, por isso, construir um vasto templo.
Constituía-se-me imensa prerrogativa edificar essa obra consagrada à
Virgem Maria, e sonhava com um templo majestoso erguido naquele
outeiro do Pedregulho a olhar a “Basílica Nacional da Padroeira”,
plantada na colina de Aparecida. Lá do alto da torre da minha matriz,
fiquei muitas vezes a contemplar a “Basílica da Rainha do Brasil”...
Eu odiava os evangélicos, aos quais chamava de hereges por
combaterem “Nossa Senhora”.
Nesse tempo, apareceu lá em Guaratinguetá, um pastor. No seu
desejo de esclarecer o povo, contratou, numa das emissoras
radiofônicas locais, um horário para um programa evangélico.
Muitos católicos se descontentaram com as suas explicações. Um meu
colega, o clérigo Oswaldo Bindão, no seu programa de rádio, decidiu
responder ao pastor.
Estabelecida a polêmica, a cidade inteira se transformou em
estádio para assistir a contenda. O coitado do padre pediu água em
menos de uma semana.
Evidentemente, qualquer jovem das nossas Escolas Bíblicas
Dominicais, com a Bíblia na mão, põe qualquer padre a correr.
Nós, os padres em Guaratinguetá, estávamos acuados, arrasados,
com o fracasso do colega! E na certeza absoluta de que, se qualquer um
de nós fosse responder ao pastor, cairia no mesmo ridículo. O pastor
João de Deus Soares prosseguia dando os seus esclarecimentos. Nessas
alturas, o assunto girava em torno de Maria, de cuja face o pregador
retirava toda a caiação ignóbil que à Mãe de Jesus impôs o catolicismo
ao logo dos tempos.
Naquela oportunidade, encerrara eu, com uma retumbante
procissão, as festividades da padroeira da minha paróquia. O pastor
evangélico botou água na fervura do meu entusiasmo, criticando o meu
desfile mariano e citando Isaías 45.20: “Congregai-vos e vinde;
chegai-vos todos juntos, vós que escapastes das nações; nada
sabem os que carregam o lenho das suas imagens de escultura e
fazem súplicas a um deus que não pode salvar”. Transtornei-me de
cólera!
Noutro dia, o pastor resolveu apresentar aos seus radio ouvintes os
pontos coincidentes entre a Diana dos efésios e a Aparecida dos
brasileiros, à luz do relato de Atos dos Apóstolos 19.23-41.
Nós não tínhamos a força de argumento. E o jeito foi apelar para o
argumento da força! E, se demorássemos, perderíamos muitos dos
nossos melhores fiéis...
A mentira, a calúnia, o achincalhe são os melhores argumentos
para os covardes sem argumento.
Incumbiram-me de resolver o problema. Apelei para a violência,
comandando um batalhão de fanáticos. E, em menos de uma hora,
num domingo à noite, foi destruído inteiramente o templo do pastor
João de Deus Soares, lotado de pessoas participantes do culto. A
Senhora Aparecida deve-me também este favor!
No dia imediato, no programa “Marreta na Bigorna”, da Rádio
Aparecida, o clérigo Galvão, desatou uma gargalhada satânica e
parabenizou os católicos de Guaratinguetá pela façanha...
O arcebispo de São Paulo congratulou-se vivamente comigo e,
horas após o nosso encontro, declarou, por um grande jornal de São
Paulo, que lamentava os fatos ocorridos em Guaratinguetá.
O clero católico é a hierarquia dos homens de duas caras!!! Dos
refolhados!!!
Estreitíssimas mais ainda se tornaram minhas relações com os
padres responsáveis pela Basílica de Aparecida, em cujo convento se
fabricava, exclusivamente para o consumo interno, cerveja mui
apreciada entre os reverendos.
No trato com os clérigos seculares, constatei a falta de amor
fraterno entre eles. Supunha, todavia, que houvesse entre os regulares
ou conventuais, como os franciscanos, jesuítas, dominicanos,
salesianos, redentoristas. Engano!
Entre estes últimos, que são os responsáveis pela Basílica e de
quem mais me aproximei, acontece a mesma carência, senão pior.
Lá dentro do seu convento, ao lado da “rainha” do Brasil, os padres
se estracinham com ódio extremado. Os apelidos são os mais
humilhantes. Havia lá o “padre Tortinho”, o “padre Marreta”, o “padre
Aventura”, o “padre Zoraide”, o “Madame Fifi”... E de cada um havia um
motivo especial indicado pelo próprio vocábulo...
.
oOo.
NEM A GANÂNCIA,
META PRIMORDIAL
DOS CLÉRIGOS
“APARECÍDICOS”,
ME ABRIU OS OLHOS...
Sentia, outrossim, a frieza espiritual naquele ambiente de clérigos,
profissionais da religião. Sempre os vi tratando das coisas de sua seita
com ganância sórdida. Só lhes interessava o que dá lucro.
A respeito de qualquer assunto, a pergunta é sempre a mesma:
“Quanto rende?” E vem acompanhada do sinal característico de se
friccionarem as pontas dos dedos polegar e indicador.
E fazem praça disso até na sua emissora. Certa feita, chegou uma
carta, perguntando sobre as riquezas da Senhora Aparecida.
Respondeu-a Victor Coelho de Almeida, no seu programa radiofônico:
“Sim, ‘Nossa Senhora’ é muito rica. Rica mesmo! Ela tem hotéis,
restaurantes, bares, casas de aluguel (muitas casas de aluguel!), kombi,
peruas, automóveis. Ela tem muito dinheiro... Dinheiro que os seus fiéis
mandam e trazem... Ela tem muitas joias, anéis, braceletes, colares. Ela
tem muito ouro e pedras preciosas. Até a princesa Isabel lhe deu
preciosas joias. Quem tem ouro e pedras preciosas, mande para ‘Nossa
Senhora’...”
A cupidez é tamanha que as suas lojas não respeitam sequer o
domingo. Se se cerrarem as suas portas, deixarão de ganhar no dia de
maior afluência de peregrinos aos padres e, a propósito, estão situadas
ao lado da Basílica e anexas à porta de entrada da emissora. Ao entrar
no templo, porém, depara-se com a proibição terminante de acender
velas. Apresenta-se-lhe, outrossim, a solução: deixar o brandão numa
caixa adrede colocada ao lado do altar da “padroeira”. O “pagador de
promessa” sai na doce ilusão de que o padre vai, em sala adequada,
queimar a sua vela em honra à santa. Engana-se, porque um dos
sacristães recolhe todas as velas ali depositadas, levando-as novamente
para a loja. E a vela do devoto caiu no círculo rendoso dos clérigos. Sai
da loja. Vai para a caixa da Basílica. Volta à loja. De novo, na Basílica...
E o dinheiro cresce na “caixa registradora”...
Tudo lá é comercializado! E os redentoristas não admitem
concorrência, nem por parte dos seus colegas de outras igrejas. Num
fim de ano, um sacerdote do Rio de Janeiro, com o objetivo de angariar
fundos para a construção de um templo, instalou, num terreno
alugado, um presépio mecanizado e movido a eletricidade, cobrando dos
interessados o ingresso ao local. Pois os padres da Basílica protestaram
e obrigaram ao coitado a arrumar “a trouxa e dar o fora”. Todo o mundo
só pode ver o presépio deles para lhes deixar o dinheiro. Em Aparecida,
arrecadação de esmolas é direito reservado... De todas as partes afluem
contribuições para seus cofres. Mas ninguém pode ir lá colher uma
migalha... A ganância atinge os paroxismos da usura!
Fui convidado para celebrar um casamento de pessoas amigas e
muito ricas. Por ser sábado à tarde, havia muitos outros. Os noivos,
meus amigos, pagaram todas as elevadas propinas estabelecidas pela
direção do santuário aparecidano. Na conformidade em que os noivos
adentravam no templo, ao som da “marcha nupcial”, um servente da
Basílica enrolava o grosso tapete de veludo grená. É que, logo atrás,
entrava um par de nubentes pobres. Não lhes permitiram as posses
pagar a taxa referente ao tapete e tiveram de passar, “sob os olhares
maternais da incomparável protetora dos brasileiros”, por essa
humilhação. O pior ainda aconteceu depois! Chegados junto dos
degraus do altar da Senhora Padroeira, foram embargados seus passos
pelo referido servente, que os encaminhou a um altar lateral. A noiva,
desconsolada, explicou ao sacerdote celebrante de suas núpcias que
viera do Paraná precisamente para casar-se no altar da “rainha” em
cumprimento de uma promessa. Inúteis seus rogos e vãs as suas
lágrimas... O padre, irritado, alegou que essa promessa não tinha valor
algum e “mastigou”, em cinco minutos, a fórmula ritual.
Tudo isso me indignava. Mas tudo isso consolidava ainda mais a
minha devoção à Senhora Aparecida. Compadecia-me dela por vê-la
cercada desse deboche e explorada por essa chusma de crápulas.
Um bispo do interior paulista tem carradas de razão ao afirmar que
a Aparecida é a vergonha do catolicismo no Brasil!
O Concílio Ecumênico Vaticano II, falido desse seu início, foi
incapaz de modificar essa situação sempre interessante para o clero
cúpido, em cujo peito, ao invés de coração, encontra-se instalado um
cofre.
O Ministro Mário Andreazza, dos Transportes, a convite, visitou
Aparecida, em 13 de julho de 1969. Cercaram-no de salamaleques os
clérigos chefiados pelo arcebispo aparecidólatra, o cardeal Carlos
Carmelo de Vasconcelos Motta, com a sua ladainha de reivindicações
em favor da construção da nova Basílica e de outras obras católicas.
Surpreendendo o cardeal e os seus sabujos, incontido e sem
subterfúgios, o Ministro demonstrou a sua desaprovação à
permanência, ao redor da Basílica, das “caixinhas” (pequenas bancas
onde são vendidos santinhos, imagens e outros apetrechos
aparecídicos).
Quase todos os dias frequentava eu a Basílica, onde permanecia
muito tempo rezando, de joelhos, o rosário diante da imagem.
Desde tenra infância, ansiei por certeza de minha salvação eterna.
Procurei-a em inúmeras devoções a mim sugeridas ou aconselhadas.
Busquei-a no exercício do ministério sacerdotal católico. Macerei-me,
chicoteei-me, jejuei... Vali-me da prática da caridade, criando e
dirigindo obras sociais. Tudo em vão... Em meu livro: “ESTE PADRE
ESCAPOU DAS GARRAS DO PAPA”, minha biografia, relato os
dolorosos lances do meu longo e dilacerante drama interior.
Tomei-me de esperanças quando cheguei a Guaratinguetá. Imensa
era minha expectativa de encontrar na Senhora Aparecida a bênção da
certeza da vida eterna.
Por isso, ia amiúde à igreja rezar longos rosários defronte da sua
imagem, no aguardo de uma resposta celestial...
.oOo.
A SURPREENDENTE
REVELAÇÃO
Numa tarde de quarta-feira, no começo do ano de 1961, em
seguida às funções rituais da “novena perpétua”, a que eu assistira, um
sacerdote (com um psiu!), tirou-me do meu recolhimento devoto.
Aproximei-me dele.
Perguntou-me à queima-roupa:
“O que você vem fazer aqui quase todos os dias?”
“Rezar à ‘Nossa Senhora Aparecida’”, respondi-lhe. E, ante o
sorriso gracejador do padre, esclareci: “Sou muito devoto de ‘Nossa
Rainha’ e espero dela todas as graças necessárias para a minha
salvação eterna...”
Não pude falar mais porque o padre me interceptou com
vivacidade:
“Você parece um beato vulgar. Que lhe poderá dar esta estátua de
barro? Ela não tem valor algum. Nós gostamos dela porque nos traz
muito dinheiro”.
E, levando as duas mãos aos bolsos, fez o gesto significativo de
quem carreia vultosas somas.
Pávido, arrisquei a pergunta:
“Mas... E os padres não crêem em ‘Nossa Senhora Aparecida’”?
Um retumbante NÃO abafou as últimas sílabas da minha
interrogação.
“Ela não vale nada, Tanto assim que, se cair do altar, ela se
quebra. É de barro!!!”
Saí da Basílica atordoado. Passei a noite seguinte em claro,
rememorando os fatos e tirando conclusões. Aterrorizado, sentia
esboroarem-se as restantes ilusões da minha vida religiosa.
Encorajado pelo propósito de servir a Deus desvencilhado de todos
os embustes, decidi levar até as consequências extremas a minha
investigação sobre o assunto.
Não me foi muito difícil. Aproveitei a franqueza daquele sacerdote e,
noutro dia, abordei-o novamente. Relatou-me ele os verdadeiros fatos
relacionados com a imagem da Senhora Aparecida. Relato este
confirmado ulteriormente por outros sacerdotes, seus confrades
conventuais.
Compadeço-me do brasileiro... Povo de excepcionais qualidades.
Inteligente e dotado de sentimentos primorosos. Capaz de heroísmos e
tão paciente... Haverá, porventura, povo mais paciente que o brasileiro?
Quanta esperança ele vem revelando em tanto sofrimento... Em tanta
exploração a que é submetido.
Muitas vezes ludibriado em sua boa fé. Porém sempre confiante. É
um crime de lesa-humanidade explorar-se esse povo. Por isso estou
revelando estas informações. Desejo ardentemente cooperar com esse
povo excepcional em sua libertação dos embusteiros. Eu sei
perfeitamente que recrudescerão as perseguições movidas pelo clero
contra mim. Mas vale a pena sofrer pela emancipação espiritual do
Brasil.
