Ateus militantes utilizam constantemente a passagem de Números 15:32 - 36 para apontar uma suposta contradição. O mesmo Deus que proibiu o assassinato, mandou matar um pobre homem só porque ele estava apanhando lenha no sábado. Essa passagem também é usada por eles para questionar o amor e a bondade de Deus.
Para compreendermos exatamente os porquês do ocorrido, devemos levar em conta o contexto da história, e não somente duas passagens isoladas, como os ateus estão fazendo.
Primeiramente é necessário compreender que as Leis mosaicas não eram somente um conjunto de regras religiosas (regras eclesiásticas), mas a própria Constituição da nação hebraica, onde se encontrava o conjunto de leis que regiam aquele povo. Lembre-se de que os hebreus viviam numa teocracia.
Leis são obrigações impostas à sociedade com a finalidade de controlar os comportamentos e ações dos indivíduos de acordo com os princípios daquela sociedade.
Como qualquer outro conjunto de leis, as Leis mosaicas também previam punições em caso de delitos (delitos = quaisquer ações e/ou comportamentos que infrinjam uma lei já estabelecida).
E em alguns casos, a punição era a pena de morte.
A lei sobre o sábado era bem clara:
"Seis dias se fará obra, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao SENHOR; qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente morrerá" (Êxodo 31:15).
Portanto a lei previa a pena de morte em caso de violação.
O descanso no sábado não tinha sido instituído por Deus apenas com finalidades cerimoniais. Havia também a intenção de fornecer aos trabalhadores, escravos e animais, um dia de descanso semanal, evitando assim o abuso na carga horária de trabalho (Êxodo 23:12).
O homem que foi pego recolhendo lenha no sábado estava violando essa lei, e portanto era passível da punição prevista pela mesma.
Isso não era maldade ou injustiça. Era apenas o cumprimento do que previa a lei. É importante que se entenda aqui que existe diferença entre o homicídio deliberado (que foi proibido por Deus), e a execução legal da pena capital pelo Estado (que foi o que aconteceu no caso do homem que violou o sábado).
Um exemplo que gosto de usar em meus debates com ateus militantes é o dos países que adotam a pena de morte.
Nos Estados Unidos, por exemplo, matar é crime, mas em pelo menos 32 Estados, o réu pode ser executado se for condenado à pena de morte. Ai surge o mesmo questionamento que os ateus militantes utilizam no caso da bíblia: como pode o Estado proibir o assassinato e, ao mesmo tempo, executar seus criminosos?
Isso ocorre porque o Estado é responsável pelo controle social, e por isso possui o direito jurídico de usar a força e de aplicar punições, o que no caso de alguns países, como os EUA, inclui a pena de morte. Portanto fica claro que a proibição do assassinato nesses países diz respeito ao homicídio deliberado, intencional, ilícito, e não às punições lícitas previstas em lei.
A mesma coisa ocorreu no caso dos hebreus!