quarta-feira, 2 de julho de 2014

Lebres e coelhos ruminam?

ARGUMENTO: “A bíblia afirma que o coelho e a lebre ruminam (Levítico 11: 5-6). Será que o Deus bíblico não conhece a própria criação?”




Em primeiro lugar, é importante que o neo-ateu saiba que as palavras originais hebraicas “arnebeth” e “shaphan”, traduzidas como coelho e lebre em nossas bíblias, possuem significado incerto (etimologia obscura). Portanto, não se sabe ao certo se esses termos realmente representam os atuais coelhos e lebres. Os tradutores assim o estabeleceram, por julgarem mais conveniente.

 O mesmo aconteceu no caso do “beemote”, como comentei nesse artigo aqui.

Mas vamos supor que esses termos realmente estejam falando sobre as lebres e os coelhos atuais. Nesse ponto, encontramos um outro problema: o termo hebraico traduzido como “ruminar”, significa literalmente “elevar [ou levantar] aquilo que foi engolido”, e é o que, de fato, acontece no caso da lebre, tanto é que ela pode ser chamada de pseudo-ruminante.

Segundo o Dicionário Bíblico Imperial, o hábito da lebre, em repouso, de mastigar vez após vez o alimento que ingeriu algum tempo antes, sempre foi considerado popularmente como ruminar.
O que o povo hebreu do Antigo Testamento entendia por “ruminar”, não era o mesmo que a classificação científica moderna entende atualmente. O significado desse termo mudou com o tempo, assim como o significado de diversas palavras. A palavra "marechal", por exemplo, não significa atualmente o que significava antigamente. Em sua etimologia original, marechal significava apenas um "tratador de cavalos", mas atualmente essa palavra é usada em referência ao mais alto posto do exército. O sentido da palavra "ruminar" também mudou.

Portanto, não há base para se julgar a exatidão da declaração bíblica através da concepção restrita e relativamente recente do que é um animal ruminante. A observação das lebres e coelhos em anos mais recentes, contudo, indica que está envolvido mais do que a aparente ruminação.

François Bourlière escreveu:

"O hábito da 'coprofagia', ou de fazer o alimento passar duas vezes pelos intestinos, em vez de apenas uma, parece ser um fenômeno comum nos coelhos e nas lebres... No coelho selvagem, a coprofagia ocorre duas vezes por dia, e relata-se que a lebre européia tem o mesmo hábito... Crê-se que tal hábito provê esses animais de grandes doses de vitaminas B, produzidas por bactérias contidas no alimento que se acha no intestino grosso"(The Natural History of Mammals, 1964, p. 41).

A obra Mammals of the World acrescenta: "Isto pode ser similar à ruminação dos mamíferos ruminantes" (1964, Vol. 2, p.647).



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