Ao preparar a nova edição deste livro, recordo-me das muitas
almas, anteriormente devotas sinceras da “padroeira do Brasil”, pela
instrumentalidade destas páginas, libertas da aparecidolatria e
convertidas a Jesus Cristo. Lembro-me, por exemplo, de Dona Glorinha,
residente no interior capixaba. Devotíssima da “incomparável Senhora”,
em romaria, visitava-lhe a imagem pelo menos uma vez cada ano.
Pessoa amiga oferecera-lhe um exemplar deste livro. A curiosidade
sobrepujara o seu propósito de recusar a sua leitura, pois temia ofender
a sua Senhora Aparecida. Guardá-lo-ia por alguns dias e o devolveria ao
proprietário, um crente fiel e ansioso por esclarecer os iludidos. Sua
curiosidade, porém, superou a força do seu propósito.
Lendo-o, revoltou-se contra o escritor, atirando-lhe, apesar de
distante, insultos pesadíssimos. Quis buscar alívio para os seus
remorsos por ter feito semelhante leitura. E foi a Aparecida confessar o
seu grande pecado (???).
O sacerdote confessor recriminou-a asperamente por haver lido o
livro do “padre excomungado”. E impôs-lhe, como penitência, a reza de
longas devoções diante do altar da “santa”.
Concluída a penitência imposta, saiu à compra de “lembranças”
destinadas a parentes, comadres e companheiras da Irmandade do
Sagrado Coração. Separara já medalhas, xícaras, copos, canecos,
pratos, quadros... Tudo com dísticos ou decalques da “senhora”.
Chegava ao fim a sua tarefa de selecionar as “lembranças”, quando
os seus olhos se esbugalharam numa coisa horrorosa. Esbugalharamse num pinico a exibir, colada no seu fundo, a estampa da
“incomparável Aparecida”.
Indignada, deixou todas as bugigangas sobre o balcão e o
comerciante falando sozinho.
Regressou à casa. Releu o livro. Procurou o seu proprietário.
Ouviu-lhe as explicações pormenorizadas sobre o plano de salvação do
pecador.
Rendeu-se. Renunciou à idolatria. Arrependeu-se. Converteu-se.
Aceitou pela fé Jesus Cristo como o seu ÚNICO e TODO-SUFICIENTE
SALVADOR. Crente consagrada, hoje conta a sua experiência de
conversão no intuito de levar a Verdade do Evangelho a tantos pobres
escravos da aparecidolatria.
* * *
Brasileiros, a Senhora Aparecida é uma falcatrua! É um conto do
vigário!
Você, que se supõe seu devoto, está sendo enganado! Você, que
tem em sua casa a sua imagem e lhe acende velas, está sendo
ludibriado! Você, que lhe manda esmolas, está sendo esbulhado! Você,
que vai em romarias à sua Basílica, está sendo ridicularizado!
Sim, senhores! Eu vi os padres zombarem e pilheriarem dos
romeiros... Vi-os praguejar os devotos romeiros que colocam no
“sagrado cofre” notas velhas e rotas a lhes exigirem consumo de
adesivos...
A um deles, um devoto perguntou:
“Seu vigário, por que a Senhora Aparecida é morena?” Eis a
resposta: “Porque ela é de barro!!!”
Pobre povo que confia numa protetora feita de barro...
.oOo.
A VERDADEIRA HISTÓRIA DA
SENHORA APARECIDA
Vou relatar os fatos verídicos referentes à imagem dessa Senhora.
Localiza-se o início de sua estória no período da Civilização Brasileira.
Corriam muitas lendas sobre descobertas de jazidas riquíssimas de
ouro e outras preciosidades. O contágio do entusiasmo atingia as
vascas do fascínio. O povo paulista, sobretudo, ardia numa febre
desvairada provocada pelas lendas das esmeraldas, as valiosíssimas
pedras verdes, cujas montanhas se encravavam quais seios úberes em
plena selva.
Este sonho acutilante é que produziu as maiores epopeias das
nossas Bandeiras, uma das mais empolgantes páginas da HistóriaPátria. Se não descobriram as montanhas verdes das esmeraldas, os
bandeirantes plantaram cidades e dilataram o território nacional
apertado até então na faixa estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas,
imposto pelo papa Alexandre VI aos descobridores espanhóis e
portugueses.
Sim! Essas Entradas é que desbravaram o sertão, devassando e
conquistando, com sua audácia, o imenso território do Rio Grande do
Sul, de Santa Catarina, de Mato Grosso, do Paraná, de Goiás e de
grande parte de Minas Gerais porque a “bota de sete léguas” dos
bandeirantes chutou os limites de Tordesilhas...
A miragem das montanhas de pedras verdes ardeu, por décadas,
na mente de muitos brasileiros do Planalto de Piratininga. Fulgurou,
sobre tudo, no espírito do indômito Fernão Dias Paes Leme, o
bandeirante por antonomásia, cuja morte, em plena selva, transferiu
para Sebastião Raposo Tavares o fascínio de desvendar o segredo
daquela descoberta alucinante.
O fim desastrado da jornada de Raposo Tavares, em 1713,
entretanto, assinalou o último sonho das esmeraldas, que deixou, em
São Paulo, qual cicatriz, um profundo sentimento de frustração.
É de se notar que, à exceção de uma ou outra, todas as Bandeiras,
iniciaram sua jornada saindo do Planalto Piratiningano pelo Rio
Paraíba, em cujo vale deixavam, como rastro, uma enorme expectativa
na alma do povo.
Se as esmeraldas, porém, foram uma quimera não
transubstanciada em realidade, diferente resultado ocorreu com o ouro,
explorado em Minas Gerais, o causador do incêndio de irresistível
cobiça, origem de muitos crimes e inomináveis traições.
Naquela época em que o Brasil era Império de Portugal, não se
dividia ele em Províncias ou Estados como hoje. Repartia-se em
Capitanias, dirigida cada qual por um governador nomeado por El Rei
português e vindo diretamente de Além-Mar.
O Governador Dom Braz Baltazar da Silveira não mais conseguiu
pôr cobro às desordens reinantes na Capitania de São Paulo e Minas
Gerais, de sua jurisdição, nem reprimir o contrabando do ouro e, muito
menos, coletar os impostos estabelecidos pela Coroa Real.
El Rei Dom João V houve por bem, nessa conjuntura, chamar o
inábil Governador e substituí-lo. E, em junho de 1717, o Capitão Geral,
Dom Pedro de Almeida, Conde de Assumar, aportou no Rio de Janeiro,
donde, via Santos, se encaminhou, incontinenti, para São Paulo, aos 4
de setembro de 1717.
Num ambiente tranquilo e, ainda, oprimido pelas frustrações da
Bandeira de Raposo Tavares, o novo Governador, aos 4 de setembro de
1717, foi empossado no seu cargo.
Ao contrário de Piratininga, nas Minas Gerais, o clima era de
exaltação incendiada pela ganância de ouro, cuja mineração provocava
os mais pacatos.
Competia ao Governador recém empossado restabelecer a justiça,
recolher os impostos e exigir o retorno da ordem.
* * *
O Conde de Assumar toparia com uma barreira formidável a lhe
embargar a consumação dos seus propósitos.
É que os frades eram “dos elementos mais perniciosos entre os que
tinham entrado e continuavam a entrar com as avalanches, que
enchiam aqueles distritos, e não só porque se entregavam
desenfreadamente ao ganho como todo aquele mundo, mas ainda
porque, valendo-se do seu ascendente sobre o espírito da massa, eram
quase sempre os promotores de todas as desordens”.
Desgraçadamente os compêndios de História do Brasil adotados
por nossas escolas aureolam os padres e os frades do tempo da nossa
Civilização com as glórias de heróis. Os seus autores sabem que, se
disserem a verdade, os seus livros não terão guarida nos ginásios, em
grande parte, dirigidos, maquiavelicamente, por padres e freiras, ou que
deles recebem “orientação”.
Aquelas nossas informações, acima aspadas, são de Rocha Pombo,
registradas em sua História do Brasil (Rio de Janeiro – 1905, volume 6,
página 245), cuja PRIMEIRA EDIÇÃO deveria ser lida por todo
intelectual patrício.
Destaco em caixa alta a PRIMEIRA EDIÇÃO porque as
subsequentes foram criminosamente resumidas e mutiladas. Destas
podaram-se todos os informes sobre latrocínios, extorsões, atrocidades
e crimes cometidos pelos clérigos missionários.
A maioria dos brasileiros supõe que, naqueles tempos, Portugal
açambarcava todo o ouro bateado pelos lavangeiros ou garimpado nos
veios das rochas. Supõe, também, que, em tempos posteriores, a
Inglaterra usurpou-o das bruacas lusitanas. Verdade é que o Reino
estabelecia impostos, arrecadados pela quintagem, com o fim de
beneficiar o seu erário.
Os frades, contudo, não vieram para o Brasil com missão de
catequizar. O historiador Rocha Pombo, no passo já referido, informanos que o Conde de Assumar, dentre as questões a enfrentar, tinha de
se haver com a da “expulsão de todos os religiosos regulares que não
tivessem naquela Província do seu domínio uma função certa, própria
do seu apostolado”.
Tinham esses “religiosos” (frades cognominados pela legislação
romanista de “religiosos regulares”) outra incumbência bem diversa da
apregoada e que causou graves prejuízos ao Brasil. Vieram carrear o
ouro para o papa e para os seus conventos na Europa!
O ouro do Brasil, em grande parte, encontra-se ainda hoje em
poder do Vaticano, que o faz ocupar o segundo lugar no mercado desse
valor precioso, cujas reservas o papa deposita no Federal Reserve Bank,
em Washington. O papado não ocupa o primeiro lugar no mundo nesse
mercado porque preferiu trocar uma parte do seu ouro com outros
valores, como dólares, que atingem a cifra astronômica de 90 bilhões, e
em títulos de sociedades italianas avaliados em 9 trilhões de liras e de
sociedades de outros países cotados em 8 bilhões de libras esterlinas. E
essa riqueza fabulosa e atual do Vaticano o faz o maior acionário de
todo o mundo!
No livro “SERÁ QUE PODEMOS CONFIAR NOS PADRES?”, de
minha autoria, demonstro a incompetência intelectual e moral do clero
romano quando se põe a ditar normas no sentido das reformas das
nossas estruturas sócio-econômicas. Em seu último capítulo, intitulado
“O SUPER CAPITALISMO ECLESIÁSTICO É AMEAÇADO PELA
INSTABILIDADE POLÍTICO-SOCIAL DA ITÁLIA”, patenteio o horror dos
seus métodos de vampiro pantagruelicamente ganancioso e relaciono
algumas das suas fabulosas e atuais fontes de riqueza.
Enquanto os brasileiros lutam, desesperados, para escaparem
dessa situação de subdesenvolvimento estrangulante de nossas
riquezas, o Ali-Babá do Vaticano se enriquece cada vez mais à custa dos
investimentos do ouro e de outras riquezas levadas do Brasil pelos seus
clérigos.
Convencido da gravidade da situação em Minas Gerais e da sua
responsabilidade em recobrar a ordem, o Conde de Assumar decidiu
interferir pessoalmente.
Deixando como seu substituto em São Paulo o oficial de grande
patente Manuel Bueno da Fonseca, partiu, em fins do mesmo mês de
sua posse (setembro de 1717) com destino a Ribeirão do Carmo (hoje
Mariana), em Minas Gerais.
Naqueles tempos remotos, essa viagem só podia ser feita via Vale
do Paraíba (norte do Estado de São Paulo).
Guaratinguetá é uma das cidades desse Vale. Foi fundada à
margem direita do Rio Paraíba, em 1641, pelo Capitão-Mor Dionísio da
Costa, lugar-tenente donatário, e, por isso, gozava de grande prestígio
até os fins do regime das Capitanias.
O Conde de Assumar chegou, com sua comitiva, nessa cidade, aos
12 de outubro. Prontamente, as autoridades locais, solícitas em
aguardá-lo, promoveram-lhe toda sorte de homenagens e respeitos.
Por ser o catolicismo a religião oficial do Reino, o vigário destacavase nas cidades como a autoridade mais importante. O “batizado” pelo
padre equivalia ao registro civil. O casamento era só no religioso. Quem
não era católico, como um criminoso lesa-pátria, não podia casar-se e
nem registrar os filhos.
Esta posição do catolicismo outorgava aos vigários o ensejo de
serem ótimos arrecadadores de riquezas para o pontífice de Roma.
Em Guaratinguetá, encontrava-se, como vigário, o jovem padre José
Alves Vilela. Como todo clérigo, conhecia perfeitamente a arte de
bajular.
Pelo próprio fato de ser o catolicismo romano a religião oficial do
Reino de Portugal, a nomeação dos bispos dependia inteiramente da
indicação feita pelo Rei.
O padre Vilela sofria de “bispite” aguda. Do desejo desenfreado de
ser bispo! Percebeu na passagem do Conde de Assumar por sua
paróquia uma extraordinária oportunidade de, sabujando, credenciar-se
às boas graças do Governador, que o apontaria a El Rei como candidato
à mitra.
E mãos à obra! A par das demonstrações cívicas de respeito ao
Governador promovidas pela Câmara, o padre Alves Vilela, como
autoridade mais importante do lugar, programou festas religiosas de
grande aparato para impressionar o homenageado.
Desde sempre o clero gostou de se valer de seu ritualismo litúrgico
para engodar as autoridades civis com o objetivo de sugar-lhes
subvenções ou propiciar clima para se manter prestigiado. Num dos
nossos Estados, os bispos condenaram a candidatura de certo cidadão
à governança. Feridas as eleições e vitorioso o candidato anatematizado,
os “amantíssimos ordinários” promoveram-lhe demonstrações de “afeto
e deferência, culminando a sabujice, no dia de sua investidura, com
uma missa de “ação de graças” mui solene.
