Não conheço o rapaz do vídeo, mas gostei dos argumentos dele. E, como ontem foi Natal, nada melhor do que falar sobre o assunto aqui no blog. Peço que o leitor primeiro assista ao vídeo e depois leia minha refutação abaixo:
De acordo com 1 Crônicas 24, o sacerdócio judaico era organizado em 24 divisões. Cada divisão servia duas vezes por ano, por uma semana, e esse sacerdote era da divisão de Abias (oitava ordem). Até aqui, tudo bem: o vídeo está correto.
O ano religioso judaico começava em Nisã (março/abril). Cada divisão servia uma semana, em ordem contínua. Como as grandes festas (Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos) tinham serviço conjunto de todas as divisões, a oitava divisão teria que servir entre o final de maio e o início de junho (primeiro turno) e entre o final de novembro e o início de dezembro (segundo turno).
O erro do narrador do vídeo talvez tenha sido ter se esquecido (ou não saber) que, durante as grandes festas, os sacerdotes trabalhavam em conjunto; portanto, nem o primeiro turno nem o segundo poderiam acontecer entre setembro e outubro, como dito no vídeo.
Alguns estudiosos indicam que a anunciação do nascimento de João ocorreu por volta de junho, então João teria nascido em março.
Lucas diz que Maria engravidou de Jesus quando Isabel estava no sexto mês; portanto, Maria teria engravidado em dezembro (e não concebido nesse mês), fazendo com que Jesus nascesse em setembro ou outubro.
Sem contar que dezembro, naquela região, sempre foi mês de muita chuva e frio — inclusive, até hoje, as agências de viagem aconselham a não visitar aquela região em dezembro. No entanto, o relato bíblico mostra que, no mês do nascimento de Jesus, havia pastores cuidando de rebanhos no campo, magos se guiaram por uma estrela no céu (que, na verdade, é um planeta) e ainda houve um censo naquela época.
Sabemos, pela lógica, que ninguém obrigaria as pessoas a se locomoverem por longas distâncias debaixo de chuva e frio; então esse censo não poderia ter sido feito em dezembro. Pastores não ficariam no campo debaixo do frio e das chuvas torrenciais de dezembro, e os magos não conseguiriam ver a tal “estrela” no céu com ele todo nublado.
A comemoração do Natal, ou seja, do nascimento de Jesus em 25 de dezembro, surgiu apenas no século IV. Antes disso, não há evidências de que os cristãos celebrassem essa data ou reconhecessem o nascimento de Cristo como uma festa anual.
Clemente de Alexandria, que viveu entre os séculos II e III, menciona que alguns cristãos de sua época tentavam calcular a data do nascimento de Jesus. Ele registra datas diferentes, como abril ou maio, e o faz com um tom claramente irônico, o que revela a ausência de consenso e até certo ceticismo em relação a essas tentativas. Em nenhum momento Clemente menciona o 25 de dezembro, o que indica que essa data ainda não possuía qualquer relevância cristã.
Tertuliano, também dos séculos II e III, escreveu extensamente sobre práticas e festas cristãs, mas nunca faz referência à celebração do nascimento de Jesus, o que reforça a ideia de que o Natal ainda não fazia parte da vida litúrgica da Igreja primitiva.
Tudo indica, portanto, que a institucionalização do Natal ocorreu de fato apenas no século IV, possivelmente em Roma, e pode ter sido influenciada pelo desejo de contrapor-se a uma importante festa pagã, o culto ao Sol Invictus, amplamente celebrado no Império Romano nessa mesma data.
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