domingo, 30 de dezembro de 2018

Darwin era racista? Darwinismo social



Se Darwin vivesse em nossos dias, nessa geração politicamente correta, provavelmente estaria atrás das grades fazendo companhia para o Lula. 

O que ele escreveu em seu livro The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex poderia facilmente lhe render um processo por racismo. No capítulo 6 desse livro, quando Darwin começa a falar sobre a cronologia do homem, ele afirma que as “raças superiores” exterminariam as “raças inferiores”.

 Para Darwin, o grupo de “raças inferiores” seria formado pelos negros, aborígines australianos e mestiços em geral. 


Aborígenes australianos em foto de 1939


Já a “raça superior” seria formada pelos brancos europeus, raça da qual o próprio Darwin fazia parte. 

Esse conceito de Darwin acabou sendo adotado por outros darwinistas. Thomas Huxley, um biólogo que ficou conhecido como o “Buldogue de Darwin” por ser defensor ferrenho da teoria da evolução, disse:


“Nenhum homem racional, conhecedor dos factos, acredita que o negro comum é igual, e muito menos superior ao homem branco” Thomas Huxley

Outro darwinista que defendia o conceito de raças superiores e inferiores foi Ernst Haeckel, um biólogo que ficou muito conhecido depois de ter falsificado alguns desenhos de embriões na tentativa de comprovar pressupostos darwinistas através da embriologia. 

Haeckel afirmou que: 


“No estado mais baixo do desenvolvimento mental humano estão os australianos, algumas tribos da Polinésia, os bosquímanos, os hottentots e algumas tribos negras”
 Ernst Haeckel


Haeckel também foi um exímio desenhista. Preste muita atenção no desenho abaixo. Ele foi feito por Haeckel e representa muito bem o pensamento darwinista daquela época. Para esses darwinistas os negros estavam quase que no mesmo patamar de um gorila, um chimpanzé ou um orangotango. 


Desenho feito por Haeckel


O Darwinismo Social 

Quando esse pensamento darwinista imundo foi implantado nas ciências sociais, criou-se o que chamamos de “darwinismo social”. 

O darwinismo social só serviu de base para coisas ruins, tais como a eugenia nazista, o racismo científico e o imperialismo. 


Adolf Hitler


Hitler foi um darwinista ferrenho que tinha o costume de ler jornais que pregavam o darwinismo social ( Hamann 2010, p. 233).

 É certo que o darwinismo social teve um peso inequívoco em sua concepção ideológica. Com base no conceito darwinista de raças inferiores e superiores, Hitler colocou em prática um processo de seleção rigorosa por meio da eugenia, onde pessoas consideradas inaptas eram eliminadas. 




O darwinismo social também serviu como base para o racismo científico (também chamado de racismo biológico), onde pessoas acreditavam ter evidências empíricas que justificavam o racismo (vide).

O imperialismo, por sua vez, justificava sua expansão e domínio territorial com o conceito darwinista de raças superiores e inferiores.  




Os europeus “superiores” se assenhoravam das terras dos africanos e asiáticos “inferiores” por considera-los “bárbaros” e incapazes de evoluir sozinhos. 


O absurdo


As ideias racistas de Darwin se tornaram tão populares que algumas pessoas chegaram ao cúmulo de prender um homem negro em uma jaula e exibi-lo num zoológico, como se fosse um animal. 


Ota Benga

Essa foi a triste história de um homem chamado Ota Benga, um pigmeu congolês que foi colocado dentro de uma jaula de macacos no Bronx Zoo, onde foi exibido como sendo “um estágio da evolução humana”.




Em sua edição de 6 de março de 1904, o Jornal St. Louis Republic afirmou que Ota Benga representava a forma mais baixa de desenvolvimento humano.

Falácia do darwinismo social


Alguns darwinistas saíram em defesa de Darwin e alegaram que os "crentes" estão usando de falácia ao associar Darwin e o darwinismo social. Segundo eles, o verdadeiro autor do darwinismo social foi o filósofo Herbert Spencer, o qual teria lançado as bases do darwinismo social  antes mesmo de Darwin ter lançado o seu livro A Origem das Espécies, onde divulgou seu conceito de seleção natural.

Acontece que o darwinismo social não foi algo que surgiu da noite para o dia. O conjunto de teorias sociais que chamamos hoje de darwinismo social foi desenvolvido entre os séculos XIX e XX, e as ideias de Darwin contribuíram e muito para a popularização e aplicação dessas teorias. Foi justamente o sucesso da teoria da evolução que motivou o surgimento de correntes nas ciências sociais baseadas na tese da sobrevivência do mais adaptado e da importância de um controle sobre a demografia humana (Wells, D. Collin. 1907. "darwinismo social". American Journal of Sociology. Vol. 12, No. 5, pp. 695-716)

Fontes sobre Ota Benga:

https://www.nytimes.com/2006/08/06/nyregion/thecity/06zoo.html?pagewanted=1&_r=1

https://alogicadosabino.wordpress.com/2008/05/10/ideias-tem-consequencias-a-teoria-racista-de-darwin/

Bradford, Phillips Verner; Harvey Blume (1992). Ota Benga: The Pygmy in the Zoo. Nova York: St. Martins Press



3 comentários:

  1. É evidente, claro, o apoio que se tem do darwinismo social na popularização, no meio científico, da teoria da evolução. Contudo, isso não implica em uma relação direta entre elas, o darwinismo social usou posteriormente as teses de Darwin em uma aplicação equivocada.

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    1. Não é uma aplicação equivocada. Na verdade, o conceito de raça superior vem antes mesmo do darwinismo, mas esse viés científico aplicado pelo darwinismo social, só serviu para alavancar tais idéias que já eram cultivadas por algumas culturas. Pra quem já leu "A Gênese" de Allan Kardec vai perceber que essa idéia de raça superior já era bem difundida antes mesmo do próprio Darwin.

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    2. Como foi dito por você, é anterior ao próprio Darwin essa tese, logo, não cabe atribuir a ele tal feito e, menos ainda, julgar a moralidade de seus argumentos, visto que o homem é fruto de seu tempo e acaba por ser incoerente julgar o pensamento de outras épocas pela moral atual. E da mesma forma que autores como Kant eram extremamente eurocentricos e racistas, isso não desqualifica suas teses, cabe as gerações futuras distinguirem o que é válido aos tempos atuais e o que caiu como tese inválida aos tempos atuais.

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