Note-se, a título de informação, que o termo canônico designativo
de bispo diocesano é “ordinário”.
Para se colocar bem diante do Conde Governador, preocupado e
zangado com os clérigos baderneiros de Minas Gerais, “promotores de
todas as desordens” (Rocha Pombo – loc. cit.), o padre Vilela tomou
atitude oposta à dos seus colegas. Reconheceu na sua subserviência ao
chefe da Capitania uma oportuníssima manobra para conquistar-lhe a
simpatia.
Entre o clero há traidores dos padres traidores! Enquanto os frades
de Minas traíam sua posição de aparentes catequistas, causando
baderna, o padre Vilela manifestava-se servil.
Nas águas turvas da situação de descrédito em que imergiam os
frades, o padre Vilela quis pescar um peixe gordo. O peixe de uma
posição perante o Governador favorabilíssima às suas pretensões
“bispais”. E, como o peixe se pega pela boca, alvitrou oferecer ao Conde
um opíparo banquete.
Mas um desses banquetes de assinalar marco na história da
culinária!
Notabilizara-se o Rio Paraíba pelas suas águas piscosas. Por isso, os
pratos em peixe distinguiam a cozinha valeparaibana. O banquete
oferecido pela comunidade guaratinguetaense ao ilustre viajante, na
programação estabelecida pelo incensador clérigo Vilela revelar-se-ia
por grande fartura de peixes nas mais diversas modalidades de
tempero.
O jovem e pretensioso vigário divisou no ambiente uma
circunstância especialíssima para ser aproveitada naquele
acontecimento. E decidiu capitalizar a seu favor a frustração do povo do
Vale pelos insucessos das últimas Bandeiras, cujas miragens de
esmeraldas se esboraram.
Decepcionado, todavia, não se descoroçoara o povo. Esperava
encontrar alguma coisa de notável.
Desde o princípio de seu paroquiato, travara Vilela conhecimento
com os pescadores de sua freguesia e da região. Deles, e somente deles,
é que esperava a mais decidida colaboração nas suas festividades
religiosas porque a pesca, naqueles tempos, acima mesmo da
agricultura incipiente, se estabelecia como a mais importante fonte de
riquezas do Norte da Capitania.
E, dentre os pescadores seus conhecidos, três se distinguiam pela
espontaneidade em auxiliar, pela singeleza de sua fé e, sobretudo, pelo
seu acatamento às solicitações do vigário. Domingos Martins Garcia,
João Alves e Felipe Pedroso, os seus nomes!
Procurou-os, então, o clérigo Vilela, incumbindo-lhes da pesca
para o banquete-homenagem.
Nem estranharam a dedicação e o interesse do seu vigário por
aquela pesca. Supunham-no desejoso realmente de exaltar, à vista do
Governador, as qualidades da cozinha da Vila, de lhe demonstrar
respeito e, certamente, creditar a região a favores futuros.
Admirados, contudo, receberam no dia do banquete (13 de outubro
de 1717), manhã cedo, as ordens do vigário no sentido de que
lançassem suas redes no Porto de Itaguassú, próximo do Morro dos
Coqueiros. Como ativos pescadores, sabiam que os peixes permanecem
mais nas partes calmas do rio e não é possível pesca alguma junto de
um porto, onde há tanta movimentação.
Toda aquela zona dispunha do Rio Paraíba como principal via de
comunicações e transporte. E, dentre os portos, o de Itaguassú se
notabilizara por servir vasta extensão.
Em vista de sua própria profissão, entenderam os pescadores a
ineficácia da ordem extravagante do vigário. Mas, ingênuos e
submissos, obedeceram.
Não lhes convinha desacatar o sacerdote ameaçador e capaz de
praguejá-los e amaldiçoá-los.
Lançaram a rede na convicção de nada apanhar. Surpresos,
porém, retiraram das águas uma imagenzinha de 0,40 metros de altura,
talhada, em terra cota escura, nos moldes da Madona de Murilo, que o
clero utiliza como símbolo da “IMACULADA CONCEIÇÃO” de Maria.
Decidiram guardar a imagem aparecida nas águas dentro do
embornal e prosseguir além sua tarefa.
Obtida a quantidade de pescado exigida pelo clérigo anfitrião,
foram à sua residência fazer-lhe a entrega.
E, jubilosos, na sua crença ingênua, mostraram ao padre,
misturado na comitiva do Governador, a imagem aparecida.
Enternecido o vigário pelo sucesso do seu empreendimento, pois
ninguém soubera e nem desconfiara da sua ida durante a madrugada
ao Porto de Itaguassú para deixar nas águas aquela imagem, despejava
suas expressões religiosas e deslambidas acentuando o “fator milagre”
daquela descoberta.
Todo o povo daquela região presente em Guaratinguetá para
receber o Governador Conde de Assumar, ludibriado em sua
credulidade, exultou o “milagre” sucedido, vinculando-o à santidade do
seu vigário e divulgou a notícia à distância.
“Arre! Se falharam as aventuras em busca de esmeraldas, o
‘milagre’ interveio para dar ao povo desiludido uma preciosidade muito
maior!!!”, parafusava o padre que, de propósito, havia colocado a
imagem nas águas do Porto de Itaguassú.
Na intenção de valorizar o enredo do seu estratagema religioso,
achou melhor entregar a estátua a um dos pescadores, Felipe Pedroso,
residente no sopé do Morro dos Coqueiros.
Retirando-se o Conde de Assumar no seguimento de sua viagem,
os fiéis, em procissão, acompanharam o felizardo pescador que,
piedosamente, colocou, sob a emoção das circunstâncias, a imagem
colorida entre os “santos” do seu tosco oratório.
Inglórios os esforços do vigário Vilela junto ao Governador! Tão
assoberbado de problemas em sua curta estada no Brasil à testa da
Capitania de São Paulo, não teve sequer a lembrança de sugerir a El Rei
o nome do pároco de Guaratinguetá como candidato a bispo de alguma
diocese do Reino.
Não se desesperançou o padre. Decidiu incentivar a devoção da
senhora aparecida, promovendo atos religiosos na casa de Felipe
Pedroso. Quem sabe se o seu nome assim ligado à estatua aparecida
“milagrosamente” se encheria de fama e repercutiria nos ouvidos do
superstiocíssimo El Rei Dom João V, que ouvia missas sobre missas,
distribuía dinheiro a rodo a quantos santos figuravam no calendário,
enchia de ouro os conventos e, enlevado por violenta paixão à sua
amante, a freira Paula, do Convento de Odivelas, alcançou do papa o
título de Rei Fidelíssimo.
As esmolas lançadas, em grande cópia, no oratório da “santa”
permitiram ao vigário sonhador da mitra episcopal repartir com o
devoto Felipe Pedroso, que pôde obter numerário para comprar uma
pequena fazenda e construir casa nova em Ponte Alta, também nas
proximidades do Porto de Itaguassú, onde entronizou, em oratório novo,
a imagem de terra cota aparecida.
A devoção mais importante e mais concorrida nesse local acontecia
aos sábados à noite.
Sucedeu Felipe Pedroso, após a morte, na incumbência religiosa, o
seu filho Atanásio. Um pouco arredio a essas beatices, este herdeiro
achou melhor construir fora de casa uma capelinha para se ver livre
das importunações dos devotos e transferiu a Silvana da Rocha o mister
de puxar as rezas e os cânticos.
Primava a rezadeira-mor Silvana em dirigir o rosário dos sábados,
incrementando a afluência dos humildes com animados bailes regados
a pinga após a reza, na intenção de alegrar os devotos caboclos
desprovidos de outros divertimentos.
Os anos se passaram e o nome do padre Alves Vilela, sem ser
sugerido nas eleições dos bispos!
Em 1742, Dom João V foi acometido de uma paralisia que o
imobilizou para sempre, apesar de suas treze jornadas às Caldas da
Rainha (nas proximidades de Leiria, que atrai ainda muitas pessoas por
ser uma das mais importantes estações termais de Portugal), escoltado
por um exército de freiras e padres interesseiros.
O vigário de Guaratinguetá, agora já encanecido, porém
esperançoso, mantinha-se ao par de todas as notícias vindas de Além
Atlântico.
Conhecedor da carolice de El Rei e de sua magnanimidade em
proveito dos clérigos, urdiu outra investida com objetivo de atrair as
atenções “majestáticas” sobre si.
Certo sábado, em 1743, quando os devotos chegaram à capela,
surpresos, deram pela falta da santa aparecida. Atônitos ficaram
quando Silvana da Rocha desconhecia também o seu paradeiro, mesmo
depois de se informar com Atanásio. Desesperados, correram falar com
o vigário, que se fingiu surpreendido. Aconselhou-os, porém, a que
dessem uma batida nas redondezas e que não se esquecessem de ir até
o alto do Morro dos Coqueiros. Dóceis à orientação do padre,
vasculharam todos os recantos e, por fim, subiram os rapazes ao Morro,
onde, para alívio geral, encontraram a imagem encostada em uma
pedra.
Nessa noite, o rosário foi rezado com mais fervor, os hinos mais
vibrantes e o baile mais animado com cachaça abundantemente
distribuída na algazarra do reencontro da Senhora Aparecida.
Noutros sábados, o fato misterioso se repetiu sem que os pobres
devotos percebessem a mão do vigário atrás de tudo.
O padre Vilela, ao sentir-se seguro do êxito de seu plano, num
sábado, foi até Ponte Alta puxar ele a reza. Desta feita, ainda outra vez,
a busca da imagem fugidiça precedeu o ato religioso, porque o padre
ainda outra vez retirara-a às ocultas e levara-a ao Morro. Então, na
qualidade de vigário e ministro de Deus, aconselhou o povo devoto que
se construísse no alto do Morro dos Coqueiros um templo para a
“santa”.
“Nossa Senhora”, afirmava ele, “quer que se construa uma capela
lá no alto do Morro”.
De imediato, foram abundantes os donativos. Todos queriam
concorrer a fim de contentar os desejos da “santa” aparecida, no sentido
de que lhe erigissem um templo no cume do Morro dos Coqueiros,
conforme havia interpretado o vigário aquelas fugas constantes.
Em cumprimento de exigências eclesiásticas, o padre José Alves
Vilela valeu-se do Bispado do Rio de Janeiro, a cuja jurisdição canônica
se submetia para requerer a devida licença a fim de edificar o templo.
Recorde-se que o Bispado de São Paulo, a cuja jurisdição eclesiástica,
posteriormente, pertenceram Aparecida e Guaratinguetá, somente foi
criado em 1745.
Na esperança de divulgar nas altas rodas clericais o valor
sobrenatural da “santa” aparecida, o que lhe poderia render prestígio
junto a El Rei, salientou em seu requerimento: “... que pelos muitos
milagres que tem feito a dita Senhora, a todos aqueles moradores,
desejam erigir uma capela com o título da mesma Senhora da Conceição
Aparecida, no distrito da dita freguesia em lugar decente e público por
concorrerem muitos romeiros a visitar a dita Senhora que se acha até
agora em lugar pouco decente...”
A provisão de licença foi passada na chancelaria do Bispado do Rio
de Janeiro, em 5 de maio de 1743. E tudo se tornou mais fácil,
porquanto, Dona Margarida Nunes Rangel, proprietária do Morro dos
Coqueiros, houve por magnanimidade fazer a doação de toda a colina.
Afluíram donativos abundantes e, a 26 de julho de 1745, o padre
Vilela benzeu o templo e rezou nele a primeira missa, suspirando para
que El Rei, o beato sonso Dom João V, se lembrasse dele nas escolhas
dos bispos.
Já alquebrado pela idade avançada, morreu, como simples vigário
de Guaratinguetá, o padre ambicioso e a Aparecida caiu na vala comum
das pequenas capelas do interior brasileiro.
.oOo.
A RAZÃO DO NOVO SURTO
DO “APARECIDISMO”
Em fins do século passado, Aparecida foi tirada da sua
insignificância, onde permanecera por mais de cem anos após a morte
de seu criador, o vigário José Alves Vilela.
Em 8 de dezembro de 1888, o bispo de São Paulo, Dom Lino
Deodato de Carvalho, benzeu um novo templo construído em
substituição ao anterior erigido pelo sacerdote inventor da “santa”, e
resolveu entregá-lo à administração de alguma ordem ou congregação
religiosa.
A congregação dos padres redentoristas gozava, na época, de
grande nomeada nos círculos romanistas, pois o seu fundador, o
italiano Afonso de Liguori, além de ser canonizado santo, em 1839,
havia sido, em 1871, proclamado pelo papa Pio IX “doutor da Igreja”.
Dentre as suas diversas obras literárias, destacam-se a “Teologia Moral”
e as “Instruções e Método para os Confessores”, pelo seu conteúdo
referto de normas utilizáveis com grande resultado no confessionário, o
instrumento infernal da escravização das consciências.
Por causa da “importância” de Liguori, cresceu a influência de sua
ordem religiosa e também, em razão de sua finalidade, que consiste em
se disporem os padres, seus membros, a pregar missões populares.
Distinguem-se estas por uma série de pregações retumbantes e
fantasmagóricas como arremates de procissões imbecilizadoras.
Liguori estabeleceu a sua congregação para a Itália Meridional do
seu tempo, com uma população rural ignorante e de sangue quente.
Referindo-se a estes italianos, o clérigo redentorista Hitz observa:
“Gostam das manifestações fortes... São superficiais, levianos,
desmazelados, supersticiosos e apegam-se, sobretudo, às práticas
exteriores da religião” (Hitz – “A pregação missionária do Evangelho”,
Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1962, página 181). Foi para
conservar esse povo agrilhoado às superstições romanistas, assim
considerado pelos seus líderes religiosos, que Liguori determinou, com
minúcias, os temas e os esquemas dos sermões das “santas missões” a
serem pregadas por seus padres. No plano do fundador dos padres
redentoristas, os fiéis devem, ao final desse trabalho, ser encaminhados
ao confessionário para que se consume o seu cativeiro espiritual.
As “santas missões” dos redentoristas fundam-se num moralismo
antropocêntrico, infinitamente distante do Evangelho. Aliás, servem
bem ao romanismo, cujo ritual coloca o endeusamento da criatura
acima de tudo.
O bispo de São Paulo, Dom Lino Deodato de Carvalho, julgou os
brasileiros semelhantes aos depreciados italianos meridionais por
estarem também os nossos patrícios, seus contemporâneos,
encharcados das superstições católicas. E entregou o templo da
Senhora Aparecida à direção dos padres redentoristas em fins de 1894.
Esses padres, incontinenti, começaram suas incursões
fanatizadoras pelo interior dos Estados de São Paulo, Minas Gerais,
Paraná e Rio de Janeiro, por meio das missões populares, quando
divulgaram profusamente as lendas referentes à Senhora Aparecida. O
nosso povo, humilde e distante das fontes puras da Bíblia, aceitou,
ingenuamente e sem qualquer exame, essa fábula que também eu em
criança ouvi.
Pelo confessionário, os redentoristas impunham aos fiéis,
narcotizados com as suas mentiras e modelados aos seus caprichos,
penitências de rezar fórmulas especiais à Aparecida e de ir ao seu
santuário em romarias.
O povo, desprovido de recursos essenciais a uma subsistência
condigna e imerso nas trevas do analfabetismo, é sempre presa fácil dos
embusteiros, máxime quando se apresentam revestidos de roupagens
exóticas e com a voz repassada de acentos ameaçadores.
Os pregoeiros do “aparecidismo” espalharam entre o nosso pobre e
abandonado povo, no intuito de fanatizá-lo e escravizá-lo mais, aquela
deslambida “Oração a Nossa Senhora Aparecida para pedir sua
proteção”, que assim começa: “Oh! Incomparável Senhora da Conceição,
Mãe de Deus, rainha dos anjos, advogada dos pecadores,...” Em seguida
a esta relação de tantas heresias, o povo brasileiro suplica-lhe que o
livre da “peste, fome, guerra, trovões, raios, tempestades e outros
perigos e males que nos possam flagelar”.
Aconselhado pelo missionário, o simplório cola o papel dessa reza
atrás das portas da sua casa e se supõe imunizado, protegido e livre de
todas as suas desgraças.
Quando eu era pároco em Guaratinguetá, num domingo, fui rezar
missa numa capela da zona rural. Desabara durante a noite precedente
um horrendo temporal. E a notícia lúgubre enchia de tristeza todos os
moradores da região! Um raio penetrara numa choça e fulminara todos
os seus moradores. Encaminhei-me para lá. Entrei no casebre. Olhos
esgazeados de pavor, encontrei três corpos esturricados no chão. E
atrás das portas toscas a protetora reza da “incomparável”...
As primeiras “santas missões” populares produziram os frutos
esperados. Já em 1900 começaram as romarias. O novo bispo de São
Paulo, Dom Antonio Cândido de Alvarenga, continuou o interesse do
seu antecessor, Dom Lino, pela Aparecida, pois previa os resultados
financeiros com o comércio da credulidade das massas. Em
consequência, não só incentivou os vigários das paróquias a
promoverem romarias, mas ele pessoalmente organizou uma.
A comercialização e a traficância da devoção à Senhora Aparecida
tornaram-se rendosas, além de todas as estimativas, e o bispo de São
Paulo não admitiu se tornasse ela paróquia da Diocese de Taubaté.
Com efeito, em julho de 1908, o papa Pio X desmembrou da
Diocese de São Paulo, que abrangia todo o território do Estado, as
dioceses de Botucatu, Campinas, São Carlos, Ribeirão Preto e Taubaté.
Esta incluía todo o Norte do Estado de São Paulo, desde o município de
Jacareí, inclusive, até o limite do Estado Fluminense, à exceção de
Aparecida que, apesar de encravada bem no centro do bispado de
Taubaté, continuava pertencendo à jurisdição eclesiástica do arcebispo
de São Paulo.
Ocorreu esta anomalia escandalosa como resultado da ganância do
arcebispo, ávido de se locupletar com as fortunas continuamente
depositadas nos cofres da Senhora Aparecida.
Em 1931, conforme já referimos, vieram sua proclamação e
coroação como padroeira e rainha do Brasil, em execução de uma
astúcia política.
Antes, o padroeiro do Brasil era “São” Pedro de Alcântara que, por
haver sido membro de ilustre e principesca família espanhola durante o
domínio da Espanha sobre o Reino de Portugal, obtivera de Roma esse
“padroado”.
Os tempos eram outros e o povo brasileiro não se tornara fã do
frade espanhol. Então, os “ordinários” brasileiros decidiram aposentá-lo
e arranjar do papa um outro padroeiro.
Afora o prestígio popular, o candidato, por certo, precisaria
satisfazer injunções políticas e ter a sua meca localizada onde houvesse
maior concentração demográfica.
A paraense Senhora de Nazaré, a capixaba Senhora da Penha e o
baiano Senhor do Bonfim, se bem que prestigiados popularmente em
suas regiões, careciam satisfazer as outras condições. Cumprindo-as
todas, a Senhora Aparecida foi a eleita.
Mais recentemente, em junho de 1958, o papa Pio XII criou a
Arquidiocese de Aparecida, com o território da paróquia do mesmo
nome desmembrado da Arquidiocese de São Paulo, e de outras
paróquias retiradas da Diocese de Taubaté.
Não obstante, porém, todas as promoções em torno da divulgação
dos “fatos” relacionados com a Aparecida, das demonstrações de fé na
mesma, da romarias, de suas imensas riquezas... Não obstante os
padres afirmarem (da boca pra for!) que creem na aparição prodigiosa
da Senhora Aparecida... Apesar da oferta da Rosa de Ouro pelo pontífice
Paulo VI e sua aparatosa entrega em agosto de 1967... Apesar de tudo
isto, até hoje, o Vaticano se conservou silencioso a respeito.
Desafio a qualquer padre de Aparecida a que me apresente um
documento do pontífice romano pelo qual se haja pronunciado sobre a
autenticidade dos “acontecimentos religiosos” pelo clero divulgados
entre o povo.
Eles não aceitam o desafio porque nem o papa crê nesse “prodígio”.
Bem ao contrário! Ele sabe que tudo é falcatrua. E falcatrua tão mal
engendrada que nem é capaz de forjar documentos, tática tão de sua
índole.
A fim de dar aos padres reptados uma dose de calmante,
apresento-lhes o parecer do monge beneditino Estevão Bettencourt: “AS
AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS NÃO SE EMPENHAM POR DEFINIR A
AUTENTICIDADE DE TAIS PORTENTOS, NEM MESMO A DOS
EPISÓDIOS CONCERNENTES À APARIÇÃO DA SENHORA IMACULADA
NO PORTO DE ITAGUASSÚ, EM 1717... A SANTA IGREJA, DE MODO
NENHUM, ENTENDE FAZER DE TAIS RELATOS MATÉRIA DE FÉ...” (in
“PERGUNTE E RESPONDEREMOS”, 71/1963, qu. 5).
Católico! Não continue enganado! Use a cabeça para raciocinar e
não vá mais no conto do vigário! O próprio monge beneditino Estevão
Bettencourt declara que aquilo tudo não é “matéria de fé”. Ele não crê!
Nem o papa e nem os padres prestam fé aos seus relatos sobre a
Senhora Aparecida!
.oOo.
A SANTA CAP,
“CAPITAL MARIANA” DO PAÍS
Elevada, em 1958, à categoria de Arquidiocese, só em 1964
recebeu o seu arcebispo na pessoa do Cardeal Carlos Carmelo de
Vasconcelos Motta, até então ocupante do sólio paulopolitano.
Motta sempre se revelara interessado em promover Aparecida e,
com habilidade política peculiar ao seu temperamento, conseguiu da
Santa Sé contemporizasse a nomeação do seu titular, pois desejava ser
ele o investido no munus de arcebispo da “capital brasileira da fé”.
Se envidara esforços para a sua instalação como Arquidiocese,
parecer-lhe-ia de justiça instalar-se ele próprio em seu trono
arquiepiscopal, embora 6 anos devessem decorrer como sede vacante.
Idealizara e empenhara-se em transformar Aparecida num dos
centros católicos mais importantes do mundo.
Seria nesse intento insuficiente a devoção popular à Senhora
Aparecida. Aliás, aquela efervescência de fé incrementada pelo IV
Congresso Eucarístico de São Paulo, celebrado em 1942, fora
passageiro.
Como arcebispo de São Paulo, a cuja arquidiocese pertencia a
simples paróquia de Aparecida, Motta notara na segunda metade da
década de 40 o decréscimo do número de peregrinos em proporção com
o aumento populacional do País e com a imensa propaganda
intensificada através da distribuição, sobretudo às paróquias, de
imagens fac-símiles.
Insuficiente a devoção como fundamento para concretizar o seu
sonho de criar a SANTACAP, à imitação dos grandes e antigos centros
idólatras do mundo, como Éfeso com a sua Senhora Diana, em cuja
honra se construíra uma das sete maravilhas do orbe, o Cardeal
Vasconcelos Motta optou pela construção de um grande e soberbo
templo. Uma Basílica gigantesca e de ricas proporções arquitetônicas a
se credenciar ao orgulho do catolicismo brasileiro.
“O maior templo religioso do mundo, depois da Basílica de São
Pedro, em Roma!!!”
A Basílica de São Pedro tem 200 metros de comprimento,
incluindo-se o pórtico. A de Aparecida tem 170.
E, depois dela, vem a de São Paulo, em Londres, com 158 metros.
Esta é seguida do templo de Liverpool, também na Inglaterra, que mede
154 metros de comprimento. Seguem-se-lhe o Duomo, em Florença, na
Itália, com 150; o de Colônia, na Alemanha, com 145; o da Imaculada,
em Washington, EUA, com 137; o Duomo, em Milão, com 135; o templo
de Notre Dame, Chartres, na França, com 133; o de Sevilha, na
Espanha, com 129; o de São João de Latrão, em Roma, com 124; o de
São Paulo, no Brasil, com 100; o de S. Patrik, em Nova Iorque, EUA,
com 99; o de Santa Maria Maior, em Roma, com 98; o de Beauprais, no
Canadá, com 80 metros.
A nova Basílica de Aparecida, quando inteiramente concluída, terá
170 metros de comprimento por 150 metros de largura, cobrindo um
espaço de 25.500 metros quadrados.
Por sonhar alto, o arcebispo aparecidólatra inclui no plano
completo da obra outros departamentos, inclusive o prédio para a
emissora radiofônica e de televisão. Em consequência, salta à vista a
impossibilidade de se construir no cume do antigo Morro dos Coqueiros,
onde se encontra a atual Basílica, apodada de velha.
Recorde-se o fato de haver sido esta erigida no alto daquele Morro
em atenção às exigências da própria Senhora Aparecida, inconformada
de ficar embaixo e, por isso, “fugia” da capelinha, indo postar-se lá em
cima. As suas repetidas “fugas” revelaram (?) aos devotos a sua vontade
de lhe ser dedicada uma capela no cocuruto do outeiro, inaugurada,
aliás, em 1745, sob o hissopo do vigário José Alves Vilela, ao tempo,
pároco em Guaratinguetá.
Esta pequena capela, quando, em fins do século passado, se
incrementara a devoção aparecídica, se tornara exígua, foi pelo bispo de
São Paulo, Dom Lino Deodato de Carvalho, substituída por um templo
no cume do antigo Morro dos Coqueiros.
Afigurava-se impossível desagradar a “santa” e contrariar-lhe a
mariana vontade de ser instalada lá em cima da colina, cujos coqueiros
cederam lugar ao casario que se comprime em suas rampas.
“Constrói-se o templo noutro lugar... E se depois a imagem
aparecida não quiser ficar nele?”, decerto refletia o bispo que, aos 8 de
dezembro de 1888, benzeu a então nova Basílica, hoje reputada velha,
por ser anacrônica, obsoleta e superada.
Ao Cardeal Motta, embora se confesse devoto aparecidano, falecem
aqueles escrúpulos.
“Como se conseguir tamanha construção lá em cima do Morro dos
Coqueiros? Se são necessários 400 mil metros quadrados de área?
Como derrubar todas as casas empoleiradas colina acima? Seria acabar
com a cidade...”
A crer-se nos informes clericais, a imagem “milagrosa” saiu do
lugar, por ela própria escolhido apenas duas únicas e rápidas vezes:
quando de sua coroação no Rio de Janeiro, em maio de 1931, e, em 14
de julho de 1945, quando, em São Paulo, esteve numa manifestação
político-católica.
“Tirar-se a imagem de lá, de sua querida Basílica, é arriscar-se ao
desagrado da Senhora”.
Era isso que se proclamava em anos passados.
Se o arcebispo aparecidopolitano e empreendedor da nova Basílica
acreditasse no “milagre” de haver ela própria escolhido o lugar do seu
trono no topo da colina, esta construção seria lá em cima mesmo. Como
incorreria em desobediência à Senhora? Jamais! Nem que fosse para
gastar todos os milhões de cruzados depositados pelos fiéis devotos nos
cofres aos seus pés instalados, com o fim de cobrir as desapropriações
da cidade inteira.
Mas a AURI SACRA FAMES – a sagrada fome de ouro – fala mais,
muito mais alto do que todos os seus escrúpulos...
E, como resultado, a edificação nova e descomunal da Basílica em
outro local, iniciada em 1952, já se encontra acabada.
O mais interessante, porém, é que a Senhora mudou de opinião.
Assanhou-lhe a vaidade a grandeza do seu novo templo. Para ela
transportada, decidiu submeter-se à vontade cardinalícia e se
acomodou em seu novo altar erigido num elevado octogonal, a 1,5
metros de altura, com 9 degraus e 10 metros de diâmetro. Ela gosta
mais do bem-bom das novíssimas instalações...
Hoje, para evitar qualquer comentário da oposição ou o raciocínio
de algum devoto mais inteligente, os padres deixaram de mencionar em
seus relatos aparecídicos a antiga “vontade” (?) da Senhora fujona.
Nos planos clericais, a nova Basílica, pelas suas proporções
arquitetônicas e pela sua suntuosidade, deve se constituir no grande
motivo de atração de romeiros a elevar Aparecida à categoria de
principal centro de peregrinação do mundo, dignificando este País, o
mais católico de todos.
Este estilo românico-moderno cobre uma área construída de
25.500 metros quadrados, tendo à sua frente a Praça das
Comemorações de 69 mil metros quadrados, com capacidade para cerca
de 300 mil pessoas.
No interior do templo se estendem três naves de 22 x 40 metros
cada, além das naves deambulatórias ou de circulação de 7 metros de
largura cada uma num desenvolvimento de 340 metros. As capelas
sacramentais, onde administram os chamados sacramentos do batismo,
da confissão, da confirmação, da eucaristia e do matrimônio, são de 22
x 38 metros cada.
A torre imponente, levantada na superfície de 20 x 20 metros,
atinge 100 metros de altura, abrangendo 16 andares, com 336 janelas
de vidro com caixilhos e venezianas de alumínio e consumiu um milhão
e meio de tijolos. Dois elevadores com capacidade para 60 pessoas
transportam os visitantes. Erguida fora do templo, a ele se liga por uma
galeria de 36 metros de comprimento, 8 metros de largura e 11 metros
de altura. Como seria impossível deixar de ser, no interior da torre os
padres instalaram um bar-restaurante e lojas.
Construída a Basílica em forma de cruz grega, a sua cúpula, como
uma meia esfera, erguida bem no centro de toda a construção com o
diâmetro interno de 34 metros e a altura de 60, cobre 2.327 metros
quadrados e é revestida de alumínio anodizado a lhe fornecer uma cor
dourada. Esta cúpula sustenta, num pequeno mirante, uma cruz grega
de 3 metros de altura, sob cujo centro geométrico se eleva sobre 9
degraus o altar-mor da Basílica, de 10 metros de diâmetro, a ostentar,
em nicho de ouro, a imagem da Senhora Aparecida, a Padroeira do
Brasil, recoberta de joias e pedrarias preciosas, onde imensa população
padece de fome e sofre a carência dos recursos básicos para uma vida
digna.
Ao redor deste soberbo altar-mor, em torno da plataforma, se
enumeram 12 pequenos altares a permitir a celebração simultânea de
13 missas, o supremo culto idólatra do catolicismo, em homenagem à
aparecidolatria.
* * *
Por considerarem antiquado o método, os padres redentoristas
responsáveis pela administração da Basílica e pela promoção do
aparecidismo, hoje em dia, deixaram de utilizar tanto as chamadas
“santas missões” inculcadas pelo seu fundador, Afonso de Liguori, nos
estatutos da ordem. Prevalecem-se de meios mecânicos de divulgação,
como jornal e rádio.
A Rádio Aparecida, pela sua potencialidade, se emparelha com a
grandeza material da nova Basílica e se capacita a atender os planos de
incrementar sempre mais a aparecidolatria.
Reservaram-se 12 mil metros quadrados dentro da área dos 400
mil para erguer um prédio dividido em 3 pavimentos.
O térreo se reserva para um auditório com a capacidade de alojar
1.500 pessoas, que terão o seu cinema. No 1º pavimento, ficam os
escritórios, uma capela e o salão nobre destinado às reuniões do Clube
dos Sócios com cerca de 400 mil arrolados. O 2º andar se destina à
instalação de todo o equipamento da Rádio Aparecida, que deverá ser a
mais potente emissora da América Latina, e da futura TV, com 6
estúdios, um de gravação de peças teatrais e outro de gravação de
discos e fitas, além da técnica central de comando dos estúdios e da
discoteca, do departamento técnico e do almoxarifado.
É a técnica da comunicação superlativamente refinada a serviço da
massificação do aparecidismo porque, dentro dos prognósticos clericais,
o brasileiro deve continuar agrilhoado aos seus embustes.
A SANTACAP, com a sua descomunal Basílica, pretende reviver a
idade áurea da Senhora Diana, cujo templo se contava entre as sete
maravilhas do mundo.
Aliás, em Éfeso, aos 11 de outubro de 431, se deu o início oficial da
mariolatria com a proclamação do dogma de Maria Mãe de Deus.
Nesta era intitulada de pós-conciliar, quando muitos ainda supõem
haver o catolicismo romano se transformado e aberto mão de certas
doutrinas contrárias à Bíblia, inclusive as relativas a Maria, a religião
do papa recrudesce e reaviva o culto mariolátrico acrescentando-lhe
novos dogmas, como o de Maria Mãe da Igreja, que inclui os de Maria
Co-Redentora, Advogada, Medianeira e Adjutrix, proclamado aos 21 de
novembro de 1964.
Recrudesce e cresce o culto mariolátrico entre o povo pobre
subjugado às suas feitiçarias, prestigiando os santuários marianos,
centros de romarias e peregrinações.
O próprio papa Paulo VI, em 13 de maio de 1967, viajou até
Fátima, em Portugal, com o propósito de oficiar as comemorações
cinquentenárias daquela Senhora.
À Aparecida ofertou o romano pontífice uma Rosa de Ouro, trazida
por um Cardeal “a latere”, a assinalar a passagem dos seus 250 anos.
Dom Humberto Mozzoni, o núncio papal no Brasil, no dia 5 de julho de
1969, ano de sua chegada, viajou à SANTACAP no intento de prestar o
seu culto pessoal à Senhora Aparecida. “Vim à cidade de Aparecida”,
disse ele, “como todo o povo brasileiro, venerar Nossa Senhora
Aparecida. E colocar sob sua proteção a minha missão no Brasil” (O
Estado de S. Paulo, 6 de julho de 1969).
O Concílio Ecumênico Vaticano II deixou intactas as estruturas
romanistas sobre as quais simplesmente passou uma caiação a fim de
lhe dar novos ares. E só!
Deixou, outrossim, intocáveis os cediços métodos de envolvimento
político tão do gosto multissecular do clero. Quando, em 1972, o Brasil
celebrou o sesquicentenário de sua Independência, quis ele vincular-se
oficialmente à sua programação. E, para se promover, nada melhor do
que promover a aparecidolatria. Alegou, então, contra todas as
evidências, haver Pedro I estado em Aparecida com o fim de rezar diante
da imagem, na oportunidade em que pernoitou em Guaratinguetá,
quando de sua viagem do Rio de Janeiro a São Paulo, onde proclamara
dias seguintes a Independência de nossa Pátria.
Desprovido de qualquer pejo, reivindicou o clero a passagem por
Aparecida do coração de Dom Pedro I quando, em 1972, foi de Portugal
trazido em definitivo para o Brasil.
Desprovido de qualquer pejo e sem o receio de ser desmascarado,
porque o povo evita o trabalho de raciocinar, pois em 1822 nada existia
em Aparecida além da pequenina e tosca capela no alto do Morro dos
Coqueiros, construída pelo ganancioso padre Vilela. Aparecida
continuava ainda incógnita do beatério. Aparecida era ainda o Morro
dos Coqueiros. E só Morro dos Coqueiros.
.oOo.
A ROSA DE OURO
No dia 15 de agosto de 1967, ano comemorativo do 250º
aniversário do encontro da imagem de terra cota no porto de Itaguassú,
a Basílica de Aparecida recebeu das mãos do Cardeal Amleto Giovanni
Cicognani, legado “a latere” de Paulo VI, uma ROSA DE OURO,
munificência do sumo pontífice. Esta ocorrência serviu para assanhar a
aparecidolatria. Mobilizaram-se todos os recursos a fim de assinalar o
evento com estrepitosas solenidades.
Esculpida pelo prof. Mário de Marchis, constituiu-se numa jóia.
Dois grandes ramos com folhas de ouro se entrelaçam até ao vértice
onde se desabrocha a rosa, também de ouro. No lugar do pistilo da rosa
engasta-se um opérculo, uma cápsula, que contém bálsamo do Peru e
pó de almíscar, significando a fragrância da rainha das flores. Entre os
dois ramos encontra-se esculpido o emblema de Paulo VI, pois ambas, a
mariolatria e a papolatria, andam de parelha. E na base lê-se a seguinte
inscrição: “Paulus VI PM – Apparitiopolitanae aedi sacrae B.M.Virgini
Imm. – DD. III Non. Mar. A + MCMLXVII”.
A outros santuários marianos, como Guadalupe, Fátima e Lourdes,
o pontífice Montini tem, outrossim, contemplado com o semelhante
presente régio.
Nós, os brasileiros conscientes da espoliação sofrida pela nossa
Pátria quando, ao tempo da sua Civilização, os clérigos carregaram o
nosso ouro e transformaram Portugal num mero entreposto na
execução dos seus planos de extorsão e chantagem, carreando essa
nossa riqueza para os depósitos do romano pontífice; nós, os brasileiros
conscientes, sentimo-nos indignados com este gesto do papa, pois
desejamos que, em nome da Justiça, ele repare os crimes praticados
contra o Brasil, devolvendo todo o nosso “metal precioso” guardado nos
seus cofres vaticanos.
Dispensaríamos de bom grado o envio da ROSA DE OURO feita
com as nossas próprias riquezas há séculos de nós roubadas.
Se esse presente se constitui num sarcasmo à Nação Brasileira
espoliada em seus bens naturais pelo clero romanista, a ROSA DE
OURO expressa sobremodo o contexto católico-romano de todas as
eras.
Com efeito, expressa o catolicismo pós-conciliar, ainda mais
alvorotado na mariolatria, porque, ao benzer na Capela Sixtina, aquela
joia, em 5 de março de 1967, quando a liturgia romana assinalava o IV
Domingo da Quaresma, chamado Dominica Laetare ou Domingo das
Rosas, o pontífice declarou na presença de uma representação
brasileira: “No Santuário de Nossa Senhora Aparecida, ela [a rosa] dará
testemunho de nossa constante oração à Virgem Santíssima para que
interceda junto de seu Filho pelo progresso espiritual e material do
Brasil... Vamos a Maria para chegar a Jesus. Amando desse modo Nossa
Senhora, poderemos compreendê-la em sua real grandeza e, através
dela, chegaremos ao Cristo, filho de Deus”.
Dispensam-se profundos conhecimentos bíblicos para se constatar
à luz do Evangelho os absurdos desse pronunciamento do papa.
* * *
Se as palavras pontifícias proferidas na oportunidade da bênção da
ROSA DE OURO demonstram a relutância, a procrastinação, do
catolicismo na idolatria, apesar da farta propaganda de suas reformas
levadas a efeito pelo Concílio Ecumênico Vaticano II; se o envio dessa
jóia é um insulto do clero romano ao Brasil, vilipendiado e espoliado por
ele desde os primórdios de sua Civilização, quando aqui aportaram os
primeiros missionários do embuste, a ROSA DE OURO comprova outra
vez ser o catolicismo, embora rotulado com terminologia bíblica, a
continuação e a sustentação do paganismo antigo.
Catolicismo e paganismo se equivalem porque são idênticos. Ou
melhor, o catolicismo é o nome atual do paganismo encarregado de
enxovalhar os vocábulos mais sagrados, inclusive o Nome Sacrossanto
de Jesus Cristo.
Onde terá ido buscar o catolicismo a prática de se oferecerem
Rosas de Ouro senão no paganismo antigo?
Efetivamente, na longínqua antiguidade, o paganismo celebrava a
chegada da primavera e a uberdade da terra com típicas festas
populares e cerimônias religiosas aos seus deuses, destacando-se as
procissões, quando o povo levava braçadas de flores e as depositava nos
altares dos seus templos.
O catolicismo, ao encampar quase todas as práticas do seu
antecessor pagão, adotou também essas comemorações. Na Idade
Média, quando o romantismo usufruiu o seu apogeu, recebia-se a
primavera como a vitória sobre o inverno com procissões presididas por
sacerdotes e bispos, em que os fiéis desfilavam portando flores colhidas
nos campos e jardins, cristalizando-se assim o costume pagão.
No século X, a festa passou a ser celebrada no IV Domingo da
Quaresma, Dominica Laetare, que sempre cai no princípio da primavera
na Europa. Este domingo se apresenta como um parêntese de alegria
no tempo penitencial da Quaresma, o período precedente à semana
chamada santa.
Neste dia, o papa em Roma presidiu a procissão das rosas – daí o
domingo se cognominar também o Domingo das Rosas – levando uma
ROSA DE OURO com a determinação de oferecê-la a altos dignatários,
igrejas ou instituições religiosas.
Encontra-se uma referência documental do ano de 1049 do fato de
haver o papa Leão IX lembrado “a obrigação determinada ao mosteiro
das religiosas de Santa Cruz de Tulle (Alsácia), em recompensa de terem
sido isentas da jurisdição do bispo local e sujeitas diretamente ao sumo
pontífice, do envio anual de uma Rosa de Ouro ou de doze onças do
precioso metal” – que o papa destinaria, posteriormente, a eventuais
ofertas.
A prática de se oferecer a Rosa de Ouro a santuários, catedrais,
igrejas, dignatários eclesiásticos, príncipes, reis, imperadores, firmou-se
como tradição e multiplicou-se enormemente durante o período de
permanência dos papas em Avinhão (1305-1378). Dessa época até o
século XV, quando se compôs a fórmula de sua bênção especial,
expressando os seus simbolismos, até o século XV, a dádiva consistia
apenas em uma rosa que, frequentemente, tinha também uma pedra
preciosa incrustada.
A partir desse século, especialmente depois do papa Sixto V (1471-
1484), acrescentaram-se-lhe ramos, folhas e botões, mantendo-se, com
frequência, as incrustações de pedras de rara beleza e alto valor.
Têm sido oferecidas rosas valiosíssimas. Sabe-se lá quanto ouro
brasileiro, transubstanciado nessas flores, já anda espalhado mundo
afora, enquanto nosso País se submeteu a ingentes sacrifícios na ânsia
e na busca de melhores condições, que o libertem do
subdesenvolvimento.
Em 1886, Leão XIII, num impulso escandaloso de munificência
perdulária, ofereceu à Rainha Cristina, regente da Espanha, uma Rosa
de Ouro composta de 9 flores, 12 botões e 100 folhas – tudo em ouro –
sobre um vaso artisticamente trabalhado.
E sendo a Aparecida um capítulo integrante da estrutura idólatra
do catolicismo, fica-lhe bem uma Rosa de Ouro, reminiscência de
antigas práticas pagãs...
Com a rósea e áurea honorificência, “o papa deseja honrar a
riqueza espiritual do Brasil”. Ofereceu-a ao santuário de Aparecida por
se concentrar no culto a Maria toda essa riqueza. Sua entrega, a fazer
jus ao seu valor intrínseco, ao seu simbolismo e à sua finalidade,
deveria revestir-se de grande pompa.
Começaram estas com a especial distinção de ser o portador da
preciosa jóia o Cardeal Amleto Giovanni Cicognani, designado por Paulo
VI o seu legado “a latere” para vir de Roma ao Brasil investido no
munus de, em seu nome, depositá-la no altar da Senhora de terra cota.
O clero mobilizou todo o seu arsenal de recursos no sentido de
recepcionar, à altura de sua dignidade, o Cardeal legado. Em sendo,
outrossim, o papa chefe de um Estado, o Vaticano, cabia ao Governo
Brasileiro a tarefa de distinguir o “nobre” representante com as
honrarias atribuídas aos chefes de Estado.
A sagacidade do clero é inexcedível... Juntaram-se dois
acontecimentos: o religioso e o político. Entrelaçaram-nos os padres
porque, na conformidade dos seus propósitos, o acontecimento religioso
do 250º aniversário de Aparecida deveria provocar um acontecimento
político a envolver as mais destacadas autoridades da Nação.
Governadores estaduais, chefes militares, ministros e o próprio
Presidente da Repúlica, o Marechal Costa e Silva, lá compareceram no
dia 15 de agosto de 1967.
O pontífice, o soberano do clero, ao enviar a ROSA DE OURO como
símbolo religioso, aproveitou a oportunidade para, como chefe de
Estado do Vaticano, estreitar relações políticas com os políticos
brasileiros. Nesse intento, pois, ofereceu ao Presidente Costa e Silva um
crucifixo de ouro trabalhado, do século XIX, que pertencera a um
célebre poeta francês. Esta peça riquíssima fica assentada num
pedestal de oliveira.
Ao Governador Abreu Sodré, de São Paulo, enviou uma medalha
também de ouro.
Quanto ouro! E se propala a notícia sobre a pobreza dos padres...
O presidente da República compareceu. Fizera-se acompanhar de sua
esposa. Blindara-o rígida segurança sob a responsabilidade de 1.800
policiais.
Por acaso faltaria à Senhora Aparecida poder para protegê-lo? De
fato, alguns incidentes provocaram desapontamentos.
O Presidente chegou de avião ao aeroporto da Escola de
Especialistas da Aeronáutica de Guaratinguetá. Muitos jornalistas o
aguardavam. À última hora, porém, cancelou-se o valor das credenciais
fornecidas pelo Comando da Escola e os rapazes da imprensa ficaram
impedidos de se aproximarem do Supremo Mandatário da Nação.
Na Via Dutra, porque o legado do papa fora de automóvel de São
Paulo a Aparecida, 7 quilômetros antes de S. José dos Campos, três dos
carros da comitiva do Cardeal se chocaram causando vítimas.
A grande massa popular postada fora da Basílica no aguardo do
pontífice “a latere”, sofreu a inclemência da chuva intermitente e
imprevista. E o acidente automobilístico provocou o atraso da chegada
do cortejo cardinalício, obrigando os devotos à penitência mais
prolongada das intempéries meteorológicas.
Estas ainda motivaram, à última hora, alterações em todo o
programa.
Os aborrecimentos, todavia, foram um pouco compensados com
alguns incidentes jocosos.
A Folha de São Paulo (16 de agosto de 1967) relata: “Enquanto o
cardeal-legado não chega, o padre Antonio Siqueira, vigário da Basílica,
fica no microfone. É quem provoca alguns sorrisos do Marechal e
muitos da assistência. Seu apelido é “Dom Camilo”, por sua semelhança
física e modos “acaipirados” de se dirigir ao público. Durante uma hora
fez o povo dar vinte vivas a Nossa Senhora Aparecida, ao Presidente, ao
cardeal-legado, às autoridades, a todo mundo. Depois da cerimônia,
voltaria a puxar vivas e alertar, pelo microfone, os romeiros sobre o
perigo de ladrões por lá”.
É! Ao Exército sobravam razões quando montou um dispositivo
policial tão rígido em torno da pessoa do Presidente.
Se, junto da Senhora Aparecida, há tantos ladrões que em uma
solenidade importantíssima o vigário da Basílica se vê na contingência
de prevenir os fiéis contra os “lanceiros”, por que confiar na “santa”? Se
ela não protege os seus devotos dos ladrões, acaso protegeria o
Presidente de algum terrorista?
Ainda em seu exemplar de 16 de agosto de 1967, a Folha de São
Paulo conta: “Durante a cerimônia religiosa, Costa e Silva saiu do seu
ar sério e compenetrado. Um padre, junto com Dom Antonio Macedo,
lhe trouxe, em pergaminho, a ata da solenidade da entrega da Rosa de
Ouro”. Queria seu autógrafo mo pergaminho, depois pediria o de todas
as autoridades civis ali presentes...
O Presidente não conseguiu escrever com a pequenina caneta,
especial para tinta nanquim. E borrou a sua assinatura depois de
várias tentativas. Rindo, disse ao padre que “quando virem isso, vão
pensar que o Presidente era analfabeto”.
A “sagrada fome de riquezas” rói o coração do clero. Dinheiro é a
sua máxima preocupação. Enquanto fotógrafos e cinegrafistas, durante
as solenidades, procuravam fixar o legado papal nos mais diversos
ângulos, o então núncio apostólico, Dom Sebastião Baggio, comentou
em italiano: “Se cada foto valesse um dólar, V. Excia. seria milionário”.
Exposta na Basílica de Aparecida, junto com a suntuosidade do
templo e junto com a imagem, o móvel central de tudo, a Rosa de Ouro,
“símbolo de Maria, a Rosa Mística, invocada na Ladainha Lauretana”, se
tornou também objeto de culto.
Diante dela, os pobres devotos se ajoelham e através dela almejam
obter bênçãos da padroeira.
Com os intestinos roncando de fome se prostram diante do ouro...
Jesus multiplicou pães para saciar os famintos e o papa multiplica
rosas de ouro para, insultando a pobreza, agrilhoar as almas na
escravidão da idolatria.
Esquece-se o papa do precioso sangue de Cristo, o Cordeiro
Imaculado e Incontaminado... E exibe ouro como se o ouro pudesse
resgatar o pecador de sua vã maneira de viver. “Não foi mediante
cousas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do
vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo
precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o
sangue de Cristo” (1ª Pedro 1.18-19).
Ao mencionar a “vã maneira de viver” ou “fútil procedimento”,
o apóstolo Pedro se referia ao culto de imagens taxado pela Bíblia com
as expressões mais contundentes como mentira, idolatria, falsidade,
engano, adultério, prostituição e vaidade.
.oOo.
OS MILAGRES
DE APARECIDA
O melhor processo criado pelo inferno para enganar os
inadvertidos, anestesiar a consciência do pecador e confundir a pureza
límpida do Evangelho foi o dos “prodígios miraculosos”.
O milagre autêntico só pode ser realizado pelo poder de Deus, pois
se trata de um fenômeno que se dá além ou acima das leis da natureza,
mudando o seu curso normal num caso particular.
Jesus, ao praticar muitos milagres, tinha em mira patentear a Sua
Divindade. Nicodemos mesmo reconheceu-a por isso. “Ninguém pode
fazer estes sinais que Tu fazes, se Deus não estiver com ele” (João
3.2).
O cristão aceita o milagre, porém, dentro das normas da Bíblia, a
sua Única e Exclusiva Regra de Fé e Prática Religiosa.
Portanto, todo o prodígio contrário às normas e aos ensinamentos
da Revelação Divina contida na Bíblia, não procede de Deus. Com
efeito, Deus ameaça com terríveis castigos aqueles que acrescentarem
ou retirarem dela qualquer coisa. “A todo aquele que ouve as palavras
da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer
acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e,
se alguém tirar qualquer cousa das palavras do livro desta profecia,
Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das
cousas que se acham escritas neste livro” (Apocalipse 22.18-19).
Ninguém tem o direito de acrescentar nada à Palavra de Deus;
quem o fizer é mentiroso. “Nada acrescentes às Suas palavras, para
que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Provérbios 30.6).
Em matéria religiosa, tudo o que estiver fora da Bíblia é um acervo
de mentiras.
Satanás tem muito interesse em perverter as almas, apresentando-lhes
doutrinas espúrias, contrárias à Revelação de Deus. Os seus sequazes
andam soltos, fazendo prodígios até em Nome de Deus!
Relativamente a estes é que Jesus advertiu: “Muitos Me dirão
naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu Nome, e
em Teu Nome não expulsamos demônios e em Teu Nome não
fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca
vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade”
(Mateus 7.22-23).
Esses prodígios são iniquidade!!! Mesmo feitos em Nome de Deus,
mas contra a Sua Santíssima Vontade revelada na Bíblia!
É uma iniquidade o que o clero pratica no Brasil, ludibriando o
povo!
A Bíblia é categórica em proclamar: “Há um só Deus e um só
Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1ª
Timóteo 2.5).
A Bíblia é peremptória ao anunciar: “Jesus se tem tornado fiador
de superior aliança... por isso, também pode salvar totalmente os
que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por
eles” (Hebreus 7.22, 25).
A Bíblia, repito, é explícita ao anunciar: “Se alguém pecar, temos
um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. E Ele é a
propiciação pelos nossos pecados” (1ª João 2.1-2).
Todo o Novo Testamento revela a Total Suficiência de Jesus Cristo,
como Salvador, Mediador e Advogado.
Enganaram-se muitos evangélicos ao supor que o romanismo com
o seu Concílio Ecumênico Vaticano II estaria disposto a reformar suas
doutrinas nefastas, aproximando-se da Palavra de Deus e aceitando a
Jesus Cristo como Único e Todo-Suficiente Salvador, Mediador,
Intercessor e Advogado.
O romanismo, porém, conformou os seus velhos dogmas,
contrários à Bíblia e engendrou outros...
Negando ao nosso bendito Salvador a exclusividade restrita e
consequente de todos aqueles atributos, em discrepância absurda da
Bíblia, exalta Maria como advogada, auxiliadora, protetora, medianeira,
aberrando dos ensinamentos claros de Deus.
Engajada nesse mesmo torvelinho de heresias está a Senhora
Aparecida sobre quem o Cardeal Vasconcelos Motta, arcebispo de sua
Arquidiocese, escreveu, em 1º de janeiro de 1967, para comemorar o
250º aniversário de falcatrua, uma carta pastoral, classificada pelo
chaleirismo do órgão católico “O São Paulo” (22 de janeiro de 1967)
como “um tesouro de magistério”.
Nesse “tesouro de magistério” – magistério do inferno porque
absolutamente contrário à Revelação Divina e ignominiosamente
depreciador de Jesus Cristo! – nesse “tesouro de magistério”, repito,
falando da Senhora Aparecida, como medianeira, advogada e
intercessora, saiu-se o cardeal aparecidopolitano com esta heresia
blasfema: “Ora, intercedendo por nós, embora pecadores, a maior
santidade, o maior nome e a maior dignidade, como poderá resistir a
Justiça Divina ou negar a Sua Misericórdia a uma tão forte, suave e
poderosa intercessão? Intercessão é o meio entre dois extremos; para ser
poderosa e eficaz, há de tocar ambos: Deus, a quem intercede, e os
pecadores, por quem intercede. E a Senhora posta entre Deus e os
pecadores, quão chegada é a um e a outro extremo? É tão chegada a
Deus que só lhe falta ser Deus: é tão chegada aos pecadores que só lhe
falta o pecado”.
Confrontem-se estas expressões pós-conciliares com a doutrina de
Deus demonstrada nos versículos bíblicos acima citados. São
incompatíveis!
Torna-se evidente que os “milagres” da Aparecida não procedem do
poder de Deus porque não são consentâneos com a Sua vontade
expressa em Sua Revelação, a Bíblia Sagrada.
Procedem, sim, do inferno para perverter as almas! Constituem-se
na marca da apostasia!!!
Os seus pregoeiros e divulgadores se aliam com os falsos profetas
referidos por Jesus Cristo: “Surgirão falsos cristos e falsos profetas
operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os
próprios eleitos” (Mateus 24.24).
A religião dos crendeiros aparecidanos consiste em fazer
promessas e esperar milagres.
Anestesiados pelas mentiras ridículas com que os padres os
ludibriam, por qualquer pretexto, fazem seus votos à “santa” pescada
em Itaguassú.
A excêntrica “sala de milagres” revela como são entorpecidos na
prática de uma religião de fábulas e embustes.
O devoto faz a sua promessinha de mandar uma fotografia para ser
exposta na “sala dos milagres”, mas, ao mesmo tempo, coloca na pereba
a pomada que o “doutor” receitou. Quando sara, foi milagre de
Aparecida. Se não melhora, o médico é que não presta!
A moça se apavora com a possibilidade de ficar solteira e embarca,
para se livrar dessa conjuntura, no primeiro bonde que aparece; e
manda as tranças dos seus cabelos, como ex-votos, para serem
dependuradas na “sala dos milagres”. Quem lucra são os padres porque
vendem caríssimo aos fabricantes de perucas...
Um time de futebol sagra-se campeão de qualquer torneio, os seus
jogadores vão, em romaria, levar à “incomparável” as esmolas das
promessas.
No Concurso de Miss Brasil de 1956, ouvi pelo rádio o General
Porfírio da Paz, devotíssimo aparecídico, invocar as bênçãos da Senhora
Aparecida em favor das beldades semi-nuas.
* * *
Durante três anos frequentei assiduamente a Basílica e jamais vi
um milagre...
Milagre, milagre mesmo, isto é, ressuscitar um morto, como Lázaro
(João 11.1-45), dar vista a um cego de nascimento (João 9.1-7), fazer
aparecer um braço no lugar do amputado, colocar um pulmão novo no
lugar do extraído... ela nunca fez!
A Senhora Aparecida é tão incapaz em matéria de milagre que é
uma coitada! Garanto que, se cair do nicho, espatifar-se-á no chão!!!
A sua cidade está cheia de aleijados, estropiados e cegos a
mendigar pela ruas. Se os padres abastados de ouro e dinheiro não os
socorrem porque são avarentos, a Senhora Aparecida, de sua parte,
nem lhes dá atenção aos gemidos.
Ela é tão coitada que não tem poder nem de curar as lombrigas às
crianças dos seus devotos. Por isso, a emissora faz propaganda de
vermífugos.
Frustra-se o diabético que se socorre de sua valia... os padres da
Basílica, então, reconhecem-na tão fraquinha que, por meio do seu
jornal, lhe recomenda o “copo medicinal”.
Reconhecem-na tão ineficiente que, aos devotos alcoólatras,
aconselham produtos farmacêuticos.
O “Santuário de Aparecida”, órgão “oficial da Basílica Nacional de
Nossa Senhora Aparecida”, desapontou-se tanto com a impotência da
“incomparável” milagrenta que, a par da propaganda e desengonçadas
páginas, abriu um “Consultório de Medicina Caseira”, sob a
responsabilidade do Frei Esculápio.
Ainda mais desapontados devem estar os seus devotos com a
retumbante demonstração de impotência da “incomparável senhora”
verificada na oportunidade da fuga da ursa “Negrito” de sua jaula.
Os supersticiosos cismam com o dia 13 e pior ainda quando cai
numa sexta-feira. Para aumento do medo deles, o fato ocorreu no dia 13
de setembro, sexta-feira, de 1968.
Um cidadão aparecidólatra, residente em Avaré, Estado de São
Paulo, leu este fato numa das edições antigas deste livro. Revoltado,
quis uma entrevista comigo. Interrogado sobre a fonte de informação a
respeito, retruquei-lhe com a pergunta sobre o jornal que considerava
mais sério e absolutamente idôneo em suas notícias.
Respondeu-me ser “O Estado de S. Paulo”, “um dos jornais mais
importantes do mundo”.
Eis o relato desse órgão da imprensa paulista em seu exemplar de
14 de setembro de 1968: “A ursa ‘Negrito’ escapou ontem de manhã de
sua jaula no Zoológico de Aparecida do Norte, impôs à cidade três horas
de pânico e medo, e acabou sendo capturada graças à habilidade do
‘capitão Álvaro’, domador do Circo Berlim, ora se exibindo na cidade.
Uma guarnição do Corpo de Bombeiros e tropas da Força Pública e da
Escola de Aeronáutica foram enviadas com urgência ao local”.
Depois de pormenorizar a fuga, prossegue o órgão: “A notícia
espalhou-se, rápida, pela cidade, causando pânico. O socorro veio
rápido também: Corpo de Bombeiros, soldados da Força Pública e da
Escola de Aeronáutica da FAB, e todos os que supunham ter condições
de ajudar. Evitou-se atirar em ‘Negrito’, mas o trabalho para recapturála foi exaustivo e cheio de perigos. Por volta de meio-dia e meia, todos já
estavam ficando exaustos e desalentados, quando o domador ‘Capitão
Álvaro’, usando o laço com habilidade, conseguiu imobilizar a fera.
Sangrando um pouco no focinho, ‘Negrito’ voltou à jaula, vigiada, agora,
com atenção redobrada”.
Porque a mobilização de tantas forças? Por que tamanho aparato
bélico?
Lá não estaria a “santa” Aparecida para proteger os habitantes da
cidade onde se instalou o seu trono? Não é ela a “incomparável”
protetora?
Acaso assustara-se a Cidoca com os 2 metros de altura e os 480
quilos de peso da fera, que come, por dia, 40 quilos de polenta, 20 de
maçãs, 5 de verduras e um litro de mel?
A “incomparável” protetora nem se apiedou do pobre veadinho
campeiro estraçalhado pela ursa que, na hora da fuga, o arrancou da
jaula.
Porque nenhum aparecidense confia realmente na “santa”, o alívio
só aconteceu quando todos se certificaram do reenjaulamento do
animal feroz.
A Senhora Aparecida, no entanto, foi desmoralizada na sua
impotência com a manchete de alguns jornais: “Ursa causa três horas
de pânico” (O Estado de S. Paulo, de 24 de setembro de 1968); “Diabo
esteve à solta 3 horas em Aparecida do Norte” (Diário da Noite, de igual
data).
Em Aparecida se concentram, por ser excelente mercado,
numerosos vendedores de bilhetes de loteria federal. Preferem os
devotos-romeiros fazer a sua fezinha na SANTACAP porque, quem sabe,
o palpite será abençoado pela “incomparável” Senhora com sorte
grande. No dia da fuga de ‘Negrito’, todos os gasparinos foram vendidos
e os bilheteiros ficaram impossibilitados de atender o enorme volume da
procura. O resultado da loteria, porém, desapontou os apostadores: não
“deu urso”!
A SANTACAP é o reduto da idolatria com todas as suas trágicas
consequências.
Como IDOLATRIACAP é ROUBOCAP. EXPLORAÇÃOCAP.
MISÉRIACAP. PROSTITUIÇÃOCAP. DESGRAÇACAP.
Os ladrões e marginais agem dentro e fora da Basílica. Lá estão os
lanceiros batendo carteiras. E que autoridade têm os padres
redentoristas se querem coibir semelhantes crimes? Se eles exploram a
credulidade pública!
A exploração desbragada campeia no comércio. Nas lojas, inclusive
dos clérigos, o que controla o preço é a aparência do freguês, que nem
sempre consegue nota fiscal da mercadoria comprada.
Faz milagres a Senhora Aparecida? Por que, então, não purifica o
ar da sua cidade, empestado pelo mau cheiro exalado do Rio Paraíba,
onde se despeja o esgoto da cidade?
Porque ela não cura os miseráveis que se arrastam, mendigando,
pelas ruas, como opróbrio da humanidade? Será que tão dolorido
espetáculo não a comove?
Por que ela não faz o milagre de converter os padres em seres mais
humanos?
Por que ela não sensibiliza os seus devotos romeiros excitados
pelas raparigas, em número elevadíssimo, impedindo-os de entrar nos
bordéis, onde se corrompem os corpos com a sífilis e doenças venéreas?
Porque ela não regenera essas desgraçadas mulheres traficantes de
suas próprias carnes? Essas mulheres que se instalam em Aparecida
exatamente por ocorrer lá maior procura do que a oferta?
Sim! A responsabilidade de tantas misérias materiais e morais
recai sobre a idolatria, ensinada, divulgada, incrementada e explorada
pelo clero...
* * *
A Senhora Aparecida é uma “incomparável” ingrata! Permite que
recaiam sobre a sua cidade e o Vale do Paraíba as piores desgraças
justamente quando lhe são oferecidas as mais solenes homenagens.
Não se construiu a sua grande Basílica, um dos templos mais
soberbos do mundo?
O povo não tem aumentado as romarias em sua honra, quando em
multidões se prostra adorante aos seus pés?
Não lhe foi oferecida uma ROSA DE OURO, símbolo do seu título
de Rosa Mística e munificência do papa, o cognominado vigário de
Cristo na terra?
Para o seu culto o povo pobre não tira da miséria dos seus filhos?
Ingrata!!! Sim, ingrata, mil vezes ingrata que ela é!!!
No Vale do Paraíba nunca se ouviu falar em esquistossomose. Mas,
em 1953 – no ano seguinte ao início das obras da nova Basílica –
aconteceu o primeiro caso. E hoje a esquistossomose infesta todo o Vale
do Paraíba. A praga está ali debaixo dos olhos da “miraculosa” Senhora,
minando a saúde de milhares e milhares de pessoas.
Já em 1967, no ano da entrega da ROSA DE OURO, o Instituto
Adolfo Lutz, de Taubaté, informou haver na região da Senhora
Aparecida 2.161 casos comprovados de doentes de esquistossomose,
distribuídos da seguinte forma, cidade por cidade: Taubaté, 474;
Tremembé, 107; Pindamonhangaba, 500; Aparecida, 118; Roseira, 359;
Guaratinguetá, 40; Lorena, 7; Caçapava, 152; Jambeiro, 30; São José
dos Campos, 243; Santa Branca, 14; Jacareí, 4; Monteiro Lobato, 2;
Cachoeira Paulista, 2; Quiririm, 1; e Redenção da Serra, 5.
Note-se: A incidência do mal se acentua nas cidades mais
próximas de Aparecida. Roseira, a mais próxima, por exemplo, dentre
todas, se não é menor, é uma das menores. E, em 1967, apresentou
359 casos diagnosticados!
A ingrata recompensou a sua região, em 1968, logo depois de haver
recebido a rósea e áurea honorificência pontifícia, com uma longa seca.
Pelo seu poder de “incomparável Senhora”, se vinga dos devotos
valendo-se até da meteorologia. Em dezembro de 1967, a leitura mínima
do nível do Rio Paraíba foi de 2,66 metros. Em 1968, no segundo
domingo de dezembro, o rio tinha seu nível fixado em 1,50 metros,
caindo no dia 16 para 1,48 metros pela manhã e 1,40 metros à tarde.
A Barragem de Santa Branca, pertencente ao grupo Light (a grande
empresa de energia elétrica dos principais centros industriais e
populacionais do País: São Paulo e Rio de Janeiro) é uma das obras
reguladoras do Rio Paraíba. Seu objetivo é gerar energia nas usinas que
integram o aproveitamento do Ribeirão das Lajes, abastecendo várias
indústrias, como a Usina Siderúrgica Nacional, sediada em Volta
Redonda. Sua capacidade é de 424 milhões de metros cúbicos por
segundo e sua vazão média, no local da barragem, é de 78 metros
cúbicos por segundo. Em 1968, porque os índices pluviométricos foram
muito abaixo do normal, faltou água para cobrir aquela capacidade,
provocando enormes prejuízos às populações trabalhadoras da região e
ao próprio País.
Se a ingratidão da “santa” se revelou nessa longa estiagem,
manifestou-se também com o forte temporal desabado durante meia
hora depois, em 26 de dezembro de 1968, inundando toda a parte baixa
de Aparecida e derrubando, em consequência, muitas casas. Casas dos
pobres. Daqueles que conservam afixada na porta ou na parede da sala
de oração: “Oh, incomparável Senhora...”
Retribuiu a Senhora o início das obras de sua majestosa e
arquibilionária Basílica, em 1953, com o início da esquistossomose no
Vale do Paraíba, a proliferar assustadoramente. Que se cuidem as
autoridades sanitárias porque, da Senhora Aparecida, os seus devotos
só podem esperar ingratidão. Que se cuidem estas autoridades porque
de Aparecida as multidões de romeiros ávidos das “graças”, voltarão
para suas cidades levando, como desgraçado presente o vírus da
esquistossomose...
Retribuiu a Senhora a ROSA DE OURO com aquela longa estiagem
e com a tromba d’água.
Terá a ingrata retribuído também a criação de sua Arquidiocese?
É claro! Em 1958, o ano da instalação da Arquidiocese de
Aparecida, aconteceu no Vale um estado de calamidade pública com a
proliferação da raiva demosdina (semelhante à raiva canina, conhecida
também como “hidrofobia”). É uma doença infecto-contagiosa e se inclui
entre as zoonoses, isto é, transmite-se dos animais ao homem,
tornando-se letal. Primariamente, é transmitida por morcegos
hematófagos (que se alimentam de sangue). Pode, ainda, ser
transmitida por outras espécies de morcegos, como os insetívoros
(devoradores de insetos) e frugívoros (que se alimentam de frutos).
Uma das características do vírus é o seu tropismo especial pelo
sistema nervoso (aloja-se de preferência nos centros nervosos da vítima)
e, aí, em seu reduto preferido, não pode ser combatido e o enfermo
(animal ou pessoa) morre.
O único combate à enfermidade é o preventivo por meio de séria
profilaxia porque, uma vez manifestada, é impossível a sua cura.
Rebanhos de gado, em todo o Vale do Paraíba, ali nos redutos da
“milagrosa”, foram dizimados. Muitas famílias se cobriram de luto com
a morte de seus membros, embora, desesperadas, clamassem valimento
da ingrata “incomparável protetora”...
Em 1968, além da estiagem e da tempestade, os focos de
morcegos, portadores do vírus da demosdina, cooperaram com a
ingrata, cuja Basílica havia sido enriquecida com a ROSA DE OURO,
espalhando outra vez o terror nas regiões aparecídicas.
A Senhora Aparecida faz-nos lembrar o mandamento do Senhor:
“Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do
que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas
debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque
Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos
pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que Me
aborrecem, e faço misericórdia em milhares aos que Me amam e
guardam os Meus mandamentos” (Êxodo 20.4-6).
Deus não tem o culpado por inocente. “Não inocenta o culpado”
(Êxodo 34.7). E a Sua Glória não a dá a outrem. “A Minha glória não a
dou a outrem” (Isaías 48.11). Nem à Senhora Aparecida! E muito
menos à Senhora Aparecida!!!
A “santa” aparecida no Porto de Itaguassú, em 13 de outubro de
1717, foi um estratagema do falsário clérigo José Alves Vilela. A sua
trapaça, porém, foi tão mal feita que o clero, nesse legado de abusões,
não encontrou ainda elementos para transformar a fraude em matéria
de fé. Até mesmo para esconder a estátua disforme, cobre-a, de alto a
baixo, com um manto azul, preso com a coroa de ouro, o que lhe dá o
formato de triângulo.
Apesar de tudo, porém, vão os padres enganando o povo crendeiro.
A atitude favorável a essa devoção, por parte do clero, visa
exclusivamente a exploração comercial dos supersticiosos.
O monge beneditino Estevão Bettencourt, sócio desta empresa de
especulação da credulidade pública, afirma que “a bem da verdade,
deve-se notar que tal atitude favorável é independente de qualquer
pronunciamento da autoridade eclesiástica sobre a genuinidade dos
prodígios que se narram em torno da Virgem e do santuário de
Aparecida” (in PERGUNTE E RESPONDEREMOS – 71/1963, qu. 5).
“A bem da verdade...” Leiam-se de novo as declarações do monge
Bettencourt!
Que coisa!!! Os reverendos proclamam tanto a eficácia da devoção
à Aparecida de terra cota, divulgam os seus “milagres” e expõem, em
sala adequada, tantos ex-votos e não podem sair desta: nem esses
“milagres” merecem qualquer pronunciamento oficial sobre a sua
genuinidade...
Pestes, tempestades, doenças, secas, a “ingrata” não pode
impedir... E permite – o que é pior de tudo – sejam assim ludibriados
os seus devotos! É mesmo uma trapaça essa Senhora de terra cota!
Desde menino, ouvi muitas vezes da libertação de um escravo na
hora de ser preso ao tronco, retalhado com chicote em castigo de sua
fuga. Foi mentira! Isso não aconteceu.
Se quem nega a verdade desse episódio fosse um evangélico, logo
sofreria insultos dos carolas fanáticos. Mas quem diz ser isso uma
mentira, uma lenda fantasiosa, é o devoto Fred Jorge, em seu livro:
“APARIÇÃO E MILAGRES DE NOSSA SENHORA APARECIDA” (Editora
Prelúdio Ltda., S. Paulo, 1954). Este livro foi sacram entado com o
Imprimatur que, por delegação do cardeal e sob a chancela da Cúria
Metropolitana, lhe apôs o cônego J. Lafayette, posteriormente bispo
auxiliar da Capital de São Paulo e, em seguida, bispo diocesano
(“ordinário”) em Bragança Paulista.
Esse mesmo livro, sacramentado, indulgenciado e “aguabentado”
por um solene Imprimatur do ordinário paulista, diz que, “para
enumerar todas as graças concedidas seriam precisos muitos volumes
de milhares de páginas...” (página 20). Propõe-se Fred Jorge colher
alguns dentre aquela quantidade enorme, a fim de apresentá-los aos
leitores. Contudo, por falta de autenticidade e seriedade nesses tantos,
apresenta uns poucos apenas, esclarecendo a sua necessidade de usar
de fantasia (página 22).
É! Depois de tanta fanfarronada, confessa-se fantasmagórico!
Teve razão aquele padre da Basílica que, em princípios do ano de
1961, me disse, referindo-se à Aparecida: “Ela não tem valor algum. Nós
gostamos dela porque nos traz muito dinheiro”.
.oOo.
A IMAGEM EM PEDAÇOS E O
BENZIMENTO DE JOÃO PAULO II
Fred Jorge anunciou a necessidade de “muitos volumes de
milhares de páginas” para registrar a imensa quantidade de prodígios
efetuados pela santa aparecida.
A lenda relata o princípio deles quando da vinda portentosa da
“imagem verdadeira”. Diz a mistificação que, em outubro de 1717, num
inexcedível milagre, a imagem caiu dos altos céus à terra, nas águas
barrentas do Rio Paraíba. E não se quebrou, apesar de haver caído
dessa distância infinita, imensurável.
Ora, em maio de 1978 (veja bem, em 1978), duzentos e sessenta e
um anos após aquele portento, a referida imagem caiu do seu altar, de
uma altura de, no máximo, três metros. E se espatifou em 175 pedaços.
Segundo o noticiário dos jornais obtido dos próprios sacerdotes da
Basílica, foram CENTO E SETENTA E CINCO PEDAÇOS. Ela tem
apenas uns 40 centímetros de altura e se esfarelou em CENTO E
SETENTA E CINCO ESTILHAÇOS. Fragmentos de barro seco, de terra
cota... Essa a padroeira do Brasil! Incapaz de se preservar...
Bem que aquele sacerdote, tendo gracejado da minha crença na
Aparecida, foi claro: “Ela não vale nada. Tanto assim que, se cair do
altar, se quebra. É de barro!!!”
Com efeito, semelhante desastre desmascarou de vez o embuste.
Somente um fanático, um cego espiritual consegue prosseguir na
devoção à santa aparecida e esfarelada. Esses aparecidólatras fazem-me
recordar do Salmo 115.5-8: “Têm boca e não falam; têm olhos e não
vêem; têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas
mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da
garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos
neles confiam”.
Tornados inermes, são impossibilitados de abrir os olhos para
enxergar o absurdo de tamanha crendice.
Alarmaram-se os donos da Basílica. Às pressas, recolheram do
chão os cacos da santa espatifada. Impunha-se pelo menos salvar as
aparências. Dizem! Enviaram os reduzidos pedaços ao Museu de Arte
Moderna de S. Paulo, incumbindo-o de reconstituir a santa.
Remendada, colada, recomposta, retornou ao seu altar. Essa obra de
restauração é considerada outro prodígio. Não posso, contudo, acreditar
nessa reconstituição. Impossível juntar tantos e tão diminutos
fragmentos colocando-os todos nos primitivos lugares devidos. Trata-se
de outra mistificação consentânea com os hábitos multisseculares da
padralhada.
Afinal, recomposta, a santa em triunfo foi reentronizada no seu
lugar na Basílica.
Precisa ela prosseguir em sua ignóbil atividade de estupidificar
considerável parcela da população brasileira.
A “capital da fé brasileira”, a “estância religiosa” é igualmente um
centro turístico com muitas opções de lazer e divertimento, e inúmeras
oportunidades para os ladrões, assaltantes e punguistas, bem como
traficantes de toda sorte de jogos de azar. Com efeito, em todos os
grandes centros de romarias católicas do mundo inteiro se concentram
os larápios e as prostitutas.
Lá em Aparecida os sacerdotes tudo exploram, sem qualquer pejo
de extorquir os devotos. Desde um teleférico ao preço de 50 cruzados
por pessoa (em outubro de 1987) até a subida de elevador ao alto da
torre da Basílica, torre essa com 18 andares, ao preço de 10 cruzados
por cabeça. É o elevador mais caro do planeta. Donos de incontáveis
lanchonetes, restaurantes, instalações sanitárias, botequins, hotéis e
lojas de “lembranças”, os clérigos de Aparecida exploram
comercialmente muitos divertimentos para todos os gostos, a exemplo
do parque de diversões do porte do Playcenter da Capital de São Paulo e
um enorme circo montados dentro da área da Basílica Nacional.
Por haver gorado o projeto “Empreendimentos Nossa Senhora
Aparecida” (ENSA), lançado em 1967 pelo Cardeal Rossi, então
arcebispo de São Paulo abençoado, a Prefeitura de Aparecida quer agora
edificar um plano de menores proporções.
Esquecem-se o alcaide e os vereadores locais dos gravíssimos
problemas de estrutura, cuja superação exige urgência urgentíssima, e
se distraem com um plano de lazer. Na realidade, como se encontra a
cidade de Aparecida é um escândalo de miséria. Miséria de sanitários
integrados numa miserável e obsoleta rede de esgotos que despeja o
volume de detritos no Rio Paraíba, emporcalhando as águas onde fora
descoberta a imagem e que servem para dessedentar e envenenar a
população. Miséria de água porque, além de poluída, peleja por chegar
às torneiras através de um precário serviço hidráulico montado há 50
anos. Miséria de planejamento, a causa de subir colina acima o casario,
saturando desordenadamente a topografia.
Tendo desapropriado uma área de cinco alqueires, às margens do
Rio Paraíba, com um projeto, em sociedade com o FUMESTE e a
EMBRATUR, a Prefeitura projeta urbanizar e montar um variadíssimo
parque de diversões. Os sacerdotes da Basílica recusam qualquer
participação no investimento e o condenam, porque ele desvia
considerável parte dos romeiros fregueses de sua firmas comerciais.
Como não restaurar (?) a imagem da santa espatifada, objeto e
pretexto de tanta exploração religiosa e comercial? Ela há quase
trezentos anos está ardilosamente instalada numa posição geográfica de
fácil acesso para os habitantes dos maiores Estados da Federação: São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.
Vindo ao Brasil, onde passou duas semanas, em 1980, o romano
pontífice João Paulo II, aos 4 de julho, lá esteve, celebrou missa,
proferiu seu discurso e, erguendo em suas mãos papalinas a imagem
“milagrosa” reconstituída, traçando com ela o sinal da cruz, benzeu o
Brasil. Em seu exemplar daquela semana, a revista MANCHETE
estampou a fotografia do ato benzetório.
Pobre Brasil! Sobre ele a completar suas bênçãos malditas, João
Paulo II, a encarnação do anticristo, abençoa-o com ídolo aparecídico.
Aparecidado, poderia este País desfrutar de melhor sorte? País este que,
sob a imposição de uma lei desonesta e arbitrária, a partir desse ano de
1980, como marco inicial de uma série imensurável de desgraças,
guarda em homenagem culto à Senhora Aparecida o dia 12 de outubro
como feriado nacional.
Enquanto perdurar em nossa Pátria a aparecidolatria, nunca será
vitorioso o Brasil. Todas as desgraças sobre ele se abaterão. Todas as
derrotas. A miséria material e espiritual. A indolência. A jogatina. A
corrupção em acentuadíssima escala e em todos os escalões da
Sociedade. Os cambalachos na política e nas transações comerciais. A
roubalheira desbragada. O alcoolismo em impressionante ascensão. O
meretrício com volume incontível de mães solteiras, culpadas pelos
milhões de menores abandonados. A irresponsabilidade. A impunidade.
A irreprimível violência. A politicalha sórdida. As clamorosas injustiças.
As leis imoralíssimas. As autoridades corruptas. Tudo em espantosa
decadência...
“Não há rei que se salve com o poder dos seus exércitos; nem
por sua força se livra o valente” (Salmo 33.16). Nada deste mundo,
absolutamente nada, resgatará o Brasil desse báratro em
impressionante e irreprimível crescimento. Nem por meio dos “seus
exércitos”. Nem pela “muita força” de qualquer Presidente da República.
A santa Aparecida, espatifada e restaurada (?) é a sua Senhora. Em
franca e acintosa desobediência a Deus, o Brasil prefere uma Senhora.
Prefere contrariar a magnífica e divina Promessa: “Feliz a nação cujo
Deus é o Senhor” (Salmo 33.12). Recusando o Senhorio de Deus, que
os brasileiros arquem com o jugo da sua rebeldia!
* * *
É este capítulo, à guisa de posfácio, acrescentado nesta vigésima
edição deste livro. Vinte e um anos depois do lançamento de sua
primeira edição (aos 24 de junho de 1967) e quatorze anos do
lançamento da sua décima edição (aos 26 de setembro de 1974),
também ao ensejo de sua vigésima edição posta a lume em 12 de
outubro de 1988, exibindo recentes fatos e novas reflexões, louvo ao
Senhor Deus pelas centenas e centenas de almas, em resultado de sua
leitura, libertas da aparecidolatria e tornadas crentes genuínas em
Jesus Cristo que por Ele têm sido salvas.
O lançamento da presente edição, na data de 12 de outubro, o
feriado nacional em culto da Senhora Aparecida, outrossim é um gesto
de repúdio à lei arbitrária e imoral. Significa ainda a presença de
brasileiros que estremecem de verdade a Pátria e anelam vê-la
submissa a Jesus Cristo.